Medieval Times
Meus amigos Luciana e Pedro, que moram em Amsterdã, foram logo avisando: “vamos sofrer um pouco, mas vai valer a pena”. É que o restaurante escolhido para o nosso jantar, Café de Klos, é um lugar essencialmente rústico. O estilo medieval não se aplica só à decór (se é que se pode chamar assim), mas também ao menu e ao atendimento. No meio da penumbra, o lugar não parecia estar tão cheio, mas o garçom fez cara de mau e grunhiu que teríamos que esperar pelo menos uma hora e meia. “É sempre assim”, explicou Pedro.
Por sorte, a “sala de espera” do Café de Klos é um pub do outro lado da rua. Atendido por outro ogro, o bar serve excelentes cervejas artesanais, como a Witte Ros. Aconteceu a mesma coisa duas vezes seguidas: pedi cinco cervejas para a tchurma, ele serviu o número que lhe deu na telha e colocou a culpa em mim por ter feito o pedido errado. Na terceira rodada, já sob os efeitos da cevada, dei uma surtada de leve (“eu pedi CINCO, e corto a minha jugular aqui na sua frente se você provar o contrário”) e o ogro finalmente sorriu. Foi um grande momento.
Ao contrário do previsto, em menos de meia hora fomos chamados à nossa mesa para iniciar o banquete cavernícola. Inteiro forrado de madeira, o lugar é escuríssimo e preenchido com móveis pesados e levemente encardidos. Se você é princesinha, melhor nem passar na porta, porque o negócio aqui é roer osso com a mão, dilatar as fibras do aparelho digestivo e ingerir calorias em quantidades que aplacariam a fúria de um urso grizzly. As estrelas do menu: costela de porco (€ 16,50), costela de porco defumada (€ 17,50) e costela de porco mista (normal e defumada; € 21,50), além de outros cortes de carne de macho (tipo T-bone steak de 650g). Levando em consideração que um prato dá fácil para duas pessoas de apetite normal, o lugar é baratíssimo para os padrões de Amsterdã. Pedimos um para cada – um exagero colossal.
MEU DEUS. Que coisa boa. A carne desfia na boca — daria para arrancá-la do osso com uma colher. Tenho uma capacidade científica de testar a qualidade de um defumado (se for muito pesado ou feito com aditivos, fico com enxaqueca na hora) e afirmo: é perfeito. Vale qualquer espera, qualquer atendimento tosco, qualquer quilo engordado.
Batata frita do sonho
Fico um pouco constrangida em contar que fiz essas duas descobertas gastronômicas na mesma tarde, com poucas horas de intervalo. Ou seja, antes de devorar meio quilo de costela de porco com cerveja, eu tinha acabado de liquidar o cone de batatas fritas abaixo. Looonge de mim tentar declarar a VleminckX como a melhor batata frita de Amsterdã. Mas foi a melhor batata frita de Amsterdã da minha vida. Pesquisei muito em blogs locais e, de fato, essa portinha que funciona desde 1957 está em várias indicações. Num horário X no meio da tarde, peguei uma bela filinha – o que quer dizer muita coisa. A batata é cortada em pedaços robustos, não é exageradamente crocante por fora e é extremamente macia por dentro. Há 25 tipos de molhos disponíveis! Me limitei a uma maionese clássica e caseira, suave e leve (se é que uma maionese pode ser leve). Delírio!
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