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Roma: 4 roteiros a pé pelo centro histórico

Fontana di Trevi, Pantheon, Coliseu... Coloque um calçado confortável e dê uma pernada por mais de 60 atrações, divididas em quatro roteiros sem erro

Por Carlo Cauti
Atualizado em 23 Maio 2023, 13h14 - Publicado em 8 ago 2022, 17h42

ROTEIRO 1: A ROMA DOS FÓRUNS E A JUDAICA

Roteiro Roma, Itália

O ponto de partida é a igreja medieval Santa Maria in Cosmedin (1), que foi um presente do Papa Adriano I aos monges gregos refugiados em Roma. Ela fica na Piazza Bocca della Verità, que tem a mítica bocarra de pedra onde o turista enfia a mão. Segundo a lenda, mentirosos levam uma mordida. De lá, são só alguns passos até a Fontana dei Tritoni (2), encomendada pelo papa Clemente XI. Concluída em 1715 pelo arquiteto Carlo Bizzaccheri, representa tritões, filhos de Netuno, o deus do mar. Bem ao lado o viajante encontra o Foro Boario (3), sítio para entender a alma de Roma. Na Antiguidade, era nessa área, entre as colinas do Campidoglio (Capitólio) e do Aventino – duas das sete que deram origem à cidade -, que funcionava o mercado pecuário (boarium) e se armazenava sal, produto importantíssimo para conservar carne, tanto que os pagamentos eram realizados em sal (daí vem o “salário”).

Dê um pulo no Templo de Hércules e logo em seguida rume para a Ponte Rotto (4). Construída entre 181 a.C. e 179 a.C., a primeira ponte de pedra romana foi inundada pelo Rio Tevere duas vezes. Quando veio a terceira enchente, ninguém mais a restaurou, restando apenas um pedaço. Logo em seguida, o viajante dá de cara com a Isola Tiberina (5), ilhota para admirar o Rio Tevere sob o sol dominical. Vire à direita e chegue ao Tempio Maggiore (6): de 1904, a grande sinagoga guarda um museu da saga judaica em Roma. Em seguida, encontre o Giggetto (7), ao lado das colunas do Portico d’Ottavia. O ristorante sofisticado é celebre pelo carciofo alla giudia, alcachofra frita que é um prato típico da culinária judaica romana. Na mesma rua, o La Taverna del Guetto (8) é uma cozinha kosher servida em salas medievais ou na praça. Depois de comer, siga e encontre o Antigo Gueto Hebraico (9) onde, na Idade Média, o papa Paulo IV confinou a população judaica. Em 1870, quando Roma é anexada à Itália unificada, foi concedida a liberdade de culto aos judeus.

Templo de Hércules, Roma, Itália
O Templo de Hércules foi construído no ano 120 a.C. (Reprodução/Wikimedia Commons)

Vire à esquerda no sentido da Via Arenula e, após uma caminhada de cinco minutos, encontre o Largo di Torre Argentina (10), lugar onde Júlio César foi assassinado. Ele ostenta quatro templos, com colunas e dutos que conduzem até antigas termas. Depois, siga pela mesma rua e conheça a Camiceria Barcci (12), uma das alfaiatarias mais tradicionais de Roma, com preço acessível e que entrega para o exterior. Logo em seguida, o Teatro di Marcello (13), do ano 11 a.C., foi o mais pop até surgir o Coliseu. À esquerda, é admirável um fragmento do Templo de Apolo, mas este é fechado ao público.

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Vire à direita na Via del Foro Piscario e novamente à direita na Via del Teatro di Marcello até alcançar a Santa Maria della Consolazione (14). Com afrescos valiosos, a igreja está próxima ao Rupe Tarpea, monte onde haviam execuções. O Foro Romano (15) encontra-se a poucos passos dali. Hoje, um conjunto encantador de ruínas; ontem, o umbigo do império e símbolo do orgulho cívico da então capital do mundo. No verão, para driblar o sol forte, visite-o no começo da manhã ou no fim da tarde. Em San Teodoro (16), na latitude onde o santo foi martirizado, a igreja circular do século 11 está aos pés do Monte Palatino. A atração final deste roteiro é o Arco di Giano (17). Como Giano é o deus romano protetor dos “inícios dos caminhos”, aqui as tropas realizavam um ritual de purificação antes de rumar para as sangrentas batalhas.

