Para começar, um pão de recheio úmido feito com a farinha “do senhor Valentim”, escoltado por uma pasta delicada de couves e manteiga da Ilha do Pico, nos Açores. Na sequência, uma couve recheada com pasta de pimentões que parecia uma obra de arte. Leve, delicada, crocante e linda.
O almoço sob os arcos de um edifício de quase 300 anos seguiu ainda com surpresas como o lombo de bacalhau grelhado com creme de alho e uma batata espiralada e dourada por cima; e o bife ao molho de pimentas que abraçava uma… melancia. É estranho. É delicioso.
Desde o mês passado o número 103 da Rua dos Bacalhoeiros funciona como a sala de estar do chef João Sá. Ali ele serve apenas o que gosta: alguns pratos vegan, outros vegetarianos, sempre criativos. É possível escolher a la carte ou optar pelo menu degustação, composto de cinco pratos (€ 42). O restaurante Sála é a mais recente novidade de um pedacinho de Lisboa que é, hoje, absolutamente imperdível: o Campo das Cebolas.
Mas nem sempre foi assim. Não há memória recente que não associe o Campo das Cebolas a uma zona degradada, caótica e sem graça de Lisboa. Este largo adjacente à Praça do Comércio, aos pés de Alfama, no coração do centro histórico lisboeta, esteve por décadas largado ao abandono e funcionava como uma terra de ninguém, uma área de estacionamento irregular, poeira e nada mais.
Então em 2015 a Câmara Municipal de Lisboa deu início a obras de recuperação da região. No meio do caminho, durante as escavações para construir um estacionamento subterrâneo, foram descobertos vestígios arqueológicos, as obras foram interrompidas e a confusão parecia não ter fim. Mas teve. Em abril deste ano, a cidade ganhou de volta uma área completamente restaurada e linda, que imediatamente passou a receber uma série de restaurantes, lojinhas e cafés incríveis.
Além do Sála, as novidades incluem a Cantina Zé Avillez, uma das mais recentes empreitadas do chef estrelado José Avillez – aqui uma versão informal de delícias portuguesas (croquete, bacalhau com broa, tártaro picante de carapau…); uma filial da L’Éclair, o mundo maravilhoso das bombas francesas; o charmoso café Basílio, “irmão” do Nicolau (na Baixa) e do Amélia (Campo de Ourique)… e a lindíssima loja da Benamôr, de cremes e produtos de beleza, fundada em 1925. Verdadeira heroína da resistência, a Taberna Moderna venceu a poeira das obras e continua brilhando (assim como os seus gins).
Além de passeios mais largos, uma boa área restrita apenas a pedestres, um gramado que pede um piquenique e um ótimo estacionamento subterrâneo, vale lembrar que a grande estrela local segue sendo a impressionante Casa dos Bicos, uma construção de 1523 de fachada pontuda inspirada em um palacete italiano, hoje sede da Fundação José Saramago. Do lado de dentro, o acervo é uma ode à vida e obra do mestre. Do lado de fora, uma oliveira guarda as suas cinzas em um tranquilo memorial.
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