Continua após publicidade

Cambará do Sul: cânions Fortaleza e Itaimbezinho, hotéis, restaurantes

Por Bárbara Ligero
Atualizado em 22 jul 2024, 10h03 - Publicado em 15 jul 2024, 18h00

Transformar-se momentaneamente em um pássaro e sobrevoar os cânions era um desejo bastante comum para quem já esteve nos Parques Nacionais dos Aparados da Serra e da Serra Geral, na região de Cambará do Sul. Agora, o desejo virou realidade. 

A materialização desse sonho surgiu em 2023 com a instalação de uma tirolesa de 720 metros de extensão que passa por cima da fenda do cânion Fortaleza. Testei e garanto: a sensação de pequenez de quando eu estava na borda do cânion se transformou em arrebatamento enquanto eu voava sobre o abismo. Se não quiser mais spoilers, pule o próximo parágrafo.

Depois de percorrer o primeiro terço da tirolesa, aparecem como mágica cachoeiras impossíveis de ver senão sobrevoando. Ainda tive a sorte de estar ali em um dia de sol, que formava vários arcos-íris ao redor das quedas d’água. Um sonho lindo de viver. A brincadeira tem o seu quê de adrenalina, claro: os cabos ficam a 750 metros do chão e você pode atingir até 30 km/h. Mas a experiência é principalmente contemplativa e fiquei impressionada por ter durado coisa de cinco minutos, o suficiente para admirar cada detalhe daquele visual (o tempo de descida depende do seu peso corporal, da intensidade e direção do vento, ou seja, a travessia pode durar até uns bons 10 minutos).

Cânion Fortaleza, Cambará do Sul, Rio Grande do Sul, Brasil
Nova tirolesa sobrevoa a imensidão do Cânion Fortaleza (Urbia/Divulgação)

A tirolesa é uma das novidades implementadas pela Urbia, que recebeu a licitação para gerir os parques nacionais em 2021 — a mesma empresa que atualmente administra o Parque Ibirapuera e as Cataratas do Iguaçu. De lá para cá, também foram feitas melhorias nos mirantes, nas trilhas e nas sinalizações. Por outro lado, o acesso aos dois principais cânions da região, Fortaleza e Itaimbezinho, passou a ser cobrado e o valor do ingresso é motivo de descontentamento entre moradores e empresários do município. 

Outra reivindicação importante dos locais está relacionada às condições ruins da rodovia RS-427, que liga Cambará do Sul aos Parques Nacionais dos Aparados da Serra e da Serra Geral e ao município vizinho de Praia Grande, já em Santa Catarina. Contei vários cartazes pedindo pelo asfaltamento ao longo da estrada de chão batido e com muitas pedras, que de fato maltrata a suspensão e a lombar, além de alongar trajetos que poderiam ser bem mais rápidos. 

As demandas são justas, mas não tiram o encantamento dos viajantes em conhecer a maior cadeia de cânions do Brasil. O título de maior do mundo fica para o norte-americano Grand Canyon, mas enquanto por lá a paisagem é árida, aqui os desfiladeiros são tingidos pelo verde da Mata Atlântica e ainda vêm com cachoeiras de brinde. 

O QUE FAZER EM CAMBARÁ DO SUL

Para conhecer o Fortaleza e o Itaimbezinho, é preciso comprar um único ingresso que custa R$ 97 e dá direito a três acessos, em qualquer um dos cânions, durante um período de sete dias (compre aqui). Em cada cânion há diferentes opções de trilhas, que em geral são de nível fácil e intermediário.

O acompanhamento de guia não é obrigatório, mas recomendado. Fiz todos os meus passeios com o Marco Guimarães da Coiote Adventure, que conhece a região como a palma da mão e sugere as trilhas que mais se adequam aos interesses e o tempo à disposição.

Cânion Fortaleza, Cambará do Sul, Rio Grande do Sul, Brasil
Paisagens do Cânion Fortaleza podem ser acessadas por trilhas fáceis e bem sinalizadas (Bárbara Ligero/Viagem e Turismo)

Cânion Fortaleza

Maior do pedaço, o impressionante Cânion Fortaleza possui 7,5 km de extensão, 2 mil metros de largura e 900 metros de profundidade. Há quatro opções de trilhas que permitem admirar sua vastidão de diferentes ângulos. 