ROTEIRO 2: COLISEU, VILLA BORGUESE E REGIÃO

Roteiro Roma, Itália

Este roteiro é um pouco mais longo e começa na Porta Pia (1). Os bersaglieri, ala do Exército famosa pelas penas de galo no capacete, entraram por esse portão em 20 de setembro de 1870 para libertar Roma do papa e unificar o país. Hoje, o Monumento al Bersagliere e um museu recordam o evento. Caminhe por cerca de três minutos na Via XX Settembre e prove o biscotto della nonna com cacau na sorveteria La Romana (2). Na mesma rua, a Santa Maria della Vittoria (3) é uma igreja barroca do século 17. O ângulo primordial é à esquerda do altar, onde reside a escultura O Êxtase de Santa Teresa, obra-prima escandalosa do craque Gian Bernini. Logo ao lado, à direita, encontre a Fontana dell’Acqua Felice (4). De 1585, é a fonte da estátua de Moisés. Continue pela Via Vittorio Emanuele Orlando para conhecer a Santa Maria degli Angeli e dei Martiri (5). Em 1561, o papa Pio IV incumbiu Michelangelo de transformar o meio das Termas de Diocleciano em igreja. Esse foi o último projeto arquitetônico do artista, que, sem mármore suficiente, imitou o material ao pintar a pedra – tente decifrar o que é mármore e o que é pedra.

Roma, Itália
A igreja Santa Maria degli Angeli e dei Martiri foi desenhada por Michelangelo a mando do papa Pio IV. (Reprodução/Wikimedia Commons)
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Após apreciar a obra de Michelangelo, siga pela Via Nazionale (6), que liga a Stazione Termini à Piazza Venezia. Rume pela Via Firenze e chegue no Teatro dell’Opera di Roma (7), que abriga óperas e balés. Siga o bochicho em direção ao obelisco egípcio, referência para encontrar a igreja Di Santa Maria Maggiore (8). Na praça de mesmo nome, a basílica barroca é point de mosaicos do século 5 e guarda um teto de ouro. Vire à direita pela Via Liberiana e, em seguida, à esquerda pela Via Cavour para chegar ao San Pietro in Vincoli (9), a morada de Moisés (1516), de Michelangelo, com seu olhar raivoso e seus cornos. A próxima parada é o Coliseu (10), a poucos passos dali. Símbolo máximo da Cidade Eterna, o local foi concebido pelo imperador Tito em 80 d.C. e inaugurado com “jogos” que duraram 100 dias e exterminaram 5 mil animais. Ao longo dos anos a arena também recebeu batalhas navais e massacres como os do filme Gladiador, de Ridley Scott. Quem tem o Roma Pass escapa da interminável fila aqui e em muitos museus. 

Siga pela Via dei Fori Imperiali (11), que tem a melhor vista do Foro Romano. Vá pela mesma rua para chegar ao Vittoriano (12), um megamonumento para Vittorio Emanuele II, o unificador do país. A três minutos de distância, encontre o Mercati di Traiano (15), conjunto de edifícios construído no século 2 que eram considerados modernos para sua época. A próxima atração é o Palazzo del Quirinale (16), localizado em uma colina homônima. Foi um pedido dos religiosos do Vaticano, em fuga da malária em 1574. Hoje, é a casa oficial do presidente.

Roma, Itália
O Palazzo del Quirinale é a casa oficial do presidente. (Reprodução/Wikimedia Commons)

Passe pela Via delle Quattro Fontane (17), um cruzamento com frenesi. Há quatro fontes, uma em cada esquina, que saem de quatro estátuas – representam os rios Tevere e Arno e as deusas Diana e Juno. Ande um pouco mais para chegar à Via Veneto (18), rua que além de ter sido canonizada por Fellini em La Dolce Vita (1960) possui hotéis belle époque e cafés. Evite os bares, caros e ruins. Ainda na Via Veneto, o Il Convento dei Cappuccini (19) usou ossos de centenas de monges para decorar toda a sua superfície. A poucos metros dali está a Porta Pinciana (20), que na era medieval marcava o início da Rota do Sal, que ia até o Adriático. A última parada pode ser a Villa Borghese (21). Neste parque ultrafamoso, bom para fugir do caos, romântico abbastanza é alugar um barquinho e navegar na lagoa em meio a obeliscos, fontes, zoológico e galeria, cuja fila é espantada com o precioso Roma Pass. 

