As calçadas de pedras portuguesas continuam as mesmas há séculos. O sobe e desce das colinas, desde sempre. Os bondes elétricos continuam a circular, assim como os elevadores públicos com ares de antigamente continuam a subir e descer o dia todo. As quitandas de bairro resistem bravamente em pleno século 21, as tascas seguem populares e a multidão à espera das fornadas quentinhas de pastéis de nata não diminui. O melhor de Lisboa não mudou. O resto… bem, o resto mudou. E mudou muito, para melhor.
Portugal está tão na moda que já virou clichê dizer que Portugal está na moda. E Lisboa, como principal porta de entrada, é também seu maior cartão de visitas. Não foi da noite para o dia que o mundo resolveu virar todos os holofotes para esta tripinha da Península Ibérica debruçada sobre as águas do Atlântico, mas é inegável: nunca houve tanta novidade, tanta badalação, tanto prêmio (de melhor cidade do mundo nos Design Awards da revista inglesa Wallpaper, um marco em 2017, a melhor cidade do mundo nos World Travel Awards nos últimos dois anos).
Novos museus, edifícios assinados por grandes arquitetos de fama mundial, um número cada vez maior de restaurantes estrelados pelo Guia Michelin, bares dedicados inteiramente a cervejas artesanais, gins e drinques elaborados, rooftops descolados, lojas incríveis, hotéis design, feiras de arte… a lista de boas novas é infindável e o reflexo vê-se nas ruas da cidade, cada vez mais cheias. Os franceses não param de chegar para ficar – os brasileiros, também não. Ingleses se multiplicam a cada esquina, quase na velocidade dos chineses, caso isso fosse geneticamente possível. Lisboa está cosmopolita, alegre, fervilhante. O melhor? O melhor de Lisboa não mudou nada. Ou quase.
QUANDO IR
O clima em Lisboa é agradável o ano todo, mas ainda melhor na primavera e no outono, quando as temperaturas são amenas e não costuma chover. Os meses de verão podem ser bem quentes, especialmente agosto, o mês oficial das férias na Europa, quando alguns estabelecimentos podem inclusive fechar as portas. Nessa época é tudo mais cheio e concorrido, mas é também quando costumam acontecer alguns animados festivais de música, caso do NOS ALIVE. O inverno não chega a ser gelado e as temperaturas quase nunca chegam perto de 0ºC, mas é a estação mais chuvosa, e o céu cinza pode se estender por dias.
COMO CHEGAR
A partir do Brasil, TAP, Azul e LATAM operam voos diretos para Lisboa. A TAP liga a capital portuguesa diretamente a 10 cidades brasileiras – são elas: Belém, Belo Horizonte, Brasília, Fortaleza, Natal, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. A LATAM voa de Guarulhos, assim como a Azul, que também opera via Campinas (Viracopos).
O Aeroporto de Lisboa é bem próximo ao centro da cidade. Um percurso de táxi vai custar cerca de € 10. Quem preferir driblar o famoso mau humor dos taxistas locais pode chamar um Uber, Cabify ou Kapten – atenção, neste caso será preciso se deslocar ao andar das partidas e ir até o estacionamento em frente ao terminal, usado para o embarque e desembarque de passageiros. Deixe para chamá-los quando já estiver no saguão, pois eles costumam estar por perto à espera.
Também é possível ir de Metro. A estação do aeroporto fica numa das extremidades da Linha Vermelha, que se conecta com as outras três que cobrem toda a cidade, além das linhas de trem, operadas pela CP, que comunicam a capital com os arredores e o resto do país. O bilhete unitário custa € 1,50. Por fim, há ainda o Aerobus, com três linhas que circulam o dia todo. Há diversas paradas intermediárias, sendo os pontos finais o Rossio (Linha 1), o Cais do Sodré (Linha 2) e Sete Rios (Linha 3). O bilhete apenas de ida custa € 3,60 (adulto) e € 2 (criança de 4 a 10 anos).
