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Confissões de… Um vendedor de duty free

O dia a dia de um vendedor de duty free: as loucuras das dondocas, dos chocólatras e outras histórias

Por Simone saggioro (edição)
Atualizado em 14 dez 2016, 12h01 - Publicado em 14 set 2011, 12h28

As loucuras acontecem com certa frequência. Um dia assistimos à excentricidade de uma noiva que tentava realizar seu sonho de lua de mel: embarcar usando o vestido de casamento e estourar uma garrafa de champanhe dentro do avião. Como não é permitido levar frascos com mais de 200 ml de líquido, os fiscais pediram que ela entregasse o pertence. Depois de longa discussão, a noiva disse que não iria se desfazer da garrafa e estourou o champanhe ali mesmo, molhando o chão. Ela foi presa, mas acho que, no fim, os policiais se comoveram. Apesar do sonho frustrado, ela embarcou no voo seguinte.

A esteira de raio X também some com objetos. Em outra situação, uma argentina que passava pelo raio x causou a maior confusão. Assim que seus pertences apontaram do outro lado da esteira, ela começou a gritar que alguém havia roubado o seu anel. Enquanto batia boca com os fiscais, um policial federal se aproximou para ver o que estava acontecendo. Precavido, ele pediu permissão para revistá-la. Descobriu que o anel estava com ela, mas… dentro da calcinha. Até hoje não sei se a muher era uma picareta ou se não tinha muita sensibilidade para perceber o anel naquela região.

Para não ultrapassar a cota de US$ 500, as dondocas fazem de tudo. Com frequência, eu via crianças, algumas bem pequenas, passando no caixa com muitos produtos de maquiagem. Como as mães não conseguem se controlar e acabam gastando mais que a taxa de isenção do duty free, por pessoa, elas passam a depender dos filhos para comprar alguns produtos, principalmente batom, blush, sombra, rímel…

Teve também o barraco do chocólatra. Um americano estava fazendo uma conexão em São Paulo para ir ao Rio de Janeiro. Mal-acostumado às regras brasileiras, o gringo passou no duty free para comprar chocolate. Tentei explicar que ele não poderia consumir nenhum dos nossos produtos ali. Como seu destino final era o Rio, ele só poderia comprar no free shop carioca. Eis que o homem fez um escândalo e desembestou a falar um monte de palavrões em inglês. Quando percebeu que o show não ia dar certo, abriu o pacote de chocolate e começou a comer. Em uma cena que muito me lembrou uma criança mimada, ele disse: “Quero ver se vocês não me deixam pagar agora”.

Mas o pior é quando o escândalo acontece entre família. Uma vez um de meus colegas viu que um menino havia “guardado” um dos produtos do duty free em sua mochila. Quando fomos conversar com a mãe do garoto, ela, obviamente, o defendeu. Tivemos de recorrer à câmera para mostrar o que havia acontecido. A mulher começou a gritar e a bater na criança. Disse ao menino que não queria mais ser sua mãe e que ele iria ficar conosco para sempre. Não respondi nada para não piorar a situação, mas não consegui deixar de pensar que a oferta de ficar com o pestinha definitivamente não seria nada razoável.

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Nosso vendedor secreto trabalhou durante dois anos e meio no duty free do aeroporto de Cumbica (SP)

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