Até há pouco tempo, viajar para a Amazônia era sinônimo de longas travessias de barco, noites maldormidas em redes e banhos frios. Hoje, o destino ainda reserva boa dose de emoção, mas os perrengues ficaram no passado. Já é possível encontrar hotéis completos em meio à selva e embarcações luxuosas que navegam floresta adentro. Ainda assim, uma pesquisa realizada pelo Ministério do Turismo em abril de 2017 apontou que apenas 6,5% dos brasileiros desejam conhecer a região.
Tão longe e tão esquecida do Sul e do Sudeste, a Amazônia ainda sofre com o estigma de que é um destino caro, o que faz muitos brasileiros priorizarem o Nordeste ou mesmo os destinos do exterior. O aumento da oferta, porém, já produz oportunidades como um cruzeiro all-inclusive de três noites com aéreo de São Paulo, confortável cabine com varanda e passeios diários nos rios e matas da Amazônia.
Neste e em outros pacotes, o cardápio de atividades inclui encontro com botos-cor-de-rosa, focagem de jacarés e caminhadas na selva, numa viagem viável o ano todo: na estação chuvosa, de dezembro a junho, as florestas se alagam e os passeios de barco são facilitados; na seca, de julho a novembro, formam-se as praias fluviais e os animais são vistos com mais frequência. As possíveis maneiras de conhecer a rainforest dos gringos – a maior floresta tropical do mundo para nós –, você confere a seguir.
As bases
Nos lodges de selva, nos cruzeiros fluviais e nos hotéis convencionais, confira 14 hospedagens para explorar a Amazônia, das opções mais rústicas às mais luxuosas no Amazonas, Pará e Mato Grosso.
AMAZONAS
O maior estado em território do país ainda mantém 98% de sua cobertura florestal preservada – até porque mal tem estradas – e um dos maiores mananciais de água doce do mundo. Ali fica a grande maioria dos lodges e cruzeiros amazônicos, as opções clássicas para quem quer ter uma experiência de imersão na floresta. Enquanto nos lodges o contato com a natureza é constante e aprofundado em determinada região, nos barcos você navega por paisagens variadas.
À beira do Rio Tarumã, um afluente do Rio Negro, é o lodge de selva mais próximo de Manaus. Além da praia fluvial privativa, há quatro piscinas naturais. A estadia inclui focagem noturna, pescaria, visita a uma casa de caboclo e passeio pela Floresta dos Macacos, um centro de reabilitação de animais silvestres.
COMO CHEGAR? A van do hotel busca no aeroporto de Manaus e leva à Marina Tauá. De lá, são 20 minutos de barco até o lodge.
Fica em frente ao Arquipélago de Anavilhanas, parque nacional composto por cerca de 400 ilhas, e organiza atividades como canoagem pelos igapós e igarapés, contemplação do amanhecer e excursões para ver botos-cor-de-rosa. Tem piscina de borda infinita debruçada sobre o Rio Negro e chalés com paredes de vidro e vista para a mata.
COMO CHEGAR? Os 180 km a partir de Manaus são feitos de van em um trajeto de 2h30, inteiro de terra.
Quase todo o hotel fica suspenso na altura das árvores: interligadas por passarelas de madeira, as 21 cabanas foram construídas sobre palafitas a até 30 metros do chão. Algumas têm vista para a floresta; outras, para o Rio Juma, onde fica uma pequena piscina de madeira.
Além das atividades de selva, há palestras com os guias e arvorismo.
COMO CHEGAR? São 45 minutos de barco de Manaus à Vila do Careiro, 1h de carro até o Rio Maçarico, mais 1h de barco até o hotel.
Mais novo hotel de charme da Amazônia, fica às margens do Rio Negro e tem um projeto arquitetônico moderno totalmente integrado à natureza. Com capacidade para 23 hóspedes, promove os passeios básicos pela selva e se destaca na cozinha, de culinária internacional com ingredientes locais.
COMO CHEGAR? De Manaus até o hotel, são 2h30 de transfer.
Com apenas cinco bangalôs flutuantes, cada um de duas suítes, é a única hospedagem desta lista dentro de uma reserva ecológica florestal, a Mamirauá. Entre as atividades há passeios de canoa e visita a uma comunidade ribeirinha. Não aceita menores de 10 anos.
COMO CHEGAR? Uma hora de avião de Manaus até Tefé (não incluído), mais 1h30 de lancha até o hotel.
Com hidromassagem no deque, o barco faz dois roteiros desde Manaus: um de 2 noites pelo Rio Amazonas e um de 3 noites pelo Rio Negro (somados, ainda viram um de 5 noites). Há paradas para passeios de canoa ou caminhadas pela floresta.
COMO CHEGAR? Do hotel Tropical (Manaus) sai transfer para o embarque.
Entre as viagens mais confortáveis pela Amazônia, o Cruzeiro all-inclusive tem cabines espaçosas com varanda e de que com duas piscinas. Tanto no roteiro de 3 noites pelo Solimões quanto no de 4 pelo Rio Negro, há excursões diárias.
COMO CHEGAR? Basta se apresentar diretamente no porto de Manaus.
O barco regional que transporta carga e passageiros reserva pequenas cabines com beliche para turistas. Não há entretenimento a bordo ou água quente no chuveiro, mas a viagem de 10 dias entre Manaus e Letícia, na Colômbia, permite conhecer a realidade dos locais e fazer passeios durante o desembarque de mercadorias.