COMO CIRCULAR
É muito fácil e agradável circular por Lisboa. Estando no centro, boa parte das atrações na Baixa, Alfama, Chiado e Bairro Alto pode ser alcançada a pé. Cansa um pouco, por conta das ladeiras, mas as escadinhas, calçadões e praças fazem parte da experiência, assim como ascensores (elevadores) históricos, que ajudam a vencer grandes desníveis – os mais famosos são o de Santa Justa, projetado por um dos discípulos de Gustave Eiffel (o mesmo da torre de Paris), que liga a Baixa ao Largo do Carmo, no Chiado; o da Glória, que leva da Praça dos Restauradores ao Miradouro São Pedro de Alcântara, entre o Chiado e o Bairro Alto; e o da Bica, que faz o percurso da Rua de São Paulo, no Cais do Sodré, ao Largo do Calhariz, nos arredores do Largo de Camões, no Chiado.
Mais do que meios de transporte, os eléctricos (bondes) são verdadeiras atrações turísticas. Há seis linhas em operação, e duas delas são verdadeiros city tours: 28, que liga o Campo de Ourique ao Martim Moniz, passando pelo Chiado, pela Baixa e por Alfama; e 24, que vai de Campolide até a Praça Luis de Camões, passando pelo Príncipe Real, pelo Bairro Alto e pelo Chiado. O eléctrico 15 também faz uma rota popular, entre a Praça do Comércio e Belém – mas nem sempre os bondes são antigos, é comum serem trens modernos. O preço do bilhete avulso, comprado a bordo, é € 3.
Entre os meios mais convencionais de transporte público, há ainda os autocarros (ônibus) e o Metro, que tem quatro linhas e é ideal para vencer distâncias maiores (até o Parque das Nações, por exemplo). É possível comprar bilhetes avulsos ou, ainda, optar por passes diários e/ou pré-pagos. É necessário comprar um cartão Lisboa Viva ou 7 Colinas (€ 0,50) e fazer os carregamentos nas bilheterias. A Carris é a empresa que administra os transportes lisboetas.
Por fim, há os táxis e transportes alternativos como Uber, Cabify e Kapten, sempre ótimas alternativas. Os deslocamentos pelo centro raramente ultrapassam os € 5 ou € 10. Os tuk-tuks também já viraram a marca registrada da cidade. Para explorar os arredores da capital, a melhor alternativa são os trens que partem do Cais do Sodré (rumo a Cascais) ou da estação do Rossio (rumo a Queluz e Sintra). Importante: evite o carro enquanto estiver em Lisboa. O trânsito está cada vez mais caótico e estacionar pode ser não apenas complicado, mas também caro.
PASSEIOS
Baixa, Chiado e Bairro Alto
Estes dois bairros contíguos, no coração do centro histórico, são perfeitos para serem explorados a pé. A Baixa reúne algumas das praças mais emblemáticas de Lisboa, a começar pelo Terreiro do Paço, como também é conhecida a Praça do Comércio, que se abre lindamente para o Rio Tejo no Cais das Colunas, com seus degraus e duas colunas de mármore, já dentro da água. Ladeada por belas arcadas e fachadas amarelas do século 18, ela era a porta de entrada da cidade para quem chegava de barco antigamente. Dali o bairro se abre em um gracioso emaranhado de ruelas e fachadas em tons pastel a partir do Arco da Rua Augusta, que nos últimos anos foi aberto para visitação – é possível subir até o topo, aos pés da estátua, e ter uma bela vista de 360º dos arredores. Seguindo pela própria Rua Augusta, na sequência vai aparecer a Praça D. Pedro IV, também conhecida como Rossio (repare no padrão da calçada portuguesa, replicado em Copacabana, e na linda Estação do Rossio, de estilo neo-Manuelino). A partir dali, há outras duas praças incontornáveis: a da Figueira e a dos Restauradores.
