Andaluzia: o melhor de Cádiz, Málaga, Sevilha, Vejer e mais
O repicar das castanholas, o canto sofrido do flamenco, as touradas, a devoção religiosa. Um giro pela Espanha como você nunca viu
Aclamado pelos vinhos que produz à frente da bodega Urium, o enólogo Alonso Ruiz canta para os seus barris a cada tarde. Não é metáfora. Enquanto tentava entender o complexo método de produção do fino e do palo cortado – bebidas que convertem Jerez de la Frontera em uma meca para enófilos –, presenciei esse senhor bonachão, de barba frondosa e branca, entoar uma emotiva cantiga flamenca (sem aviso prévio). Em cenas folclóricas como essa reside boa parte da graça de viajar pela Andaluzia.
Além de uma personalidade tão marcante quanto o sotaque de seus 8,4 milhões de habitantes – tablado vira “tablao”, chill out soa como “chilao” e o R é cortado do fim das palavras –, a região tem uma quantidade desconcertante de atrativos em um território pouco menor que o estado de Santa Catarina. Das dunas de Caños de Meca aos 3 mil anos de história de Cádiz; da fofura branca de Vejer de la Frontera ao quê hipster de Málaga; o roteiro a seguir faz um mix de grandes clássicos, com escapadinhas alternativas.
Entre uma coisa e outra, a certeza de topar com a herança de quase 800 anos de domínio árabe embaralhada aos clichês da espanholidade: o repicar das castanholas, o canto sofrido do flamenco, as touradas sem complexo, a devoção religiosa tomando um drinque com o hedonismo no bar da esquina…
SEVILHA INSIDER
“Uma praça encantadora no bairro de Santa Cruz passa desapercebida: a Santa Marta, na Calle Mateos Gago, na altura do número 2. Começar o dia com uma torrada de jamón ibérico com azeite extravirgem e um café com leite é um ritual para os sevilhanos – e nada se compara ao do Flores Gourmet. Entre os bares de tapa, La Taberna, na Calle Gamazo, 6, é muito especial pelos ovos com chouriços, os flamenquines (rolinho frito recheado), o salmorejo (um gaspacho mais espesso) e outras delícias. Para um café contemplando a catedral e a Giralda de um ângulo excepcional, vou ao terraço do Hotel Doña María.” Joaquín Líria, mestre-sorveteiro de La Fiorentina, em Sevilha |
Málaga: hipsters e Picasso
Partindo de Madri com o trem de alta velocidade (AVE), chega-se a Málaga em suaves 2h30. Com mais tempo, dá para fazer um pit stop de algumas horas em Córdoba e visitar a estonteante Mezquita-Catedral – para não perder a viagem, compre entradas com antecedência. Reserve pelo menos três dias cheios no berço de Picasso (1881–1973) e Antonio Banderas, que estarão “juntos” na temporada de Genius, do canal National Geographic.
Além de interpretar o gênio cubista, o latin lover oficial de Hollywood convenceu o diretor Ron Howard a rodar parte da série na cidade de 600 mil habitantes, o que deve reforçar sua reputação de “Nova Barcelona”, segundo decretou o jornal britânico The Daily Mail. Entre os cenários, estarão os lugares que marcam o rastro do pintor: a residência em que nasceu, convertida no Museo Casa Natal; a Iglesia de Santiago, na qual foi batizado; e a Plaza de Toros de La Malagueta, onde, aos 8 anos, pintou El Pequeño Picador (imagem do personagem que espeta o touro a cavalo) sobre uma caixa de charutos.
O autor de Guernica sempre almejou ter parte de seu trabalho exposta em sua cidade natal. Mas o Museo Picasso Málaga só se materializou em 2003, por meio de doações da família do pintor. Instalado no Palacio de Buenavista, do século 16, o museu marcou uma virada. Com ele, vieram mais turistas (em 2017, a cidade recebeu 1,3 milhão de visitantes, recorde histórico), que Málaga soube aproveitar restaurando grande parte de seu centro histórico, repleto de casarões em tons pastel e praças com palmeiras.
