Uma polêmica mexeu com os restaurantes badalados da capital e seus clientes. A partir de um texto de Zeca Camargo publicado na Folha de S.Paulo constatando que comer bem em São Paulo era mais caro (e menos emocionante) do que em Paris e Nova York, surgiu um blog com pretensão de movimento, o BoicotaSP. Em maio com 50 mil fãs no Facebook, o BoicotaSP expõe preços de bares, restaurantes, padarias e tutti quanti que os usuários considerem extorsivos. Como os R$ 40 de um milk-shake da hamburgueria Meats ou a água de R$ 7 do restaurante Chez MIS. Proprietários rebateram com a argumentação previsível: impostos, aluguel e bons ingredientes custam caro. Com tudo isso, a VTSP decidiu adotar a postura positiva. Nesta edição, mostra como é possível ir a bons restaurantes, alguns deles estrelados, e gastar menos de R$ 50 por uma refeição completa. O segredo se chama “almoço executivo”.
Sim, só vale de segunda a sexta e, sim, é só almoço. Mas já é um começo. O Domenico (domenicoristorante.com.br) tem menu de três tempos por R$ 47; o Sal (salgastronomia.com.br), do chef e agitador Henrique Fogaça, aposta em salada verde, prato principal (às terças, filé à parmegiana; na sexta, olhete com farofa e mandioca) e sobremesa por R$ 42.
Outros chefs benquistos pelos foodies da cidade também usam a tática: Benny Novak propõe em sua Tappo Trattoria (tappo.com.br) que se escolha um prato do cardápio (a R$ 40 em média) para você levar de quebra entrada e sobremesa. No Brasil a Gosto (brasilagosto.com.br), Ana Luiza Trajano explora a cozinha afetiva em opções executivas a R$ 44, também com entrada e sobremesa. E o menu em três tempos do hype espanhol Clos de Tapas (closdetapas.com.br) sai a R$ 48. A seguir, nossos repórteres contam como é almoçar em restaurantes badalados onde se gasta menos de R$ 50.
Japa bem na foto
Para muitos bolsos, Kinoshita (restaurantekinoshita.com.br) é inalcançável. Pudera: o talento de Tsuyoshi Murakami, que pilota o melhor japonês do país segundo o GUIA BRASIL 2013, se desvela no menu degustação de R$ 330. Enquanto essa foi a escolha do casal ao meu lado, eu optei pelo Takê, sequência de R$ 49. A generosa salada com shiitake de entrada fez frente – acho – às porções in-ventivas de sushi dos vizinhos. Se o mesmo não se pode dizer de solitários três sashimis que vieram depois, compensou o frescor das postas de meca servidas com molho teriyaki, gohan e missoshiro. Ao final, uma minimalista sobremesa (frutas e um bolinho saboroso). O casal ao lado tirou mais fotos para postar no instagram, mas eu saí de lá tão certo do talento de murakami quanto eles. (Gustavo Simon)
Boa vizinhança
Apesar de morar perto do Arturito (arturito.com.br), eu havia cortado o vizinho careiro dos destinos de experiências gastronômicas que costumo chamar de “sexta-feira feliz”. Pois em uma sexta que queria muito feliz me dispus a mudar de ideia e fui almoçar por R$ 42. Comecei com folhas, abacate e parmesão. À pergunta “satisfeita?”, do maître, respondi com honestidade depois do namorado com legumes e ovo cozido de gema amarelíssima do main course, mas de maneira retórica após a sobremesa, uma bola de sorvete de baunilha que poderia ser maior. A conta no final deu R$ 46,20, com o serviço. Saí satisfeita e com a impressão de que já é hora de fequentar mais meus vizinhos. (Laura Capanema)
Mais que montagem
Torço o nariz para casas contemporâneas que privilegiam montagem deslumbrante em detrimento de sabor primoroso, mas arrisquei no bem frequentado Epice (epicerestaurante.com.br), pilotado pelo chef Alberto Landgraf, que tem ascendência nipogermânica, uma combinação que me parece gastronomicamente muito promissora. Das duas opções de cada etapa do almoço, fui de pupunha assado com vinagrete e brotos e, na sequência, vitela com miniarroz e ervilha-torta. Montagem diferentona? Sim, mas apetitosa: a carne se desfez na boca. Arrematei com um doce e fesco pain perdu, uma paródia francesa da nossa rabanada, e sorvete. Com tudo isso, R$ 45 destorceram lindamente meu nariz. (Naíma Saleh)
Vi e Vivi
Difícil saber de antemão o que comer no menu executivo do Chef Vivi (chefvivi.com.br): as três opções para cada tempo do almoço mudam sempre.O pequeno salão mantém a porta fechada para o barulho da rua e deixa a cozinha aberta com um janelão para vermos a chef trabalhar – Vivi Gonçalves foi eleita a chef revelação da capital na última VEJA SÃO PAULO COMER & BEBER. Provei creme de milho com crostini e generosa porção de queijo de cabra antes do principal: anéis de lula com leite de coco e legumes – o molho dava vontade de comer sozinho, na colher. No fim, um ótimo creme brûlé de limão-siciliano. Tenho de começar a visitar a Vila Madalena mais amiúde na hora do almoço. (Betina Neves)
Massa veloz
Moderninho e com um ar-condicionado geladíssimo: é assim o Attimo (attimorestaurante.com.br), novidade do ano no GUIA BRASIL 2013, que cobra a fama em pratos como espaguete à carbonara (R$ 59). Confiei o apetite (e o bolso) ao menu executivo – escrito a lápis – de R$ 49. Em dez minutos recebi o tortelli de bacalhau ao molho de azeitonas e presunto crocante. Massa al dente, tempero suave… mas econômicos sete tortelli e uma lasca de presunto se foram num átimo. O azedinho sorbet de pitanga e acerola refescou antes de partir. (Caroline Cabral)
O pop dos tops
Os dois representantes da cidade entre os 50 melhores do mundo, D.O.M. e Maní, também têm opções baratas nos almoços de semana – bem mais palatáveis do que os salgados menus degustação de R$ 495 na casa de Alex Atala e R$ 310 na de Helena Rizzo e Daniel Redondo. O Maní aposta na “cozinha rápida”: o picadinho de filé-mignon com milho, arroz, farofa, ovo e purê de abóbora custa R$ 38; entradas e sobremesas são à parte. No D.O.M., por R$ 82, a sequência traz couvert, salada e carne (escalope, saint-peter ou frango) com acompanhamentos.
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