Para subir a ladeira até o Chiado, vale embarcar num dos famosos ascensores da cidade. O mais emblemático é o Elevador de Santa Justa, uma estrutura de ferro projetada por Raul Mésnier, um dos discípulos de Gustave Eiffel, e inaugurada em 1907. Ele leva da Rua de Santa Justa até o Largo do Carmo, onde vale visitar as impressionantes ruínas do Convento do Carmo, parcialmente destruído no terremoto de 1755, que abriga um museu arqueológico. Outra boa maneira de chegar ao Chiado é embarcando no Ascensor da Glória, que leva da Praça dos Restauradores ao Miradouro São Pedro de Alcântara, um dos mais bonitos mirantes da cidade, que descortina lindas vistas do casario da Baixa com o Castelo de São Jorge ao fundo.
Uma vez lá em cima, é hora de passear pelas ruas do Chiado e do vizinho Bairro Alto e descobrir livrarias, confeitarias e lojas cheias de charme. Fica no Chiado o famoso café A Brasileira, onde está a estátua de Fernando Pessoa (e, provavelmente, uma pequena fila de pessoas para tirar fotos, ao lado de músicos e artistas de rua). Uma boa pedida é embarcar no Eléctrico 28 na Calçada do Combro, e seguir de lá até Alfama – o percurso é um mini city tour delicioso.
Alfama e Graça
Partindo da Baixa em direção a Alfama, logo se chega na Sé, a catedral de Lisboa, uma fortaleza construída em 1150 que escapou ilesa ao grande terremoto de 1755. A poucos passos de distância fica a Igreja de Santo António – o local exato onde um dos santos mais queridos da Igreja Católica teria nascido, em 1195, para depois se mudar para a Itália e ficar conhecido como Santo Antônio de Pádua (para quem não sabe, ele é o padroeiro de Lisboa e, à véspera do dia de seu falecimento, 13 de Junho, a cidade vive a sua maior festa do ano). Continuando ladeira acima Lisboa se abre em lindas vistas através de mirantes (chamados pelos portugueses de miradouros) como o de Santa Luzia e o das Portas do Sol.
Poucos programas podem ser mais interessantes do que se perder pelas ruelas e becos de Alfama, com suas quitandas com cara de antigamente e seus varais recheados de roupas coloridas nas janelas. Às terças e sábados vale dar uma espiada na Feira da Ladra, no Campo de Santa Clara, para vasculhar quinquilharias e antiguidades. Entre as atrações imperdíveis da região está o recém-reformado Campo das Cebolas, onde fica a incrível Casa dos Bicos, uma construção medieval que hoje abriga a Fundação José Saramago, além de vários restaurantes com mesinhas ao ar livre; o Panteão Nacional, onde está enterrada a fadista Amália Rodrigues; e o Castelo de São Jorge, erguido pelos mouros nos idos do século 11. Alfama é, ainda, o melhor lugar para se ouvir fado em Lisboa – aposte na pequenina casa Parreirinha de Alfama ou no Clube de Fado. Em ambos, o ideal é reservar uma mesa para jantar e acompanhar as apresentações de camarote. Para mergulhar no universo da música que é a cara de Portugal, não perca o Museu do Fado.
Enquanto ainda houver subida ainda há Alfama – e no fim chega-se no bairro da Graça, que mais parece uma cidadezinha do interior. Procure pelo Miradouro da Graça, no largo de mesmo nome, peça uma imperial (o chope português) e deixe o fim de tarde passar sem pressa.
Belém
Durante séculos e séculos, o bairro de Belém concentrou o legado da vertente mais gloriosa do passado português. Estão na região monumentos grandiosos como o Mosteiro dos Jerónimos, uma joia de arquitetura manuelina que começou a ser erguida em 1501, e em cuja igreja (onde hoje estão as criptas de Vasco da Gama e Camões) eram rezadas as missas antes de os navegadores se aventurarem em alto-mar, e a Torre de Belém, que exercia a função de defesa e controle das embarcações que adentravam o estuário do Rio Tejo carregadas com as riquezas provenientes do Novo Mundo.