Em 2012, a cidade coroou sua volta por cima abrindo-se ao Mediterrâneo. Milagre operado pela reforma do porto, que exalava decadência e era um obstáculo entre o Centro e o mar. Agora, quem caminha da parte antiga até a praia passa pelo magnífico Jardim Botânico (que até há pouco era sinistrão, cercado por um muro) e desemboca no Muelle 1, belíssimo calçadão à beira-mar, com bares e restaurantes, sombreado por palmeiras – em que desembarcam 500 mil cruzeiristas ao ano.
Em 2015, a cereja foi espetada no bolo com a inauguração da filial espanhola do Centre Pompidou, de Paris, sob um belo cubo multicolorido que alguns malaguenhos adoram odiar. Instalado entre o porto e a Playa de la Malagueta, ele renovou o seu acervo de 63 obras, que ostenta nomes como Kandinsky, Chagall, Miró e Picasso. Com previsão de ficar na cidade até 2025, o centro francês engrossa o animado circuito das artes local, que ganhou mais de dez museus de peso nos últimos 15 anos.
Entre eles, são imperdíveis o Carmen Thyssen, que ilustra a linha do tempo da pintura espanhola com o acervo da baronesa Carmen Thyssen; o Museo Ruso, filial do Museu Estatal Russo de São Petersburgo; e o Centro de Arte Contemporânea, que recentemente recebeu artistas como Marina Abramovic, Kaws, Banksy e Tracey Emin.
No embalo do CAC, o bairro ao redor do museu sacudiu os ares de decadência portuária e reencarnou na pele de Soho, referência ao famoso distrito artístico de Nova York que brotou de galpões decrépitos no anos 1970. A cena local vem sendo inflada por projetos, como o Maus, que forrou as paredes do bairro com obras de célebres artistas de rua – não à toa, Málaga é a cidade espanhola mais bem representada no Google Street Art Project, uma gigantesca galeria virtual de arte urbana.
Em meio a esse caldo cultural, não tardaram a pipocar os inevitáveis mercadinhos de moda (aos primeiros sábados domês, na Calle Tomás Heredia), brechós, lojinhas de design, bares e cafés hipsters, como El Ultimo Mono e RecycloBike Cafe. Cervejarias artesanais também brotaram como cogumelos,representadas em lugares como El Rincondel Cervecero.
Muitos séculos antes do domínio das barbas e do império do drinque em pote reciclável, Málaga viu passar fenícios, cartagineses, romanos e árabes, que imprimiram suas marcas na cidade. Assim como muitas outras da Península Ibérica, a catedral ocupa o espaço onde antes havia uma mesquita. Erguida entre os séculos 16 e 18, combina os estilos gótico, renascentista e barroco. Os quase 3 mil anos de história do balneário também são simbolizados pelo Castillo de Gibralfaro, levantado por Yusuf I, no século 14, sobre restos de construções fenícias e romanas. Após a reconquista, foi adaptado pelos reis católicos, como residência de verão.
O pacote “fusão de culturas” se completa com o Alcazaba. De quebra, a fortaleza árabe do século 11 se debruça sobre um espetacular teatro romano do século 1, construído pelo imperador Augusto. No verão, o lugar recebe shows, peças e balés ao ar livre. Antes ou depois da visita, tome uma geladinha por ali no El Pimpi, um bastião malaguenho cujas mesas já viram passar Picasso, membros da família real, toureiros e – ¿como no? – Antonio Banderas. A vista da fortaleza é ainda melhor do terraço do Batik, onde o chef Iván Bravo prepara pratinhos com toques orientais e latino-americanos.
