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Petra, Petra, Petrinha

Petra, na Jordânia: uma das Novas Maravilhas do Mundo Moderno e outras maravilhas, em uma viagem fantástica

Por Gabriela Aguerre
Atualizado em 16 dez 2016, 09h08 - Publicado em 17 set 2011, 20h50

Caminhávamos pelas ruínas de Petra e… Nossa. Para tudo. Passei uma vida esperando o momento de começar um texto assim: “Caminhávamos pelas ruínas de Petra”… E, agora que chega a hora, que volto a deparar com dinares entre as folhas do meu diário, tíquetes em árabe e fotografias, parece mentira. Que talvez eu não tenha de fato estado lá, um dos lugares que mais sonhei em visitar desde que me conheço por viajante.

Muito influenciada, devo dizer, pelas lembranças que guardava ou achava que guardava do filme Indiana Jones e a Última Cruzada, de 1989 (e que o turismo da Jordânia muito capitalizou), o terceiro da saga de Steven Spielberg e George Lucas, lançado quando eu nem tinha idade para achar Harrison Ford tão bonito, e quando eu ainda pensava que alguns lugares maravilhosos pertenciam às telas do cinema, como cenários que depois se desmontam e cuja beleza resistiria apenas enquanto o filme vivesse e dele se lembrassem. O mundo é muito mais bonito do que o cinema, mas eu aprendi isso algum tempo depois.

Eu nem gostava tanto de Indiana Jones, mas Petra marcou. Indiana e seu pai, vivido por Sean Connery, passavam por um desfiladeiro compridíssimo até chegar a um portal absurdo. Depois eu soube: esse portal chama-se Al-Khazneh, ou o Tesouro, e é apenas uma das maravilhas construídas por um povo que viveu ali há mais de 2 mil anos e sobre o qual se ensina muito pouco, os nabateus.

O guia e as alcaparras

O céu estava muito claro naquela manhã de novembro. Mohammed Ali, meu guia, que tinha feições de Omar Shariff e sotaque do Sean Connery (juro), me pajeava a distância enquanto eu me esgueirava pelas encostas dos cânions. Ele esperava com uma paciência de monge. À medida que avançávamos, sempre aquele tom rosáceo das paredes, dos portais, dos monumentos, e agora aquele céu azul e o silêncio, interrompido por ele ao ver, entre o chão e a pedra, um arbusto baixo e verde seco.

Mohammed querendo me ensinar todas as coisas dos nabateus, dos árabes, dos beduínos. Naquele momento, em suas mãos um frutinho pequeno e seco, que ele me dá, tentando lembrar como isso se chamava em alguma língua que eu entendesse. Alcaparra, ele diz baixinho, alcaparra, entre outros resmungos em árabe que repetia a si mesmo. Alcaparra? Mas isso eu sei o que é. No Brasil também se diz alcaparra! Eu fico tão feliz, que Mohammed fica tão feliz, que naquele momento o Brasil lhe pareceu tão familiar quanto homus, kafa e babaganuch. E alcaparras.

Caminhávamos pelas ruas de Petra, e eu aprendi que alcaparras em português são alcaparras em árabe.

Estrela de novela

As ruínas de Petra são como um grande parque temático, um deleite para os arqueólogos, um prazer para o viajante que gosta de imaginar como era a vida em um lugar tão remoto, construído há tanto tempo, mais de 20 séculos atrás. Os nabateus não foram os primeiros a habitar o local, mas sim os que, a partir do século 6 a.C., construíram seus principais e monumentais edifícios. Em seu apogeu, Petra chegou a ter 30 mil habitantes. No século 1 foi invadida pelos romanos, que deram feições novas à cidade, como ruas cercadas por colunas (romanas, of course) e banhos coletivos. Durante o período bizantino, alguns prédios viraram igrejas. Terremotos atingiram a região nos séculos 4 e 6. Os demais registros históricos remontam às Cruzadas. Dois fortes foram construídos ali no século 12.