O século 20 acrescentou pitadas da mesma história com o Padrão dos Descobrimentos, escultura que simula a proa de uma caravela com representações dos heróis daquela época (a vista lá do alto é incrível). E a vida naquelas terras para além da Ponte 25 de Abril seguia mais ou menos ligada à era de ouro das grandes navegações até 2016. Naquele ano, mais precisamente no mês de outubro, a superarquiteta inglesa Amanda Levete plantou ali, debruçada sobre as águas rio, uma construção futurista de metal em escamas que lembra a forma de uma duna. Da noite para o dia, o MAAT (Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia) passou a ser não apenas o grande cartão-postal de Belém mas de toda a Lisboa.
Nos últimos anos, a esteira dos novos ares trouxe, ainda, um edifício modernoso, que teve a participação do arquiteto brasileiro Paulo Mendes da Rocha, para abrigar o secular acervo do Museu dos Coches, uma coleção genial de carruagens da família real que, desde maio de 2017, está repaginada na casa nova. Completam a lista de imperdíveis na região o Centro Cultural Belém, ou simplesmente CCB, um complexo cultural que tem como estrela o Museu Coleção Berardo, com obras-primas de artistas como Pablo Picasso, Andy Warhol, Francis Bacon, Roy Lichtenstein e Anish Kapoor.
Parque das Nações
Este bairro mais afastado do centro, já nos limites da cidade, cresceu e se desenvolveu por ocasião da Expo 98 – por isso é, também, conhecido apenas como Expo. A Expo está para Lisboa assim como a Barra está para o Rio de Janeiro: não tem nada da personalidade da cidade, mas pode ser interessante para interesses específicos. Aqui, no caso, é para quem viaja com crianças. Ficam lá três atrações que as crianças adoram: o Oceanário, um dos maiores aquários do mundo; a Telecabine Lisboa, um teleférico que percorre a beira-rio; e o Pavilhão do Conhecimento, um museu interativo de ciências. Uma vez lá, vale ver de perto os traços ousados do arquiteto espanhol Santiago Calatrava na Gare do Oriente.
Outros museus
Comparando com outras capitais europeias, Lisboa não chega a impressionar no quesito museus, mas alguns deles merecem atenção, caso do Calouste Gulbenkian, cercado de gostosos jardins, cujo acervo inclui, de maneira cronológica, peças que vão do Egito Antigo ao Impressionismo. O Museu do Oriente, instalado em um antigo armazém de bacalhau em Alcântara, exibe os laços estreitos de Portugal com as ex-colônias asiáticas. E o Museu Nacional de Arte Antiga, na Lapa, é uma preciosidade abrigada por um bonito palacete do século 17, em plena Rua das Janelas Verdes. Os destaques do acervo ficam por conta das pinturas europeias e asiáticas e das artes decorativas. Para quem quiser mergulhar no universo da arte contemporânea em Lisboa, a jornalista brasileira Júlia Flamingo organiza todos os meses o Papo de Bigorna, passeios interessantíssimos e cheios de conteúdo com visitas a museus, galerias e exposições temporárias.
Jardins
Lisboa está recheada de verdadeiros oásis, perfeitos para um piquenique com calma em dias ensolarados. Num dos bairros mais charmosos e cheios de novidades da cidade, o Jardim do Príncipe Real tem café, quiosques para uma cervejinha rápida e bancos providenciais à sombra de árvores frondosas – o pit-stop perfeito entre o sobe e desce do Chiado e do Bairro Alto. Em frente à Basílica da Estrela, já quase no Campo de Ourique, o Jardim da Estrela tem parquinho infantil, café e até coreto à moda antiga. Uma graça. Mais no centro da cidade, onde começa a Avenida da Liberdade, o Parque Eduardo VII é uma grande mancha verde que costuma abrigar feiras e parques de diversão. Mas a melhor surpresa está reservada para o Jardim Bordallo Pinheiro, na região do Campo Grande, anexo ao Palácio Pimenta, que abriga o Museu da Cidade. Ali, uma linda área verde abriga esculturas gigantescas e surrealistas de Raphael Bordallo Pinheiro, um dos maiores ceramistas portugueses do século 19. São cogumelos, sapos, lagartos, vespas, cobras… Numa fonte, lagostas e caranguejos. Ah, os pavões que circulam livremente são de verdade!