Com 300 dias de sol ao ano, e cercado por um microclima tropical infiltrado na aridez da Andaluzia, o balneário de sangre caliente é cercado por campos em que brotam mangas, frutas-do-conde e abacates. Tal fartura de produtos exóticos (para os padrões espanhóis) reforça o arsenal tipicamente mediterrâneo no Mercado de Atarazanas. A estrutura de ferro modernista do século 19, inspirada no Les Halles, de Paris, ocupa o lugar em que, no século 14, funcionava um estaleiro árabe, do qual resta uma belíssima porta em forma de ferradura.
Reformado recentemente, tem botecos simpáticos para abrir os trabalhos com um gaspacho (direto do copo) e tapas. Deixe o digestivo para tomar na vizinha Antigua Casa de Guardia, fundada, em 1840, pelo vinicultor José de Guardia. Os vinhos doces típicos da região (à base das uvas pedro ximénez e moscatel de alejandría) são servidos direto do barril e a conta é anotada com giz no balcão de madeira centenário.
Nos meses sem R (isto é: de maio a agosto), a cidade tem cheiro de sardinha na brasa, uma religião local, praticada sobretudo nos chiringuitos (barracas de praia). O peixinho frito (“pescaíto”, no quase-dialeto local) também é sagrado. Não à toa, os malaguenhos são carinhosamente chamados de “boquerones” (primos da sardinha, com carne mais clara e suave). O pacote tradição deve ser arrematado com um churros da Casa Aranda.
O boom turístico de Málaga impulsionou uma cena gastronômica respeitável, que toma forma em lugares como o Uvedoble, do jovem chef Willie Orellana; o KGB, do estrelado Kisko Garcia; e o La Cosmopolita, de Dani Carnero. Para uma refeição leve, aposte no El Mortal especialista em tapas, frios e sanduíches que harmonizam com vinhos e vermute caseiros.
Cada vez mais popular entre europeus que se aventuram a estudar espanhol, Málaga também é uma festa. No verão, jovens na casa dos 20 e poucos anos se alternam entre a botecagem e as areias de La Malagueta. E a boemia desenfreada atinge o ápice na Feria de Málaga. Na semana de 19 de agosto, essa espécie de Carnaval mediterrâneo comemora a retomada da cidade pelos reis católicos da coroa de Castilla, em 1487.
É uma maratona de uma semana, com shows, desfiles, fogos de artifício, exposições e performances turbinadas pelos termômetros que, nessa época, roçam 40˚C. Aos interessados, mais vale aproveitar a “Nova Barcelona” antes que ela inicie o seu processo de “encaretamento”, a exemplo de sua musa catalã. A enxurrada de novos bares com mesas na calçada foi tão brutal que a prefeitura de Málaga cogita decretar uma moratória de licenças e limitar o horário para conter o burburinho.
Areia, vento e fofura
Para cumprir o trecho de Málaga até Cádiz, não há linha de alta velocidade. Mas basta pegar um trem comum fazendo baldeação em Dos Hermanas, num total de quatro horas de viagem. Percorrer esta rota de carro, no entanto, injeta fartas doses de areia e mar na empreitada, além de muitas cidadezinhas brancas e fofas pulverizadas pelo caminho, aonde os trilhos não chegam. A taxa extra por alugar o carro em Málaga e devolver em Cádiz varia dependendo da locadora.
Conhecido como Costa del Sol, o trecho entre Málaga e Tarifa (162 quilômetros pela AP-7) revela uma sequência de balneários. Entre eles Marbella, onde modelos, jogadores de futebol e toureiros douram ao sol e jogam golfe no verão. Para esticar as pernas com menos ostentação, um bom pit stop é Mijas.
Queridinha de artistas e boêmios desde os anos 1960, compensa o pequeno desvio morro acima com casinhas brancas e pracinhas floridas em um promontório com vistas para o mar. Outro achado que vale os 30 quilômetros a partir da AP-7 é a íngreme Jimena de la Frontera. Porta de entrada para o Parque Natural Los Alcornocales, é coroada por uma fortaleza árabe de onde se vê o Estreito de Gibraltare, nos dias claros, a África.