ROTEIRO 3: DO PANTHEON AO PAPA FRANCISCO

Roteiro Roma, Itália

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O ponto de partida deste roteiro é a Galleria Alberto Sordi (1), uma galeria que foi construída no início do século 20. Após espiar vitrines como as de Damiano Presta, o Bernardo Bertolucci das gravatas, adentre a livraria La Feltrinelli e alcance o piso superior, onde um restaurante serve pasta densa como Anjos e Demônios, livro de Dan Brown que retrata a redondeza. O local está localizado na Piazza Colonna (2). Se você sentir sede, abuse de um dos nasoni (narigão), hidrantes com água potável oriunda de aquedutos que estão em cada esquina romana. Vale dar um a passadinha na loja Vittorio Bagagli (3), que vende artigos domésticos desde 1855. É só atravessar a rua, na Via di Campo Marzio, para chegar ao restaurante Achilli al Parlamento (5), que rende um bom happy hour e almoço.

Siga pela Via di Campo Marzio e visite a igreja Santa Maria Maddalena (6), um dos poucos e più belos exemplos do rococó romano. Cerca de três minutos de caminhada separam o santuário do Pantheon (7), situado na Piazza della Rotonda. Concebido em 27 a.C., o templo politeísta dos deuses da Roma Antiga tornou-se igreja cristã em 608. Se visitá-lo em dia de chuva, você verá um fenônmeno no oculum, o buraco no centro da cúpula – o ar quente no interior sobe e impede as gotas de caírem. Entre o Pantheon e a Piazza Navona, o Sant’Eustachio (8) é o mais famoso café de Roma, na encantadora praça homônima. Nas paredes, ex-frequentadores do naipe de Marcello Mastroianni e Jonh Kennedy. Ao lado, a igreja Sant’Ivo alla Sapienza (9) é um tesouro barroco menosprezado. Vá pela Via dei Sediari até alcançar a Piazza Navona, extraordinária, erguida sobre o que foi o Estádio de Domiciano, do século 1.

Roma, Itália
Concebido em 27 a.C., o Pantheon, templo politeísta dos deuses da Roma Antiga, tornou-se igreja cristã em 608. (Gabriella Clare Marino/Unsplash)

Atravesse a rua no sentido da Via della Pace e caminhe até igreja Santa Maria della Pace e Chiostro del Bramante (11), construída em 1482 a pedido do papa Sisto, no lugar onde uma imagem da Virgem teria sangrado. O complexo compreende o Chiostro, centro cultural com concertos e exposições. A parte superior reserva o afresco Le Sibille, de Raffaello. A próxima parada pode ser na Ponte Sant’Angelo (12), ponto de pausa para fotos bacanas. De lá, o Castel Sant’Angelo (13) é um antigo mausoléu do imperador Adriano, fortificado em 271 por Aureliano e se converteu em fortaleza. Por milhares de anos, os papas se refugiaram nele em tempos de crise através de uma passagem secreta que ligava aos quartos do Vaticano.

Atravesse a Piazza Pia e caminhe pela Via della Conciliazione (14): cheia de lojas religiosas, garante esplêndida vista da Basílica de São Pedro, especialmente à noite, quando a chiesa se ilumina. Ao final da rua, encontre Piazza San Pietro e Basílica (15). Contornada pelas colunas de Bernini, a praça reserva um acalorado discurso do papa Francisco a cada domingo, ao meio-dia. Ele fala da janela de seu apartamento na Basílica de São Pedro, o Coliseu das orações onde também mora a Pietà de Michelangelo. A entrada é grátis, mas são proibidos os decotes e shorts. A próxima parada pode ser o Musei Vaticani (16), que concentra as maiores filas de Roma, fintadas ao comprar o ingresso no site. No interior da basílica, que merece um dia todo, se veem a Galleria delle Carte Geografiche (com mapas), a Capela Sistina e as salas de Raffaello.