A Trilha do Mirante (1h ida e volta) é a que leva para o ponto mais alto do cânion e, por isso, a que proporciona a melhor vista: em dias claros, é possível ver até o litoral gaúcho. A caminhada é fácil e só fica um pouco mais cansativa no final, por causa da subida. Atualmente, existe a possibilidade de descer de tirolesa, que em dias sem neblina permite ver cachoeiras escondidas dentro da fenda (custa R$ 220; reserve aqui).

A Trilha do Quebra-Cangalha (4h ida e volta), reaberta em 2023, é uma continuação da Trilha do Mirante e também tem as vistas como destaque. 

Cânion Fortaleza, Cambará do Sul, Rio Grande do Sul, Brasil
Trilha do Mirante, no Cânion Fortaleza: plaquinha motivacional e o litoral gaúcho no horizonte (Bárbara Ligero/Viagem e Turismo)

Na Trilha da Pedra do Segredo (1h ida e volta), a grande atração é uma rocha de cinco metros de altura equilibrada na beira de um precipício.

O percurso mais completo é a Trilha do Borda Sul (3h ida e volta). A caminhada começa na Pedra do Segredo; passa pela Cachoeira do Tigre Preto, com 250 metros de altura; e vai margeando a borda do cânion até chegar ao Mirante.

Cânion Itaimbezinho

O Cânion Itaimbezinho é menor que o Fortaleza: tem 5,8 km de extensão, 200 metros de largura e 720 metros de profundidade. Mas isso não diminui o seu encanto, que fica por conta da vegetação mais densa e da presença de duas bonitas cachoeiras, a Cascata das Andorinhas (300 metros de altura) e o Véu da Noiva (500 metros de altura). 

A Trilha do Vértice (1h30 ida e volta)  proporciona uma boa visão de ambas e o percurso é fácil e plano. É possível estender o passeio até o Café do Vô Marçal e Artesanato Vó Maria (leia mais em ‘Onde comer em Cambará do Sul’).

Cascata das Andorinhas, Cânion Itaimbezinho, Cambará do Sul, Rio Grande do Sul, Brasil
O Cânion Itaimbezinho e, no canto inferior direito, o início da queda da Cascata das Andorinhas (Bárbara Ligero/Viagem e Turismo)

Já a Trilha do Mirante do Cotovelo (3h ida e volta) passa apenas pelo Véu da Noiva, mas chega até um mirante que proporciona vista dos paredões do Itaimbezinho com o Rio do Boi passando no meio.

Véu da Noiva, Cânion Itaimbezinho, Cambará do Sul, Rio Grande do Sul, Brasil
Véu da Noiva é destaque nas duas trilhas pelo Cânion Itaimbezinho (Bárbara Ligero/Viagem e Turismo)

Trilha do Rio do Boi

Outra atração local é a Trilha do Rio do Boi (7h ida e volta), que também é gerida pela Urbia, mas deve ser paga à parte: custa R$ 97 (compre aqui). Por se tratar de um passeio mais longo e desafiador, é obrigatório contratar um guia (veja a lista completa de condutores credenciados aqui). 

O percurso é pela lateral do Rio do Boi, que corta o Cânion Itaimbezinho, e a graça está justamente em ver os paredões rochosos de baixo. Pelo caminho, há paradas para banho em piscinas naturais e cachoeiras. 

Prepare-se para a possibilidade de se molhar. A maior parte do caminho é por pedras secas, mas é preciso atravessar algumas vezes o rio e, dependendo da quantidade de chuva, a água pode passar da altura dos joelhos. Em dias de cheia, por questão de segurança, o passeio pode ser cancelado.