ARREDORES DE LISBOA
Alguns passeios pelos arredores da capital portuguesa são especiais. É o caso de Cascais, onde se chega de trem a partir da estação do Cais do Sodré em cerca de meia hora. Além de praias incríveis, como a da pequena baía no centro e a Praia do Guincho, é uma delícia passear pelo centrinho histórico, pelo calçadão até a Boca do Inferno (procure pelo famoso cachorro-quente!) e visitar atrações como a Casa das Histórias Paula Rego.
Sintra, no alto da serra de mesmo nome, é outro destino imperdível, recheado de atrações de peso como o ousado e colorido Palácio da Pena, construído, no século 19, a partir de um mosteiro do século 16. Fruto da imaginação do rei D. Fernando II, é uma extravagância que mistura elementos românticos a manuelinos e mouriscos. É possível visitar os aposentos reais, a capela, as cozinhas, as salas de jantar, o salão de baile… Mais austero e dono de imponentes chaminés, o Palácio Nacional foi erguido durante o período de dominação árabe e recebeu as primeiras intervenções no século 13. Chama a atenção a sala dos brasões. Vale também visitar o Castelo dos Mouros e suas ruínas e muralhas que descortinam belas vistas da serra que se estendem até o mar. Por fim, a Quinta da Regaleira e seus mistérios são igualmente imperdíveis.
Sintra é também famosa por seus doces. Não dá para ir embora sem provar pelo menos dois deles: as suaves queijadas da Fábrica das Verdadeiras Queijadas da Sapa e os travesseiros da Casa Piriquita, feitos de massa folhada, recheados por um leve doce de ovos com gila, uma espécie de abóbora, e cobertos de açúcar. Também é possível chegar a Sintra de trem, numa viagem de 40 minutos – nesse caso, os comboios partem da Estação do Rossio.
A mesma linha para umas estações antes em Queluz Belas, onde fica o incrível Palácio Nacional de Queluz, erguido no final do século 18, que conta a história da família real que foi morar no Brasil. Ele tem elementos barrocos, rococós e neoclássicos, com interiores ricamente decorados, e é cercado de jardins impressionantes, de ares franceses. É possível visitar a sala do trono, a capela, o quarto que pertenceu a Carlota Joaquina…
Ainda na Serra de Sintra, mas de acesso um pouquinho mais complicado (o ideal é ir de carro), Azenhas do Mar é um programaço, especialmente com um almoço no restaurante Piscinas, debruçado sobre o mar. As cataplanas de frutos do mar estão entre as especialidades da casa (a de polvo é deliciosa). O melhor é que o restaurante não fecha entre o almoço e o jantar, o que faz dele a opção ideal para emendar com outra visita pelos arredores, sem se preocupar com horários.
Na outra margem do Tejo, Almada fica pertinho, à distância de um cacilheiro (como são conhecidos os barcos que atravessam o rio em direção a Cacilhas, a partir da estação do Cais do Sodré). Vale embarcar num deles (são apenas 10 minutos de travessia) e caminhar pela beira-rio até chegar a dois restaurantes deliciosos: Atira-te ao Rio, de comida mais variada; e Ponto Final, de receitas portuguesas superbem preparadas. As mesinhas ficam a poucos passos da água e a vista de Lisboa é arrebatadora. Mas atenção: o programa só vale a pena em dias quentes e ensolarados, pois só tem graça ficar ao ar livre. Reservar com antecedência é fundamental.
