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Atravessando águas abertas

Águas Abertas: quando encontrar um monte de touquinhas nadando juntas em algum cartão-postal maravilhoso como este, não tenha dúvidas, junte-se a elas! (Antes veja aqui como encarar)

Por Laura Capanema
Atualizado em 16 dez 2016, 08h58 - Publicado em 21 nov 2011, 17h40

Domingo, 8 da manhã, Leme. Uma voz grave no alto-falante chama a atenção de quem passa pela praia. “Faltam três minutos! Vamos lá, pessoal, quero ver todo mundo se alongando!” Ao som de Viva la Vida, do Coldplay, o locutor se empolga para levantar o ânimo daqueles que vão se jogar no mar dali a exatos três minutos. Enquanto alguns se aquecem, uma menina ajeita o maiô, uma senhora passa filtro solar no marido paramentado e rapazes de touca amarela cantam em coro, ajoelhados na areia. No entorno, uma vista de tirar fôlego de nadador profissional: o mar azul e o Pão de Açúcar fazendo uma participação especial. Nesse cenário, centenas de pessoas se jogariam na água em direção ao Posto 6, em Copacabana, com o objetivo de completar uma das quatro maratonas aquáticas do dia. Elas se fundiriam a um dos mais belos cartões-postais do Rio de Janeiro.

Também conhecidas como Águas Abertas, essas maratonas são circuitos de natação percorridos fora de piscinas. No caso de Copacabana (e um pedacinho do Leme), a praia também se presta a provas dos campeonatos carioca e nacional, além de percursos únicos e já consagrados, como a Travessia dos Fortes, que acontece sempre em abril. Naquele domingo de sol, 1 600 pessoas se lançaram ao mar para disputar a segunda etapa do Circuito Light Rei e Rainha do Mar. Embora o percurso seja longo – a prova mais popular do dia, a Challenge, pedia 3 quilômetros debaixo d’água -, era visível que todos queriam mais é se divertir do que competir. Ou aproveitar a beleza do lugar para ganhar fôlego extra. “Eu vim de Belo Horizonte só para nadar aqui”, contou a engenheira Luiza Lage, que cruzou pela primeira vez o percurso do Leme ao Posto 6. “No meio da prova levantei a cabeça e fiquei admirando a orla, lá do mar. Acho que terminei a competição mais feliz por isso, porque o meu tempo nem foi bom!” Com exceção de 27 participantes que não conseguiram completar a prova (menos de 2%, cabe ressaltar), os que chegaram ao Pontal saíram da água como Luiza: esbanjando um sorrisão. No dia 15 de novembro será a próxima oportunidade para nadar esses mesmos 3 quilômetros, no circuito Pan-Americano Masters.

As provas são muitas. Pelo campenato nacional, organizado pela Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA; www.cba.org.br) até o fim deste ano terão sido realizadas 12 maratonas aquáticas, de norte a sul do país, sempre em águas abertas: mares, represas e rios.

A extensão do percurso costuma variar de 1 a 10 quilômetros e a relação entre o número de amadores e profissionais é surpreendente. “Eu diria que quase 90% são pessoas que gostam de nadar por prazer”, arrisca Eliana Alves, assessora de comunicação da CBDA. Para o nadador profissional Luiz Lima, pentacampeão da Travessia dos Fortes, a modalidade está crescendo entre os amadores. “A chegada das Olimpíadas mexe com a vontade de brincar de ser atleta olímpico”, diz ele. Na Travessia dos Fortes deste ano, as 2 mil inscrições disponíveis se encerraram em uma hora.

O ex-casseta Hélio de la Peña já realizou a dos Fortes duas vezes. Ele chama a atividade de “brincadeira de competir”. “Fico surpreso de quanto nado mais rápido nas competições. Sem contar que acho o máximo passar o ponto dos surfistas para nadar depois deles.” De la Peña conta também que fazer travessias foi uma forma de perder o medo, de superar os próprios limites. “Outro dia fui a uma ilhota que fica a 1,5 quilômetro da Prainha. Não vale alugar barco só para isso. Mas chegar nadando é uma conquista!”, diz ele. “Estar dentro de um cartão-postal é fantástico.”