Atenção: o acesso à Trilha do Rio do Boi é pela cidade vizinha de Praia Grande, em Santa Catarina, mas as agências também oferecem o passeio saindo de Cambará do Sul

Trilha do Rio do Boi, Cambará do Sul, Rio Grande do Sul, Brasil
A Trilha do Rio do Boi exige mais preparo físico, mas recompensa com visual das fendas a partir do chão (Nilton Firma/Wikimedia Commons)

Cascata dos Venâncios

O Rio Camisas forma, dentro da Fazenda Cachoeira, quatro exuberantes quedas d’água chamadas conjuntamente de Cascata dos Venâncios. Uma trilha leve de 200 metros leva até o poço, que é próprio para banho. A entrada custa R$ 25 e pode ser paga no local. O acesso à fazenda é por estrada de terra com muitas pedras.

Cascata dos Venâncios, Cambará do Sul, Rio Grande do Sul, Brasil
Cascata dos Venâncios fica entre Cambará do Sul e o município vizinho de Jaquirana (Rodrigo Alexandre Geyer Kaspary/Wikimedia Commons)

ONDE FICAR EM CAMBARÁ DO SUL

A principal hospedagem de Cambará do Sul é o Parador, eleita a Melhor Pousada de Serra pelo Prêmio VT 2023/2024. O lugar, que inaugurou o estilo glamping no Brasil no início dos anos 2000, evoluiu para um hotel de charme com acomodações românticas, piscina de borda infinita e gastronomia de primeira. Veja um relato completo de como é se hospedar por lá.

Parador, Cambará do Sul, Rio Grande do Sul, Brasil
Parador inaugurou em 2021 os “casulos”, acomodações com banheira de hidromassagem na varanda (Bárbara Ligero/Viagem e Turismo)

Para além do Parador, a infraestrutura hoteleira de Cambará do Sul melhorou muito nos últimos anos.

Uma novidade bem no centro da cidade é a pousada Refúgio dos Coiotes, que pertence à agência de passeios Coiote Adventurers. O destaque fica para os quartos da categoria “família”, que possuem sala de estar com lareira, cozinha compacta e dois dormitórios separados. 

Ver essa foto no Instagram

Uma publicação compartilhada por Refúgio dos Coiotes | Pousada (@refugiodoscoiotes)

Outra opção nova no centrinho é a Pousada Serra Verde, com um elogiado buffet de café da manhã.

Também vem crescendo a oferta de hospedagens de aluguel de temporada espalhadas pelos arredores, como chalés, contêineres, domos geodésicos e outras construções charmosas

Busque mais opções de hospedagem no Booking e no Airbnb.

ONDE COMER EM CAMBARÁ DO SUL

Aos poucos estão surgindo mais opções gastronômicas em Cambará do Sul. O destaque da cidade é sem dúvidas o restaurante Alma, que fica dentro do Parador, mas também recebe não-hóspedes para o almoço e o jantar. O menu assinado pelo chef Rodrigo Bellora traz pratos do cotidiano gaúcho preparados com ingredientes da estação no forno e no fogão a lenha. Aos sábados e às quartas-feiras, o almoço é um rodízio de churrasco gaúcho.

Alma, Parador, Cambará do Sul, Rio Grande do Sul, Brasil
Delícias do almoço no Alma: o trio macarrão, galeto e polenta; strogonoff; e PF com bife a cavalo (Bárbara Ligero/Viagem e Turismo)

No centro da cidade, uma novidade é o Fogo, Brasa e Sabor. O antigo Restaurante do Lago, que tinha as trutas como carro-chefe, está agora sob o comando de Marcelo Sartori, que já foi gerente do Parador e mudou o foco do estabelecimento para as carnes, muito elogiadas. O salão tem vista para um lago.

Ver essa foto no Instagram

Uma publicação compartilhada por Fogo, Brasa e Sabor (@fogobrasaesaborrestaurante)

O Casarão, também conhecido na região como “Galeteria do Padre” e “Restaurante do Padre” por ficar na Rua Padre João Francisco Ritter, permite escolher entre o rodízio de truta e o rodízio de galeto com polenta e queijo. A opção escolhida chega na mesa e os clientes podem se servir à vontade em um buffet com saladas, massas, sopas e sobremesas. 