No ponto mais meridional da Espanha, onde o vento faz a curva no Estreito de Gibraltar, Tarifa é a meca europeia dos esportes de vela. Quando o levante sopra forte, os kites colorem o céu. No pedacinho da Europa mais próximo da África, a cidade é um aperitivo do Marrocos. Seu centro antigo tem um quê de Essaouira (a capital do surfe no país africano) e o cheiro de cominho e cravo emana de restaurantes como o Souk.
O pedacinho do litoral mais bonito de Tarifa fica a 15 quilômetros do Centro da cidade. Parte da área de proteção ambiental do Parque Natural del Estrecho, Bolonia tem ares selvagens. Quase nada mudou desde que, em 2007, as imagens da praia deram a volta ao mundo ao servir de cenário para o vídeo caliente protagonizado involuntariamente pela modelo Daniella
Cicarelli e seu ex-namorado, o empresário Tato Malzoni. Cabras ainda pastam ao lado da estradinha de acesso e há poucas pousadas, restaurantes e chiringuitos. Além de curtir as águas calmas, visite as ruínas da cidade romana de Baelo Claudia. Cerca de 50 quilômetros adiante, Los Caños de Meca é outro senhor destino de praia da Costa da Luz (como é conhecido o litoral do Golfo de Cádiz).
O vilarejo ainda tem um quê hippie, além de boas ondas para o surfe e cantinhos nudistas. Em um dos extremos da interminável praia de areia levemente dourada, com dunas altíssimas, está o Farol de Trafalgar. O monumento marca o lugar da famosa batalha em que a esquadra franco-espanhola foi derrotada pela Marinha britânica em 1805, impedindo Napoleão de avançar sobre a Inglaterra.
Percorrendo 15 quilômetros em direção ao interior, chega-se a uma preciosidade chamada Vejer de la Frontera, um dos mais belos pueblos blancos da Andaluzia. Um labirinto de ruas estreitas avança morro acima até uma série de pequenos mirantes. Escadarias secretas revelam pátios e pracinhas arborizadas.
Cada cantinho enfeitado com vasos floridos parece ter sido premeditado para triunfar no Instagram. Coroada por um castelo do século 10, a cidade está envolta em lendas e também provoca calafrio com a imagem da Cobijada. Coberta de preto, deixando apenas o olho direito de fora, a estátua ilustra o traje (de origem cristã!) utilizado por algumas mulheres locais do século 16 até 1930. Hoje, o manto espantoso aparece apenas em festas folclóricas.
“O chiringuito Las Rejas, na Praia de Bolonia, faz os melhores peixes frescos e fritos inteiros. Já na cidade de Cádiz, a Bodeguita El Adobo é um lugar pequeno que serve a melhor moreia em adobo que já provei. Adoro El Chicuco, nova loja gourmet com ótimos cortes de jamón ibérico e conservas e um bar para tapear. Em Jerez de la Frontera, a encantadora Bodegas Lustau tem também uma loja com vinhos de pequenos produtores
. Para almoçar, o Mesón Hermanos Carrasco apresenta ótimas carnes e cozinha tradicional com toque moderno. Em Vejer de la Frontera, o Restaurante La Castillería tem um churrasco brutal.”
Ángel León, chef do Aponiente, um três-estrelas no Michelin em Puerto de Santa María, na Baía de Cádiz
Cádiz: no meio do mar
A 55 quilômetros de Vejer de la Frontera, Cádiz (capital da província homônima) é um dos destinos mais subestimados da Espanha. Sobre uma península estreitíssima, é cercada de mar por todos os lados – a sensação é praticamente a de estar em uma ilha. Uma das cidades mais antigas da Europa, com mais de 3 mil anos de história, foi impedida de crescer por sua condição geográfica especialíssima e parou no tempo como um grande centro histórico. No século 18, foi um entreposto comercial entre América, Espanha e Inglaterra.