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Dali em diante cai em um limbo até 1812, com a chegada de Johann Ludwig Burckhardt, um jovem arqueólogo suíço que, afinado com o espírito de seu tempo, se apaixonou pela cultura arábica, aprendeu o idioma, converteu-se ao islamismo e se misturou aos beduínos, sob o codinome de Ibrahim bin Abdullah. Ao ouvir sobre fantásticas ruínas de uma cidade perdida próxima a Wadi Musa, contratou um guia que o levasse até lá. Com receio de ser descoberto, precisou ser cauteloso. Guardou seu entusiasmo para si e anotou tudo o que viu em meticulosos diários. “É um dos mais elegantes resquícios da antiguidade”, escreveu. Depois da “descoberta”, houve centenas de escavações e excursões de arqueólogos. Apesar de Petra contar com mais de 800 construções catalogadas, muitos mistérios ainda permanecem encobertos.

O parque pode ser visitado em meio dia, dia inteiro, dois ou três dias. Os tíquetes começam em JD$ 50, ou o equivalente a US$ 70. A entrada principal é adornada por imensas fotos do rei Abdullah e de seu pai, Hussein, que morreu em 1999, mas não no coração dos jordanianos. Alguns camelôs vendem suvenires e chapéus tipo Indiana. Cabe reforçar que foi o filme que colocou Petra no cenário do turismo mundial. Mas o número de visitantes por ano superou a marca do meio milhão depois de ter sido escolhida como uma das Novas Maravilhas do Mundo Moderno. Por aqui, foi também quase personagem de novela. Alinne Moraes desfilou diante do Tesouro, Taís Araújo subiu até o Monastério enquanto posava e flertava com Thiago Lacerda muito bem caracterizado como um… Indiana Jones.

Agora chega de Indiana que nem eu aguento mais. Mas você verá deles até o cansaço, especialmente diante do Tesouro. Uma de minhas diversões, aliás, foi ficar de costas para o portal só observando a reação de quem vinha pelo Al-Siq. Mas o mais surpreendente do Tesouro é que ele não tem a profundidade que se imaginaria para seus 43 metros de altura. A sofisticada fachada foi construída apenas para enfeitar o mausoléu de um rei nabateu. O nome surgiu da lenda de um faraó egípcio que teria escondido ali um tesouro.

Quase todas as fachadas que se veem em Petra são apenas fachadas, como a do Al-Deir, ou Monastério. Cheguei a esse monumento depois de subir 800 degraus a pé, em uma superação pessoal. Mais adiante havia dois mirantes. Dizem que a vista é espetacular. Eu preferi descer e apreciar o caminho de volta passando novamente por teatros, templos e tumbas. O sol começava a se pôr, e uma criança beduína grudou em mim. Pegou na minha mão, começou a brincar com meus dedos. Parecia encantada com a cor do meu esmalte.

Café e cardamomo

Petra é apenas um dos motivos para visitar a Jordânia, monarquia de 6 milhões de habitantes que até o momento vive de raspão a grande crise no mundo árabe. A onda dos protestos que começaram na Tunísia e acabaram derrubando o ditador do Egito também chegou a Amã, a capital. Como rápida resposta às manifestações populares, o rei Abdullah II, também conhecido como marido da rainha Rania, trocou todos os seus ministros. Em maio, algumas ruas de Amã voltaram a ser tomadas, dessa vez por expatriados sírios que protestavam contra o ditador de seu país (leia mais sobre os conflitos na seção Agência).

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Eu estive em Amã apenas uma noite, tempo suficiente para me recompor do jet lag. No saguão do hotel, percebi um movimento de ternos e longos que saíam por uma porta. Era uma festa de casamento. Só homens dançavam. Mulheres conversavam animadamente em uma roda. Vestiam trajes de seda em turquesa, vermelho, amarelo, verdebandeira. Os olhos muito bem delineados, caprichados no rímel. Todos voltados para mim. Saí rapidamente, claro.

Uma hora ao norte, visitei Jerash, um dos conjuntos de ruínas romanas mais bem preservados do mundo. Sentada na arquibancada de um teatro de 5 mil lugares, aprendi com Mohammed a apreciar um café ao modo árabe: sem coar e recendendo delicadamente a cardamomo. Ele ainda me explicaria a diferença entre as expressões aalah, ialah e walah, que eles usam o tempo todo.

Sempre escoltada por dois Mohammed (o outro era o motorista), fui ao Monte Nebo, um dos lugares sagrados da Jordânia, de onde Moisés teria avistado a Terra Prometida. Ainda visitamos Madaba, “A Cidade dos Mosaicos”. Em seguida, Petra. Mas de lá eu já contei, e nem preciso disfarçar minha preferência. Ok, teve Wadi Rum, o deserto.