Uma opção com bom custo-benefício é o Galpão Costaneira, que fica em rústico galpão de madeira. No buffet livre de comida caseira, os clientes se servem direto das panelas de ferro colocadas sobre um fogão a lenha.

Não deixe de passar na Sabores da Querência, uma bonita casa com paredes de pedra, vigas de madeira e janelas de vidro do chão ao teto. Ótimo para uma fominha a qualquer hora do dia, o lugar serve quiches, focaccias, bolos, waffles e sorvetes artesanais. De quebra, dá para levar para casa uma das deliciosas geleias. Fiquei até triste quando acabou a minha de amora, mirtilo e framboesa.

Ver essa foto no Instagram

Uma publicação compartilhada por Geleias e Antepastos (@saboresdaquerencia)

Quando estiver visitando o cânion Itaimbezinho, faça uma pausa no Café do Vô Marçal e Artesanato Vó Maria. Há 80 anos, o casal Marçal e Maria ergueu, a algumas dezenas de metros do desfiladeiro, uma casinha de madeira que pouco mudou desde então. Lamparinas se encarregam da iluminação e o fogão é a lenha, mas hoje já há wi-fi para facilitar o pagamento por PIX. Isso porque os visitantes são recebidos na sala de estar, onde podem comprar peças de lã ou se sentar para tomar um cafezinho. De preferência, acompanhado de pastel recheado de pinhão, a especialidade da casa que é mantida agora pelos herdeiros de Marçal e Maria.

Casa do Vô Marçal: um cantinho que parou no tempo à beira do Cânion Itaimbezinho
Casa do Vô Marçal: um lugar que parou no tempo à beira do Cânion Itaimbezinho (Bárbara Ligero/Viagem e Turismo)

COMO CHEGAR EM CAMBARÁ DO SUL

Cambará do Sul é um município do Rio Grande do Sul, na divisa com Santa Catarina, que serve como porta de entrada para os Parques Nacionais dos Aparados da Serra e da Serra Geral. 

O aeroporto mais próximo é o de Porto Alegre (por ora, os voos estão pousando na base aérea de Canoas). Da capital gaúcha são cerca de 200 quilômetros e pouco mais de três horas de viagem. Pelo caminho há curvas acentuadas e o trecho final é em estrada de chão batido. A combinação exige atenção redobrada em caso de neblina, que é presença constante na região o ano inteiro. Vá devagar e prefira fazer a viagem durante o dia. 

O mais comum é ir com carro próprio ou alugado, que será útil para ir até os cânions e circular pelo centrinho de Cambará do Sul. A alternativa é contratar transfers e passeios em que os guias vão te buscar no hotel. Não há carros de aplicativo e a oferta de táxis é limitada (veja algumas opções no site da prefeitura). 

QUANDO IR PARA CAMBARÁ DO SUL

A neblina, que atrapalha muito a visibilidade dos cânions, pode surgir em qualquer época do ano em Cambará do Sul. Além disso, ela pode chegar e ir embora em questão de minutos. É difícil de prever: pergunte antes sobre as condições de visibilidade dos parques na pousada ou agência de passeio.

A tendência histórica é que a neblina ocorra nos meses mais quentes do ano, devido às taxas de umidade mais altas. Já os meses mais frios teriam clima mais seco e ensolarado, e, portanto, menos neblina. Mas não é uma ciência exata: peguei dias lindos e de visibilidade total dos cânions na última semana de novembro.

A alta temporada corresponde aos meses de junho a agosto, devido à temporada de inverno e às férias escolares.

QUANTOS DIAS EM CAMBARÁ DO SUL

No mínimo duas noites pela questão mencionada no item anterior. Se você chegar contando em fazer o passeio dos cânions no mesmo dia poderá bater com a cara na neblina. Fique pelo menos duas noites e torça para que o tempo abra.

Véu da Noiva, Cânion Itaimbezinho, Cambará do Sul, Rio Grande do Sul, Brasil
Neblina leve no Cânion Itaimbezinho. Em dias piores, a névoa pode impedir totalmente a visão da fenda (Bárbara Ligero/Viagem e Turismo)

 

Compartilhe essa matéria via:

 

 

Publicidade