Nos tempos de abundância, os grandes comerciantes ergueram palacetes, muitos deles com mirantes de onde podiam vigiar o movimento do porto. Hoje, restam 129 torres adornando o peculiar skyline da cidade. A mais famosa é a Torre Tavira, com uma curiosa câmara escura de onde, através de um efeito óptico, é possível espiar vários pontos do Centro. O glamour dos tempos de opulência seguem vivos no Café Royalty, decorado com relevos folheados a ouro e móveis do início do século 20.
Repleta de luz, Cádiz hoje tem um quê de decadência, fruto de um alto nível de desemprego. Por outro lado, exala a beleza da autenticidade. No bairro de pescadores de La Viña, ainda não brotaram galerias e bike cafés. O boteco mais responsa da cidade não tem nada de hipster. Na Taberna Casa Manteca, a cabeça de touro faz jogo com garrafas empoeiradas, escudos de times de futebol e quinquilharias.
E porções de panceta, queijos (prove o payoyo, de ovelha da Sierra de Grazalema) e embutidos são servidas sobre um singelo pedaço de papel. No mercadão público, há atuns vermelhos recém-saídos das almadrabas, que vão para ótimos restaurantes, como o Taberna la Sorpresa e o Salicornia. O excitante menu gaditano ainda tem iguarias como a hortiguilla (tipo de anêmona frita) e as tortillitas de camarón (tortinha frita de camarão).
Famosos por seu sotaque peculiar (segundo o qual Cádiz se pronuncia “cai”) e pelo senso de humor aguçado, os gaditanos protagonizam o Carnaval mais famoso da Espanha continental. Ainda que tenha muita bebida e oba-boa, o mote da festa é a competição entre as chirigotas, versão local dos blocos, que fazem apresentações teatrais repletas de piadas internas no Gran Teatro Falla, ao lado de outras agrupações carnavalescas. O turista boia com força. Mas se diverte.
Jerez de la Frontera: um brinde
Basta meia hora de trem para ir de Cádiz a Jerez de la Frontera, onde parte dos forasteiros desembarca para degustar o mítico vinho de jerez. In loco, fica mais palpável entender a mágica por trás da bebida, produzida a partir da uva palomino. Há meandros do processo produtivo que fazem com que o jerez seja comparado ao champanhe em singularidade.
Mas o cerne da questão é o “véu de flor” (velo de flor), levedura que se desenvolve nessa região da Andaluzia e se alimenta de açúcar e álcool, conferindo ao produto um caráter seco inimitável. As grandes bodegas, como Tio Pepe González Byass, Díez Mérito e El Maestro Sierra, têm visitas guiadas e degustações (veja lista das vinícolas em sherry.wine/es). Mas explorar vinícolas premium, como a Tradicion e a Urium, rende um contato intimista (e antropológico) com os produtores.
A quem não está lá muito interessado no vinho, Jerez de la Frontera se revela uma baita cidadezinha simpática. Com 200 mil habitantes, tem belas praças e palacetes do século 19, quando a exportação do sherry (nome do vinho em inglês) para a Inglaterra enriqueceu produtores locais. Vale conferir a catedral barroca do século 17, o lindo mosteiro gótico de La Cartuja, do século 15, e o Alcázar, fortaleza árabe do século 11. E não dá para perder a Escuela Andaluza del Arte Ecuestre. No espetáculo Como Bailan Los Cavallos Andaluces, cavaleiros exibem as habilidades da raça equina andaluza, orgulho nacional.
Outra maravilha de Jerez é seu circuito de tabancos, botecos-raiz que servem jerez (sempre ele!) direto do barril para embalar shows intimistas de flamenco, aos quais os locais aderem entusiasticamente. O mais tradiça é o El Pasaje onde, em plena quinta-feira à tarde, topei com um animadíssimo grupo de jerezanos cantando, bailando e gritando olé como se não houvesse horário comercial. Outros ótimos: o San Pablo e o Guitarrón de San Pedro.
