A Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA, na sigla em inglês) anunciou que está em vias de lançar um documento digital que irá apoiar a reabertura das fronteiras. Segundo a entidade, que representa 290 companhias responsáveis por mais de 80% do tráfego aéreo mundial, a criação do IATA Travel Pass possibilitará compartilhar informações de saúde dos viajantes entre governos, companhias aéreas e laboratórios – o que incluiria os resultados de testes RT-PCR exigidos atualmente e, num futuro próximo, o comprovante de vacinação para a covid-19. A IATA quer lançar o documento no primeiro trimestre de 2021.
Por meio de um aplicativo, o IATA Contactless Travel App, os passageiros poderão criar um “passaporte digital” para guardar certificados de teste e vacinação e compartilhá-los com companhias aéreas e autoridades alfandegárias. Outra ferramenta, o Lab App, permitirá que laboratórios e centros de testagem credenciados compartilhem os certificados com os passageiros.
Obrigatoriedade da vacina para o embarque
O documento que a IATA deve instituir vem acompanhado por uma movimentação do setor aéreo que promete causar polêmica: a obrigatoriedade do passageiro apresentar antes de embarcar um comprovante de vacinação para covid-19, assim que o imunizante estiver disponível em escala global. A companhia aérea Qantas foi a primeira a anunciar que vai recusar a bordo quem estiver no exterior rumo à Austrália e não comprovar ter tomado a vacina de covid-19.
A declaração, feita pelo presidente da empresa Alan Joyce a um canal de TV, acende a questão sobre a exigência se tornar praxe para outras aéreas – o executivo disse ainda que conversas nesse sentido estão sendo conduzidas com dirigentes de outras empresas pelo mundo e que a medida pode se tornar comum no setor.
A Korean Air, maior aérea da Coreia do Sul, tem posicionamento semelhante e, por meio de porta-voz, disse que há uma possibilidade real de que as empresas exijam que os passageiros só possam embarcar se estiverem vacinados – lembrando que o país asiático, assim como a Austrália, foram bem-sucedidos até aqui no combate à pandemia.
As americanas American Airlines e Delta, que operam no Brasil, foram mais cautelosas e preferiram não falar de imunização compulsória para embarque antes da chegada da vacina, segundo reportagem do site de inovação Fast Company. Uma porta-voz da American Airlines disse que, embora a companhia aérea esteja satisfeita com o avanço do desenvolvimento dos testes, ainda é cedo para falar em regulamentações aéreas relacionadas à vacina.
O professor Jeffrey Kahn, diretor do Johns Hopkins Berman Institute of Bioethics, em Baltimore, nos Estados Unidos, considera questionável o fato de empresas tomarem as rédeas de uma questão que diz respeito à saúde pública. “Tenho certeza de que as aéreas acatariam se fossem obrigadas a exigir a vacinação ante uma decisão federal. Por enquanto, não temos isso”, disse ele.
O presidente Jair Bolsonaro anunciou em uma live no dia 26 de novembro que não tomará a vacina, mesmo que no momento o imunizante seja a única esperança para controlar uma pandemia que já matou mais de 1,4 milhão de pessoas em todo o mundo.
Procuradas pela VT, as brasileiras Azul, GOL e Latam não tinham se posicionado sobre o assunto até o fechamento da reportagem.
Atualização:
A Azul informou que segue as recomendações das autoridades de saúde e que acatará as orientações definidas pela Anvisa quando houver a aprovação de uma vacina no Brasil.
Já a Latam ressaltou que atualmente segue as regras de embarque vigentes em cada país de origem e destino e que qualquer mudança dessas regras será comunicada oportunamente.
A Gol não se manifestou.