Dormindo com beduínos

Não é apenas por ser um deserto (que per se já fascina qualquer viajante), mas Wadi Rum tem uma luz especial. Pude apreciá-la durante o dia, em um agradável passeio de duas horas em 4×4, com paradas para observar inscrições antigas nos rochedos, passar pelos cenários do épico Lawrence da Arábia (T.E. Lawrence esteve aqui), ver como um deserto é capaz de conter tantas paisagens e, finalmente, conhecer uma família de beduínos. Em uma tenda de lã de cabra, você é convidado a um café – e a comprar um suvenir na saída.

Vi Wadi Rum de cima, também, em um voo de ultraleve. Zsolt Petrovszki, o instrutor, me levou às alturas por 40 minutos. Passamos pelos Sete Pilares da Sabedoria, impressionante formação rochosa batizada assim em lembrança do livro que deu origem ao filme. Tentei contar os sete, mas só cheguei a cinco.

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Tinha sido à noite, no entanto, minha imersão mais tocante. Sob um céu com mil estrelas, depois de um jantar árabe servido e animado por beduínos em um acampamento no meio do deserto, retirei-me à minha barraca. Simples, fechada por uma tira de velcro, apenas a luz de uma vela. Entre os lençóis, alguns inevitáveis grãos de areia. Um fiozinho gostoso e a sensação de que somos pequenos, pequenos, e que é incrivelmente bom estar vivo.

Quando ir

Embora seja um país pequeno, a Jordânia tem uma grande variação climática. Outono (de setembro a novembro) e primavera (de março a maio) são as melhores estações para visitar o país. No inverno, ir ao deserto pode ser um sacrifício: as noites costumam ser geladas. Já o alto verão (em julho e agosto) tem dias sufocantes. Neste ano, o Ramadã, mês sagrado para os muçulmanos, será em agosto. Evite ir nessa época, já que vários estabelecimentos fecham as portas e as restrições são grandes.

Como Chegar

Não há voos diretos entre o Brasil e a Jordânia. A maneira mais barata de voar é com a El-Al (11/3075-5500, www.elal.co.il) até Tel-Aviv, desde US$ 1 199, e seguir com a Royal Jordanian (www.rj.com) até Amã. O trecho demora 45 minutos e custa desde US$ 266. A Qatar (11/2367-2146, www.qatarairways.com) faz conexão em Doha e cobra desde US$ 1 492, e a Turkish (11/3371-9600, www.flyturkish.com.br), desde US$ 2 174, para em Istambul. Todos os voos desembarcam no Aeroporto Internacional Queen Alia (www.amman-airport.com), o maior do país, 32 quilômetros ao sul da capital, Amã. A maioria dos pacotes inclui transfer até o hotel ou sugere contratação de motorista e guia que falem inglês. Locomover-se pelo país por conta própria é possível, mas as placas de indicação não são em inglês. Para mulheres, é perigoso andar sozinhas. Convém sempre estar acompanhadas por um homem, mesmo que seja o motorista ou o guia contratados. Vale também ao pegar táxis.

Dinheiro

A moeda é o dinar jordaniano (JD). Dólares e cartões de crédito são aceitos comumente. Em maio, US$ 100 dólares compravam JD$ 70.

Quem leva

A New Age (11/3138-4888, www.newage.tur.br) leva por oito noites, desde US$ 2 875. Amã, Jerah, Madaba, Petra e Wadi Rum fazem parte, assim como o Mar Vermelho e o Mar Morto. Em Petra, inclui uma visita noturna ao Tesouro. As mesmas cidades estão no pacote da Bon Voyage (11/3258-6522, www.bonvoyagetur.com.br), de 13 noites e desde US$ 5 480, mas os primeiros sete dias são voltados para mergulho, em Aqaba. A Highland (11/3254-4999, www.highland.com.br) combina Jordânia com Israel no pacote de 14 noites, desde US$ 5 090. A primeira parte contempla Amã, Petra, Wadi Rum e Aqaba e inclui uma noite em um acampamento no Deserto de Wadi Rum. A segunda parte, já em Israel, é self driving. Inclui um tour de dois dias por Jerusalém. Com a Soft Travel (11/3017-9999, www.softtravel.com.br), você combina Jordânia e Dubai em um pacote com boa relação custo/benefício. Desde US$ 3 507, por 11 dias.

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