Sevilha: tradição e modernidade
É um sacrilégio passar reto por Sevilha, estrategicamente posicionada na linha de trem AVE que vai de Jerez de la Frontera até Madri. Mas a capital da Andaluzia não cabe apenas em uma paradinha. Margeada pelo Guadalquivir, foi fundada pelos romanos há mais de 2 mil anos e exibe majestosa a herança do domínio árabe entre os séculos 8 e 13.
A bela torre que coroa o centro histórico foi erguida no século 12 como o minarete da antiga mesquita. Com a retomada do poder pelos cristãos, no século 15, cedeu espaço à apoteótica catedral católica, mas seu campanário escapou ileso. E é do alto de seus 97,5 metros que a Giralda reina soberana, com Sevilha derramando-se a seus pés.
Passear pela Judería, ou bairro de Santa Cruz, é um mergulho no passado medieval da cidade. Simplesmente, perca-se. Também é lindo percorrer a margem esquerda do Guadalquivir pela Calle Betis e contemplar o panorama da cidade. E, antes ou depois, caminhar do barroco Palacio de San Telmo até o Parque de María Luisa, flanando entre os edifícios construídos para a Exposição Iberoamericana de 1929 e terminando na Plaza de España. Com mais tempo, não dá para perder um passeio por Triana que, assim como o bairro da Macarena, está entre os lugares mais autênticos da cidade – cada um de um lado do rio.
Sevilha, quem diria?, também vem aprendendo a ser moderninha, com seu amalucado e gigantesco Metropol Parasol, prédio de madeira com terraços panorâmicos desenhado pelo alemão Jürgen Mayer-Hermann e instalado em plena Plaza de la Encarnación. E em bares como La Mamarracha e La Azotea, que servem a cozinha local com um twist. Algumas coisas, no entanto, não mudam nunca. É o caso da La Bodeguita Romero Origen, da Casa Morales e do poder de sedução da Sevilha de sempre. Até sob os 40°C do verão.
UM LUGAR EM VEJER
“Vinha de um dia inteiro de deslumbramentos em série, descendo de Ronda pela Serra de Grazalema. Então, quando parecia que nada mais poderia me impressionar, Vejer de la Frontera roubou meu coração. Quero voltar no verão, me hospedar na Casa del Califa, que também tem um ótimo restaurante, passar calor na rua, ficar cego de tanta luz, fazer a siesta e descolar um chiringuito na Praia de Bolonia para chamar de meu.” Ricardo Freire, viajante profissional e cabeça do blog Viaje na Viagem |
PREPARA
Onde ficar?
Andaluzia
Málaga
Exemplar da rede Room Mate, sinônimo de design a preços razoáveis, o Larios fica a passos da catedral e tem belas vistas de seu rooftop. No topo do Monte Gibralfaro, o Parador de Málaga tem quartos enormes, piscina e as melhores vistas para o mar. Para um upgrade, fique no cinco-estrelas Gran Hotel Miramar instalado em um grandioso palácio que se abre para a Praia de La Malagueta, com decoração digna das mil e uma noites em versão contemporânea.
Tarifa
Cheio de estilo, o Tres Mares tem um jardim espetacular com lounges ultrarrelaxantes e piscina, além de vista para a Praia de Valdevaqueros – como muitos hotéis da cidade, abre de abril a outubro. Na Praia de Los Lances, o Hotel Arte Vida tem quartos básicos e um badalado beach bar. Para gastar pouco e conhecer gente, fique no South Hostel, a dez minutos a pé da Praia de Los Lances e a cinco do Centro.
Vejer de la Frontera
O hotel mais charmoso é o La Casa del Califa, em pleno centro histórico, anexo a um dos melhores restaurantes da cidade. Outro cheio de estilo é o Casa Shelly, que tem suítes cheias de luz natural com vigas à mostra, piso de mosaico e decoração em tons suaves.