Também do outro lado do Rio Tejo, a Península de Setúbal reúne bate-e-voltas incríveis para quem está de carro. Há praias lindas, como a do Portinho da Arrábida e a de Galapinhos, já eleita uma das mais bonitas da Europa, passeios de barco e visitas a vinícolas – entre elas a José Maria da Fonseca (fabricante do famoso Piriquita) e a Quinta da Bacalhôa (que tem ainda uma bela coleção de arte que faz parte da visita, incluindo espetaculares azulejos ibéricos que decoram a sala de envelhecimento dos vinhos). Se a ideia for pegar uma praia, considere as da Princesa, da Rainha e da Fonte da Telha, na Costa da Caparica, e, um pouquinho adiante, a Aldeia do Meco.
COMPRAS
Lisboa não é Paris ou Nova York, mas também reúne as principais grifes do mundo para quem não cogita voltar pra casa sem umas comprinhas. A maioria das marcas internacionais está concentrada ao longo da Avenida da Liberdade – é o caso, por exemplo, da Louis Vuitton, da Gucci, da Prada, da Ermenegildo Zegna… mas também de marcas de dia a dia e de fast fashion como a COS, a Mango e a Massimo Dutti. O Chiado é outro polo de lojas ao ar livre, especialmente nos arredores da Rua Garrett. Há também grandes shoppings, caso do Colombo, das Amoreiras e do Vasco da Gama, na região do Parque das Nações. Para compras com a cara de Portugal e cheias de charme, vale, claro, privilegiar as marcas nacionais. Nesse quesito, a loja A Vida Portuguesa é, mais do que um destino de compras, uma atração turística imperdível. A unidade do Intendente, instalada na antiga fábrica de porcelanas Viúva Lamego, é a maior e mais completa delas.
ONDE FICAR
A experiência de Lisboa, e a consequente maneira de curtir e ver a cidade, está intimamente ligada ao bairro em que se hospeda. De astral universal, mais impessoal mas perto de tudo, a Avenida da Liberdade é um dos principais hubs da cidade – e concentra uma variada oferta, especialmente de grandes nomes da hotelaria. Estão lá, por exemplo, o Tivoli Avenida da Liberdade, com quartos elegantes, uma piscina que é um oásis e badalados bares e restaurantes; o Avani, também do grupo Minor Hotels, com seus ambientes coloridinhos; o Turim, mais simples e com uma boa relação custo-benefício; e o Heritage Avenida da Liberdade, instalado num simpático predinho azul de esquina, com ares de hotel boutique.
Para se sentir como em casa – ou, vá lá, hospedado na casa de um amigo, são ótimas opções o Alecrim ao Chiado, com quartos bem decorados em tons pastel que se abrem ora para a Rua do Alecrim, ora para a calma Rua das Flores; e a Casa das Janelas com Vista, numa ruinha calma do Bairro Alto. A vista, no caso, pode ser para o Tejo ou para o casario da cidade, e os quartos são pequenininhos (mas todos com o próprio banheiro).
Estrategicamente localizado entre o Chiado e o Bairro Alto, o Largo de Camões é o endereço de dois hotéis badalados: o Le Consulat, instalado no edifício que durante anos abrigou o Consulado do Brasil em Lisboa (dono de um ótimo restaurante e um bar famoso pelos coquetéis); e o novíssimo Bairro Alto Hotel, cinco-estrelas incrível e cheio de classe recém-reinaugurado depois de uma grande reforma. A poucos passos dali há, ainda, duas belas opções: o Memmo Príncipe Real, membro do selo Design Hotels e dono de uma piscina incrível cercada por um bar animado; e o Lisboa Pessoa Hotel, mais clássico, com 75 quartos em tons clarinhos onde cada canto é uma ode ao legado de Fernando Pessoa. Ele fica a poucos passos do Largo do Carmo, onde ficam as ruínas do Convento do Carmo, e tem um pequeno spa.