Um pouco de história

Apesar de serem consideradas atividades esportivas diferentes, as provas de natação olímpica se originaram de uma maratona aquática. Na primeira Olimpíada dos tempos modernos, em Atenas, em 1896, todas as provas foram realizadas no mar. As piscinas só passaram a ser usadas anos mais tarde, devido à necessidade de padronizar as distâncias. E todo mundo que nada em piscina também pode competir no mar? “Sim, mas é importante ter uma rotina de treinamento semanal disciplinada, com supervisão regular médica e técnica”, explica Marcelo Lopes, coordenador de natação da Academia Competition, em São Paulo. Persistência é fundamental: além das marolas, a água pode estar geladíssima e as correntezas costumam conspirar contra. “Mas a superação pessoal e o prazer de poder viajar e conhecer lugares novos fazem tudo compensar”, diz ele, com conhecimento de causa.

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Depois de ter completado a travessia do Canal da Mancha, praticamente o Everest da natação mundial, Marcelo resolveu levar seus alunos para viver experiências além-mar. “Não conhecer o lugar já virou a desculpa perfeita para nadar. Ainda mais em pleno verão europeu.” Pelo mesmo motivo, a prova do Rio Hudson, em Nova York, é das mais requisitadas. Os nadadores costumam levar os familiares e aproveitam para passar uns dias na cidade.

Tubarões e titãs

O Estreito de Gibraltar, os 15 quilômetros de extensão que separam a Espanha do Marrocos, é uma das travessias mundiais mais difíceis, com direito a tubarões pelo caminho. O economista paulistano Alain Levy, de 61 anos, foi o mais velho da América Latina a fazê-la, em 2008. “Quando cheguei ao outro lado, a primeira coisa que fiz foi agradecer ao ‘cara lá de cima’”, diz. Depois da prova, passou uma semana passeando pelo Marrocos com a mulher e já planeja a próxima: o Campeonato Mundial de Masters em Rotemburgo, na Suécia.

Autoconfiança é importante. E isso se adquire com treinamento. Para o médico de esportistas Luiz Eduardo Castro, há diferenças entre o nadador que pretende competir e aquele que só quer completar a travessia, “mas todos precisam ter a confiança de que conseguem nadar longas distâncias.” Muitos de seus clientes são ex-fumantes, hipertensos e obesos.

Também fazem parte do time aqueles que simplesmente querem melhorar sua qualidade de vida. O músico e ex-titã Tony Belloto, que completou a Challenge de Copacabana em 1h06min (tempo bom para um amador), conta que a natação está mudando os seus hábitos. “Tenho treinado toda semana e acho que fiquei até mais criativo.” E, assim como Marcelo, Luiz e Alain, Tony planeja desbravar outros mares. “Sabe o Canal da Mancha? Um dia serei o primeiro roqueiro a atravessá-lo.”

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Como entrar nessa?

• Exercite-se em um local que tenha tradição em treinamentos para maratonas aquáticas, com acompanhamento técnico específico.

• Faça um check-up completo (geralmente os exames são pedidos na matrícula), com exame de sangue e eletrocardiograma. Para nadar longas distâncias, é importante que o esportista não tenha carência de vitaminas.

• Crie um objetivo. Comece a treinar pensando na prova que quer completar. A indicação é sempre começar com distâncias menores.

• Treine pelo menos duas vezes por semana, de 45 minutos a uma hora.

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• Durma pelo menos seis horas por dia e procure ingerir carboidratos antes dos treinos.

Fonte: Marcelo Lopes, professor de natação

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Outubro de 2011 – Edição 192

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