Hotel em BH é o primeiro do país adaptado para a pandemia
Funcionários confinados e paramentados, rigorosa higienização e nenhuma interação humana fazem parte do menu de serviços do novo hotel da capital mineira
Imagine um hotel em que os hóspedes não travam qualquer interação com outro ser humano e que os funcionários ficam confinados para evitar que se contaminem no deslocamento da casa para o trabalho. Pode até parecer roteiro do seriado Black Mirror, mas aqui no Brasil esse hotel já uma realidade.
Com diárias a partir de R$ 300, o Vivenzo Savassi é o primeiro e, por enquanto, o único hotel no Brasil completamente adaptado para os tempos de pandemia de coronavírus.
Além da diminuição do número de quartos disponíveis, que foi de 240 para 120, o hotel em Belo Horizonte adotou novos protocolos de higienização, que utilizam técnicas e produtos hospitalares.
O check-in e o check-out são feitos virtualmente, não há serviço de arrumação de quarto e, para eliminar a possibilidade de contaminação vinda de fora, todos os funcionários do hotel estão confinados lá dentro.
O modelo faz parte de uma tendência pós-coronavírus e que recebeu o nome de “low-touch economy”. A ideia é oferecer serviços com o mínimo de interação humana e protocolos de higiene bastante rígidos.
Quando a Organização Mundial da Saúde decretou a pandemia, o Vinvenzo estava funcionando há menos de um ano. Parte da rede Macna Digital Hotels, o estabelecimento sempre possuiu uma vocação digital e orientada para a higiene. Ainda assim, foram investidos cerca de R$ 150 mil em otimizações para o que está ocorrendo hoje.
Veja a seguir mais detalhes de como funciona a hospedagem por lá:
Quem são os hóspedes do hotel?
No momento, 30% dos hóspedes são pessoas que estão aguardando o resultado do exame para o novo coronavírus e decidiram cumprir quarentena no hotel. Alguns hóspedes, inclusive, moram em Belo Horizonte, mas preferiram se isolar para não colocar a família em risco.
Já os outros 70% são do público corporativo, ou seja, funcionários de empresas nacionais e estrangeiras que não residem na capital mineira e estão trabalhando do hotel.
O Vivenzo Savassi também se diz pronto para receber idosos, profissionais da saúde e pessoas contaminadas. Essas últimas ficariam em um andar exclusivo do hotel.
As informações são do fundador e CEO da Digital Hotels, Frederico Amaral. Ele afirma que a unidade está preparada para os mais diversos cenários, incluindo o de algum hóspede estar infectado sem apresentar sintomas.
“Entendemos que nessa pandemia precisamos estar preparados para operar como se qualquer cliente pudesse estar contaminado, criando proteções para que os processos de atendimento protejam a todos”, ele diz. A expectativa do hotel é ter uma ocupação de 60% a 70% no mês de abril.
Como funciona a hospedagem?
O check-in é feito pelo próprio hóspede através de um monitor e sem qualquer contato humano presencial.
Ao chegar no hotel, ele é instruído por um porteiro a desinfetar a sola do sapato em um tapete que contém um produto hospitalar.
Só então a pessoa pode entrar na recepção, onde encontrará um kit com luvas e máscaras descartáveis para usar no caminho até o quarto. Ali, outro kit de proteção fará parte dos amenities.
O restante da estadia será restrito ao quarto, já que os demais ambientes do hotel estão fechados e não podem ser acessados.
Caso, no meio da hospedagem, seja confirmado que o hóspede está infectado pelo coronavírus, ele será transferido para um andar exclusivo.
Quando o quarto finalmente for desocupado, o espaço ficará em quarentena de desinfecção por 72 horas e só então poderá ser utilizado por outra pessoa.
E as refeições?
Os comes e bebes são entregues na porta do quarto. Mas para poder entrar no hotel, os ingredientes passam por um rigoroso processo de desinfecção e higienização.
Além disso, o cardápio das refeições foi montado por chefs e nutricionistas, que tinham como objetivo elaborar uma alimentação perfeitamente balanceada.
De acordo com a assessoria do hotel, houve até o cuidado de cortar ingredientes que deixam as pessoas mais agitadas ou ansiosas, por exemplo.
Os funcionários não podem trazer a doença de fora?
Segundo o hotel, qualquer contato pessoal entre o hóspede e os funcionários foi eliminado. Toda a comunicação é feita pelo Whatsapp e até o serviço de arrumação de quarto foi suspenso.
A cada cinco dias, os clientes têm direito de solicitar a troca de qualquer peça de enxoval ou a mudança para um novo apartamento devidamente higienizado, sem cobrança de taxas adicionais.
Mas a medida mais radical (e possivelmente a mais eficaz) de todas foi confinar os funcionários no hotel – e todos testaram negativo para o Covid-19 para serem aceitos.
“Toda a equipe está confinada no hotel, separada dos hóspedes e paramentada com máscaras, luvas e botas. O time foi preparado para lidar com situações extremas como essa, de guerras e crises, e está sendo acompanhado por psicólogos”, afirma Frederico Amaral.
“Foram selecionados apenas os colaboradores que expressaram desejo em aderir ao isolamento e que estão fora do grupo de risco do coronavírus, considerando também seu perfil psicológico”.
Fazem parte da equipe três enfermeiras e dois psicólogos, à disposição para dar suporte aos colaboradores e aos hóspedes que precisarem.
Como será o Vivenzo Savassi no futuro?
Passada a pandemia, o Vivenzo Savassi pretende descontinuar algumas medidas, como o confinamento dos funcionários e o fechamento das áreas comuns. Outras práticas, porém, podem continuar.
Enquanto isso não acontece, outros hotéis pelo mundo estão vendendo “pacotes de quarentena” milionários ou cedendo seus espaços para se tornarem hospitais temporários.