Há cada vez mais hotéis em áreas pouco óbvias da cidade. Dois bons exemplos são o novo 1908 Lisboa Hotel, em pleno Intendente, uma zona que foi reabilitada recentemente e está cheia de novidades; e o Palácio do Governador, em Belém, erguido na antiga residência do governador da Torre de Belém (e lá vem história…). Fica na mesma região, ainda, uma outra boa opção para quem quer mais tranquilidade fora do centro: o Altis Belém Hotel & Spa, a poucos passos do rio, dono de um restaurante que ostenta uma estrela Michelin (o Feitoria).
ONDE COMER
Impossível pensar em Lisboa e não pensar em bacalhau. De fato, há casas especializadas cujo menu é uma ode ao peixe mais famoso do país, presente há séculos à mesa. É o caso, por exemplo, da Casa do Bacalhau, onde o extenso cardápio traz diversas opções de pratos à base do peixe – inclusive entradas, caso das pataniscas e de um saboroso carpaccio.
Quando chega o verão, as sardinhas entram em cena e dividem a fama. Servidas em quase todos os restaurantes portugueses, elas brilham em ambientes como o Pateo 13, em Alfama, com suas simples e deliciosas mesas ao ar livre. Para acompanhar o peixe tradicionalmente servido grelhado e inteiro, batatinhas cozidas e salada de pimentões.
Mas a culinária lisboeta vai muito além dos estereótipos. Para provar delícias tipicamente portuguesas, são imperdíveis o Sinal Vermelho, no Bairro Alto, e o Solar do Presuntos, um clássico da Baixa, assim como o Gambrinus. Não se esqueça do polvo! Versões mais moderninhas, com direito a releituras e fusões, são a pedida na Tasca da Esquina, do chef Victor Sobral, e nas casas mais despretensiosas do chef José Avillez, caso do Cantinho do Avillez e do Bairro do Avillez (onde ficam a Taberna, mais informal, e o Páteo) – prove as esferas de azeitonas, que explodem na boca!
Do mesmo chef, mas para poucos e bons, o Belcanto é das poucas casas a ostentar duas estrelas Michelin no país. Durante anos ele reinou soberano na capital, mas, desde a última edição do guia, o posto é dividido com o Alma, capitaneado pelo chef Henrique Sá Pessoa. Os dois ficam no Chiado. Em ambos, espere menus a mais de € 100, pratos delicados, altas doses de técnica e refeições demoradas em torno de surpreendentes menus degustação.
No quesito mariscos, outra paixão lisboeta, é obrigatório ir à Cervejaria Ramiro – mesmo com as longas filas que podem se formar à porta. A culpa da fama é do saudoso Anthony Bourdin, que se declarou pelas receitas simples e certeiras preparadas pela casa. Percebes, bruxas, sapateiras, amêijoas, búzios e um sem fim de nomes que você provavelmente nunca ouviu falar brilham à mesa. Outra instituição local é a Marisqueira Uma, na Baixa, minúscula, concorrida e tradicionalíssima.
Nos últimos tempos Lisboa tem visto um sem fim de restaurantes de outras nacionalidades brilhar. Os orientais estão no topo da lista, e entre eles o Kanasawa é a estrela que mais reluz. Mas o chef Paulo Morais acaba de abrir uma opção menos exclusiva, visto que as refeições por lá servem menos de 10 comensais por noite e custam facilmente três dígitos por pessoa. Trata-se do ótimo Tsukiji, em Belém, com vista para o Mosteiro dos Jerónimos e belas surpresas. A melhor delas é a possibilidade de escolher um peixe fresco, na hora, e provar um menu degustação onde o chef o disseca em cinco etapas, aproveitando tudo – das escamas às vísceras, em receitas divinas. O Afuri, no Chiado, é especializado em ramens e, na pequenina Taberna do Mar, na Graça, tem até sushi de sardinha! Ali a culinária privilegia ingredientes portugueses, trabalhados com técnicas orientais. O resultado é surpreendente!
