Sempre que visito a Itália volto com a mesma sensação: uma vida não vai bastar. Numa área um pouco maior que o Rio Grande do Sul estão algumas das melhores coisas que a humanidade já produziu em termos de arte, arquitetura, moda, design, culinária, vinho… Ah! E a natureza também foi gentil com o país: os Alpes, o Mediterrâneo, os lagos… Minha mais recente descoberta foi a região do Piemonte, um éden verdejante a oeste de Milão, entre os Alpes e o Mediterrâneo. A seguir, cinco motivos cruciais para correr pra lá:
1. O turismo de massa ainda não chegou ao Piemonte – e dificilmente chegará
Estive a ponto de lamentar o fato de que, diante de tanta variedade, a grande maioria dos turistas que viajam à Itália se limite a visitar o trio Roma, Toscana e Veneza. Ao invés disso, agradeço às vedetes do turismo italiano por domarem como podem o estouro da boiada. Na sombra dos grandes hits, regiões como o Piemonte podem continuam na santa paz. O lugar é idolatrado à voz miúda por gente que se interessa de verdade por comer e beber bem, ciclistas atrás de desafios para suas panturrilhas em colinas com paisagens matadoras, e outros tipos bem específicos de visitantes, que muito dificilmente entrariam num ônibus de excursão.
2. O Piemonte é um lugar de pequenas atrações e grandes prazeres
A explicação para o item acima é que não há uma Veneza ou um Florença na região. O Piemonte tem vilarejos lindos e minúsculos, e um charme que vai se revelando em doses homeopáticas. Não existe uma rota clássica que o turista maluco se empenharia em ticar da lista. Não há ícones arquitetônicos tão evidentes que todos reconhecerão no Instagram. O lugar pede uma viagem calma, com tempo para longas refeições, degustações intermináveis, dormidinhas fora de hora e o direito irrevogável à preguiça.
3. Você verá os vinhedos mais belos do planeta (e tomará vinhos à altura)
“No Piemonte, principalmente na região do Langhe, você realmente enxerga os vinhedos do início ao fim”, disse a Patrícia Kozmann (brasileira que conhece profundamente a região e desenha roteiros finíssimos focados no vinho, que me levou pela mão nesta viagem). Não é exagero. As vinhas enfileiradas chegam a formar anfiteatros espetaculares acompanhando o relevo. Alguns vinhedos nos arredores de Barolo são quase verticais. E digo mais: qualquer foto que você veja dos vinhedos do Piemonte não fará jus à realidade (e isso não é uma desculpa por não ser uma fotógrafa genial). Vivendo na Europa há quinze anos, tendo viajado por diversas regiões vitivinicultoras por aqui e também no Novo Mundo, nunca vi nada tão belo em termos de vinhedos. Beleza à parte, a região produz o todo-poderoso Barolo, um dos vinhos mais nobres da Itália, e também Barbaresco, Barbera, além dos brancos Cortese, Moscato…
4. A culinária é de arrancar lágrimas
É uma aposta arriscada organizar a gostosura da comida italiana em um ranking. Mas o Piemonte garante lugar seguro entre as primeiras posições quando o assunto é boa mesa. Delicada e com influência francesa, a cozinha piemontesa se vale da proximidade com o mar e da qualidade dos produtos da terra – incluindo as míticas trufas (clique aqui para ler o post anterior) – para compor riquíssimas combinações “mar e montanha”. A carne é de qualidade espetacular e, entre um vinho e outro, você provavelmente topará com as melhores tábuas de frios da sua vida. Comi mais salame e panceta em uma semana de Piemonte do que em toda a minha vida. “Vai um salaminho?” acabou até virando a piada interna da viagem. Valeu a engorda dos quadris. A região também tem vários restaurantes estrelados pelo Michelin, como o Massimo Camia.
5. Hospedagem de charme é uma especialidade piemontesa
Se você está em busca de um hotel no campo com poucos quartos e muita personalidade, eis o lugar. Nos próximos posts, falarei de alguns deles.