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Musei Vaticani, Città del Vaticano
Esculturas nos Musei Vaticani. (Andrea Zanenga/Unsplash)

ROTEIRO 4: FONTANA DI TREVI E ARREDORES

Roteiro Roma, Itália
Mapa do roteiro que passeia pela Fontana di Trevi e arredores. (Arte Estúdio VinteNove/Caco Neves/Viagem e Turismo)

A atração inicial deste roteiro é a Piazza del Campidoglio (1). Impresso nas moedas de € 0,50 o Campidoglio, epicentro da Roma Antiga, é a mais baixa das sete colinas. No século 17, ali brotou uma praça desenhada por Michelangelo. Como foi ordem da papa Paulo III, o artista tratou de providenciar que se posicionasse voltada para a Basílica de São Pedro, e não para o Foro Romano, transferindo de vez o poder da Roma dos césares à Roma papal. Sua escadaria, a cordonata, leva a gente ao topo, um descortinar memorável de uma Roma em tom ocre. Na mesma praça, os Museus Capitolinos (2) são dois edifícios gêmeos; os palácios Novo e dos Conservadores. La dentro, admire a Galata Morente, estátua do século 17. Siga pela mesma rua para alcançar a igreja Santa Maria in Aracoeli (3), uma das mais fascinantes, instalada no local onde Sibila Tiburtina teria profetizado a chegada de Cristo ao imperador Augusto. Subir sua escadaria causa prazer infalível, mas há ainda um elevador que conduz ao topo. Depois, a Via del Corso (4) é uma balbúrdia de turistas e romanos atrás de compras. Tem Gap, Zara, LP, suvenir e etc. 

Após as compras, encontre a Fontana di Trevi (5)Nada mais La Dolce Vita do que Anita Ekberg encenando e brincando nessa fonte parida por Nicolò Salvi em 1762. Sim, há o dogma que diz que voltará a Roma quem jogar uma moeda de costas – todos os dias, a prefeitura retira cerca de € 3.000, que são doados. Um truque é vê-la após o jantar, quando os turistas vão e as luzes vêm. A Piazza di Spagna (6) é um reduto de palmeiras, edificações em tons rosados e uma esplêndida escadaria, a Scalinata di Spagna, que de março a junho se forra com azaleias. 

Musei Vaticani, Città del Vaticano
A Fontana di Trevi é a maior e mais ambiciosa fonte de Roma. (Francesco Bruno/Unsplash)
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Do século 16, ideia do cardeal Medici, a Villa Medici (7) só abre para exposições especiais. De qualquer jeito, vá ao jardim. Passando pela Via Condotti (8), o visitante encontra uma panaceia para shopaholics luxuosos: tem Gucci, Prada, Armani… Logo depois, na Piazza Augusto Imperatore, o Mausoléu de Augusto (9) é o túmulo do primeiro imperador de Roma: alicerçado em 27 a.C., suportou invasões, incêndios saques e papas. Chegue então ao restaurante Gusto (10)Diante do mausoléu, tem uma boa happy hour, com taças de vinho e salgadinhos como suppli (bolinhos de arroz recheados com queijo). 

No número 19 da Via di Ripetta, a enoteca Buccone (12) é boa para jantar, já que a cantina vende vinhos em conta. São dois minutos de caminhada para chegar às igrejas Santa Maria dei Miracoli e Santa Maria in Montesanto (13). O duo de igrejas gêmeas divide o chamado tridente – Via del Corso, Via del Babuino e Via di Ripetta Domingo. Elas estão na Piazza del Popolo (14), conhecida como a praça do povo. Originalmente área de execuções, virou a belezura que é graças ao arquiteto Giuseppe Valadier, que pôs quatro fontes na base do obelisco egípcio de Ramsés II. Logo ali está a Basílica di Santa Maria (14), igreja que possui o dedo de vários mestres do Renascimento. Duas obras de Caravaggio pedem holofotes: A Conversão de São Paulo e A Crucificação de São Pedro. O destino final do dia pode ser a Piazzale Flaminio (15). Durante o exilio, Chico Buarque e Marieta Severo comeram o tomate que o diabo amassou, mas viveram nessa exuberante praça de Baccio Bigio, aluno de Michelangelo.

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