A 8 km do Centro, o Sindhura é uma boa pedida para se hospedar na tranquilidade do campo, com quartos enormes, piscina e vistas do mar ao longe. Se a ideia é um resortão na praia com tudo a que tem direito (e possibilidade de pensão completa), fique no Fuerte Conil, em Conil de la Frontera, a 15 km de Vejer.
Cádiz
A poucos passos da praia de Santa Maria del Mar, o Monte Puerta-tierra tem quartos impecáveis e uma boa academia. Ao lado do Parque Genoves e pertinho da Praia de La Caleta, o Parador de Cádiz é um caixotão moderno com piscina, spa e belas vistas para o mar.
No centro histórico, o Senator é um hotelão clássico com preço camarada e uma piscina quebra-galho na cobertura. A 80 metros da catedral, o Patagonia Sur é bom, bonito, moderninho e barato. Alguns quartos têm terraço com espreguiçadeiras e bonitas vistas.
Jerez de la Frontera
Instalado em uma antiga bodega, o Los Jándalos tem spa e quartos em várias categorias, decorados em estilo clássico. No centro histórico, o Casa Grande ocupa um casarão modernista, com apenas 15 suítes decoradas com carinho.
Em uma antiga casa senhorial, o Villa Jerez é ideal para um upgrade, com piscina e um jardim espetacular.
Sevilha
Hotel-butique por excelência, o Mercer fica nos arredores da Plaza de Toros La Maestranza. Em um palacete do século 19, tem piscina de inox e bar no rooftop, e quartos com pé-direito vertiginoso. O Casa 1800, fica em um palacete do bairro de Santa Cruz. Alguns quartos têm terraço e hidromassagem. Suprassumo do luxo clássico e opulento, o Alfonso XIII ocupa um edifício em estilo mudéjar que é uma obra de arte em si. Os quartos têm piso de mosaico de mármore, teto trabalhado e alguns contam com vistas imbatíveis do Centro.
Na cobertura funciona o ENA, restaurante assinado pelo badalado chef catalão Carles Abellan. Bem localizado e com bom custo/benefício, o Becquer tem quartos clássicos e uma piscininha na cobertura. Baratex e animadíssimo, o Oasis Backpacker tem decoração bem sacada e piscina na cobertura com vista para Las Setas (os cogumelos), oficialmente o Metropol Parasol.
Quando ir?
A Andaluzia dá o melhor de si na primavera (de abril a junho) e no outono (de setembro a novembro), quando rola pegar praia e passear sem morrer de calor. O verão é tórrido, podendo passar dos 45°C em Sevilha. Para curtir ferias de Sevilha e Málaga ou o Carnaval de Cádiz, reserve meses antes. Nas praias, alguns hotéis fecham de novembro a março. Para fazer o roteiro indicado de carro, parando nas praias e vilarejos, considere dez dias ou mais de viagem. A versão resumida, de trem, cabe em uma semana.
DINHEIRO
O euro.
LÍNGUA
O espanhol, com o marcante sotaque andaluz: o R some do final da palavra (“Que calor!” vira “Que caló!”, um bordão local), e palavras como “tablado” são pronunciadas como “tablao”, o que explica por que um “cantador” de flamenco é chamado de “cantaor”.
FUSOS
+3h, até 18/2; +4h, de 19/2 a 24/3; +5h, de 25/3 a 20/10.
DOCUMENTOS
Brasileiros não precisam de visto, basta ter passaporte válido por três meses ou mais (ao entrar no país).
Como Chegar?
Ibéria, Air Europa e Latam voam de SP a Madri. Da capital espanhola saem voos a Jerez de la Frontera, Málaga e Sevilha pela Ibéria e Vueling. Também dá pra fazer o trajeto de Madri à Andaluzia com o AVE – o trem de alta velocidade.