A neve está com pressa neste ano. Não quis saber de esperar pelo inverno, que começou em 21 de junho, para cair. Na chilena Valle Nevado, estação a uma hora de Santiago, ela veio logo em 27 de maio. E a VT não demorou a arrumar as malas e viajar para lá. O que não podia imaginar era que fosse logo eu a designada para saber a quantas anda essa preferência brasileira de inverno. Com oito fraturas de braço em apenas nove anos – motivadas por tropeções, quedas do sofá e outros acidentes graves –, não sou exatamente uma esportista exímia. Confortou-me crer que a experiência com o skate longboard (aquele maiorzão) poderia me dar algum jogo de cintura e de pernas no snowboard. Por isso, desembarquei em Santiago na sexta 7 de junho e já no dia seguinte estava pisando o chão branco do Valle.
Se em Bariloche são esperados de 20 mil a 25 mil brasileiros, Valle Nevado faz contas tão ou mais otimistas. Em julho de 2012, segundo a autoridade de turismo chilena, 49 mil brasileiros estiveram no Chile, boa parte esquiando. Neste ano a estação celebra 25 anos com a inauguração de duas novas pistas – são 45 agora – e a estreia de um novo teleférico de cabine fechada, que liga a curva 17 ao restaurante Bajo Zero e encurta o acesso às pistas. Por fim, uma notícia boa para iniciantes como eu: uma segunda escola vai abrir na base.
Nascidos para esquiar – Foto: Divulgação
A maior parte dos brasileiros que vão ao Valle opta por ficar no Puerta del Sol e nos outros dois hotéis da base, que somam 268 leitos. A confusão reina em seus lobbies na alta temporada, quando chegam levas de novos hóspedes, especialmente aos sábados. Eu estava em uma situação distinta. Fazia bate e voltas desde Santiago, utilizando o transfer da empresa GeoChile. No sábado, ao subir na van, o motorista Oscar, entre risos, disse: “Não vai andar na neve com isso, né?” Eu, mais do que depressa, respondi: “No, por supuesto”. Só que achava realmente meu tênis tipo All Star muito propício para, bem, fazer tudo. Quem opta pelo transfer faz bom negócio se aproveitar as paradas e alugar roupas e equipamentos para a neve. Embora pareça a clássica “casadinha” dos passeios turísticos, os preços são muito melhores em Santiago do que na montanha.
A subida pode enjoar os mais suscetíveis com todas aquelas curvas fechadas. Por isso, logo avisei aos companheiros de van do meu delicado histórico em curvas fechadas. O tempo ia passando, e eu feliz comigo mesma por causa do Dramin intacto. E aí o Oscar falou: “Niños, curva uno”. Como é que é? Então tudo que veio antes deste monte de cotovelos numerados não conta? Apesar da constante luta contra o enjoo, o visual não me deixou desgrudar os olhos da janela nem apagar o sorriso do rosto.
O Hotel Tres Puntas, um dos três de Valle Nevado – Foto: Divulgação
Mesmo chegando tão antes da hora, a neve não caiu despercebida dos brasileiros. Vi pelo menos uns 20, dois casais em lua de mel, um de aposentados, alguns funcionários da TAM e um carioca que aproveita as promoções. Um dos casais recém-casados, o Eduardo e a Manuela, de Brasília, saíram do Brasil pela primeira vez para ver a neve – não choraram, mas “brincaram como crianças”, disseram. Na estação, vi marmanjos fazendo guerra de neve e principiantes no esqui com coragem digna de veteranos. De minha parte, logo depois de fazer umas manobras mais horizontais do que gostaria, era chegada a hora da aula de snowboard. Não fiz grandes progressos porque senti medo da velocidade. Meus conterrâneos em menos tempo de aula pareciam muito mais à vontade.
O tubing insano
Dois dias de esqui não são suficientes para fazer de uma iniciante uma expert, consolei-me. Eu ainda queria passar pelas estações vizinhas de Farellones e El Colorado, que dividem com Valle sua área esquiável. El Colorado, com público mais jovem, é celebrada por sua pista de obstáculos para snowboard, o snowpark. Já Farellones, mais barata, é bacana para as crianças, e lá não me furtei a brincar em uma atração que elas adoram, o tubing, a boia tipo donut que desce a toda velocidade pelas montanhas. É uma delícia para os pequenos, a julgar pelos gritos de felicidade que ouvi de todos os lados. Quanto a mim, depois de observar atentamente os vizinhos escorregarem ladeira abaixo, respirei fundo e despenquei para os segundos mais insanos da minha vida – e provavelmente os mais engraçados para quem estava à minha volta, caso eles não tenham ficado assustados com os meus gritos. Tenho certa experiência em montanhas-russas, mas confesso que xinguei algumas gerações do sujeito que sugeriu que eu andasse no tubing, no caso, meu chefe.
Boquinha de altitude – Foto: Caroline Cabral
Na volta, achei que o esforço e a diversão na neve valeram por várias sessões de musculação. Pena que não dê para pegar a Dutra ou a Fernão Dias em um fim de semana para chegar ao Chile.
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