Acabo de encontrar um amigo brasileiro aqui em Nova York. Marcão estava parado numa esquina, congelando, sem saber para onde ir. Tinha se perdido da mulher, que entrou em várias lojas e o esqueceu no corredor. Meu amigo não sabia como chegar ao hotel. E se recusava a pedir informação a um passante qualquer.
– Tá maluco? Não quero pagar o mico de passar por turista.
E qual é exatamente o problema de ser turista? É a melhor profissão do mundo! Enquanto os cidadãos andam apressados, de cara amarrada, pensando nos perrengues da vida, o turista circula com aquele sorrisão na cara, achando tudo incrível e muito melhor do que na sua terra.
– Por que você não pega um táxi? – perguntei, enquanto Marcão tentava decifrar um minúsculo mapa do metrô, cheio de letrinhas e linhas coloridas.
– Quero ir de metrô, como um autêntico nova-iorquino.
Tive de informar a meu amigo que o autêntico nova-iorquino simplesmente não existe.
– Faça uma experiência. Pergunte a qualquer um passando. Você vai ver que ninguém nesta cidade nasceu em Nova York. Aliás, tenho minhas dúvidas se ainda tem maternidade nessa terra.
Impressionado com a educação do povo do Primeiro Mundo, Marcão chegou ao cúmulo de obedecer às leis de trânsito! Me confessou que atravessou uma rua na faixa para pedestres quando o sinal indicou “Walk” só pra ser confundido com um local.
Nada encanta mais um viajante do que a dica de um lugar não frequentado por turistas. Meu amigo caiu nessa e descolou uma dica num guia best-seller. Resultado: jantou em um restaurante lotado de turistas que compraram o mesmo guia.
Tentei em vão convencer o Marcão a parar com essa bobagem de ter vergonha de ser turista. Afinal, qualquer nova-iorquino adoraria trocar de lugar com o turista brasileiro. Desde que não precisasse carregar tantas sacolas de compras…
Texto publicado na edição 220 da revista Viagem e Turismo (fevereiro/2014)