Quando a pedida é provar receitas criativas, bem executadas e com boas doses de técnica e sabor, pelo menos três restaurantes merecem atenção: o Sála, do chef João Sá, a poucos passos do Campo das Cebolas; o Boi Cavalo, instalado num antigo açougue de Alfama; e o Pesca, do chef Diogo Noronha, no Príncipe Real. É nesse bairro, aliás, que ficam duas das mais especiais pizzarias da cidade, para quando você quiser um gostinho de Itália: a Zero Zero e a In Bocca al Lupo – nessa última, todos os ingredientes são orgânicos.
Quando quiser comer bem tanto quanto ver e ser visto, três casas cumprem bem ambos os papéis: o Bistrô 100 Maneiras, no Chiado, já eleito pela revista Monocle o melhor restaurante do mundo (o que, verdade seja dita, teve uma bela dose de exagero, mas é preciso reconhecer o seu mérito); o SUD, em Belém, dono de um saboroso menu de sotaque italiano e de um bar com direito a piscina com vista infinita para o Tejo; e o JNcQUOI, em plena Avenida da Liberdade, onde o menu é variadíssimo e inclui de massas e risotos a bacalhau e carnes. Deixe um espacinho para a sobremesa, que podem ser os clássicos da Ladurée, a tradicional confeitaria francesa, dona de uma loja a poucos passos.
Os macarons, petit fours e tortinhas da grife, aliás, fazem a festa no salão de chá da marca que desembarcou na cidade em 2017, propondo uma alternativa aos incontornáveis pastéis de nata. Independentemente disso, vale provar as fornadas quentinhas que saem o dia todo na Manteigaria e na fábrica dos Pastéis de Belém, a poucos passos do Mosteiro dos Jerónimos. Para uma maior variedade de doces portugueses (leia-se ovos e açúcar nas mais variadas formas), vale passar pelas vitrines da Casa dos Ovos Moles em Lisboa e da Pastelaria Alcoa. Se estiver calor, boas novas: há cada vez mais e melhores sorveterias na cidade – ops, gelatarias.
Com status de atração turística, os mercados se proliferaram pela cidade nos últimos anos, e o mais famoso deles é, sem dúvida, o Time Out Market, na Ribeira. Ali, chefs estrelados propõem refeições rápidas ao lado de clássicos da cena lisboeta, com uma curadoria dos jornalistas da revista Time Out (que tem em Lisboa uma de suas melhores versões mundiais, obrigatória para quem quiser acompanhar o que está acontecendo de melhor na cidade). A fórmula deu tão certo que Lisboa está exportando o modelo para o mundo – acaba de ser aberto em Miami Beach um mercado nos mesmos moldes. Campo de Ourique também tem a sua versão de mercado gourmet, embora com modéstia, e o El Corte Inglés idem – o sétimo andar da loja de departamentos reúne belas opções de restaurantes, cafés e mercadinhos de delícias em uma ampla e fina praça de alimentação.
DOCUMENTOS
Quem viaja para a Europa a turismo pode ficar até 90 dias sem necessidade de visto e precisa ter o passaporte válido por pelo menos seis meses. O grupo de países que integram o Espaço Schengen, do qual Portugal faz parte, exige, ainda, um seguro de viagem com cobertura de pelo menos € 30.000.
DINHEIRO
A moeda de Portugal é o Euro. Evite levar dólares ou outras moedas, pois as casas de câmbio já não são muito comuns (e costumam cobrar taxas salgadas). É possível sacar dinheiro da conta corrente no Brasil em moeda local nos caixas automáticos (chamados Multibanco), por uma pequena taxa – apenas certifique-se de que o seu cartão está habilitado para a função (pode ser necessário fazer desbloqueios ou os chamados “avisos de viagem”). Nem todos os estabelecimentos portugueses aceitam cartões internacionais, sejam eles de débito ou crédito. É comum só aceitarem os cartões bancários nacionais. Na dúvida, vale ter sempre algum cash.