COMO CHEGAR? Há um traslado do aeroporto de Manaus até o embarque.
Reserve um dia para conhecer os edifícios do ciclo da borracha, sobretudo o Teatro Amazonas, e ver o Encontro das Águas do Rio Negro com o barrento Solimões, que não se misturam. Nos “cafés regionais”, prove o X-caboclinho, sanduíche de tucumã (fruto de uma palmeira) com queijo coalho.
Se você não for esticar a viagem para um lodge ou barco de selva, pode contratar receptivos como a Amazing e a Amazon Explorers, que organizam passeios de um dia para ver botos-cor-de-rosa, visitar aldeias ou fazer canoagem nos igapós e igarapés.
MATO GROSSO
A floresta se espalha até o norte do Mato Grosso, onde a única base servida de voos é Alta Floresta. Muitos dos que desembarcam ali estão interessados na pesca, mas a rica biodiversidade da região – com influências do Cerrado e do Pantanal – é outro belo atrativo. Nessa parte alta da Amazônia, os rios raramente alagam a mata, o que facilita a observação da vegetação e dos animais. Como só há uma opção de lodge, espere encontrar a natureza intocada.
Fica na reserva do Cristalino, uma área preservada de mais de 11 mil hectares. Com instalações luxuosas e um de que flutuante sobre o rio, organiza trilhas e passeios de canoa para observar a variedade de árvores, répteis, mamíferos e aves.
COMO CHEGAR? Em 1h, vans levam de Alta Floresta para o Rio Teles Pires. Depois, são 30 minutos de barco.
PARÁ
A Amazônia ganha novos elementos ao alcançar o Pará. No encontro do Rio Amazonas com o Atlântico, por exemplo, a Ilha de Marajó tem mais búfalos (600 mil) do que seres humanos (500 mil). A ilha, a maior fluviomarinha do mundo, combina passeios ecológicos por manguezais com banhos de rio. Porém, o destino da floresta com as praias fluviais mais badaladas é Alter do Chão, o “Caribe Amazônico” – um lugar para relaxar nos bancos de areia cercado por águas cristalinas, com a mata ao fundo.
Em Soure, principal vila de Marajó, o hotel está instalado em um imóvel de 1896. Organiza tours não incluídos na diária, como a caminhada para ver aves e macacos e o passeio de canoa seguido de montaria de búfalo.
COMO CHEGAR? São 2h de lancha de Belém.
Em Alter, tem instalações simples, compensadas pela piscina e pela localização: está rodeado de mata em frente a uma praia exclusiva do Lago Verde.
COMO CHEGAR? Há transfer do aeroporto de Santarém.
Seu grande diferencial é a localização de frente para a Ilha do Amor, considerada a melhor praia de Alter do Chão. É possível apreciar a paisagem de alguns quartos e da piscina.
COMO CHEGAR? O hotel tem traslado do aeroporto de Santarém.
Com apenas nove cabines, o barco navega por 4 noites pelos rios Tapajós e Arapiuns, saindo e voltando de Alter. Há paradas para conhecer comunidades locais, ver botos-cor-de-rosa, aproveitar as praias e fazer passeios de canoa pelos igarapés.
COMO CHEGAR? Há transfer do aeroporto de Santarém até o embarque.
Sensação da gastronomia, a capital paraense revela seus sabores em dois caprichados dias. Comece pelo Mercado Ver-o-Peso, que tem frutas como bacuri e cupuaçu, ingredientes como o tucupi e uma feira só de peixes. Siga para a modernizada Estação das Docas, almoce no restaurante Lá em Casa, que serve o típico pato no tucupi, e caminhe até a Cairu para saborear um sorvete de frutas silvestres.
De lá, conheça a Cidade Velha, o Theatro da Paz e a Basílica de Nazaré, antes de provar o tacacá da Dona Maria. Dedique o dia seguinte ao Museu Goeldi, centro de pesquisa da fauna e flora amazônicas, ao belo Parque Mangal das Garças e ao Bosque Rodrigues Alves, que traz a selva para a cidade. No almoço, vá de Remanso do Bosque, um dos melhores restaurantes regionais do país.
FAQ AMAZONICO
Quanto tempo ficar?
Quatro ou cinco dias costumam ser suficientes para fazer os passeios essenciais dos lodges e cruzeiros. No Pará, a llha de Marajó e as praias de Alter do Chão merecem três dias cada. Se puder, acrescente um ou dois dias na capital (Manaus ou Belém).
Passa perrengue?
Salvo exceções, como o Malocas Jungle Lodge e o M. Monteiro, as hospedagens têm energia elétrica, água quente e, nas mais confortáveis, ar-condicionado nos quartos e wi-fi nas áreas comuns. Já o sinal de celular costuma ser raro.
Dá para levar crianças?
Os pequenos conseguem acompanhar bem os passeios e terão uma oportunidade inigualável de contato com a natureza. Porém, os hotéis, lodges e barcos não mantêm estrutura específica para crianças, como kids club ou equipe de recreação.
Preciso tomar vacina conta a febre amarela?
Sim, e a até dez dias da viagem, para fazer efeito. Com o recente surto da febre em macacos do Horto, em SP, a procura pela vacina aumentou muito, por isso é bom providenciá-la num posto (grátis) ou em uma clínica o quanto antes. Quem já tomou, mesmo há muitos anos, não precisa se preocupar mais – a validade é vitalícia.
Serei devorado pelos mosquitos?
Nos arredores do Solimões, as picadas são constantes. Já no Rio Negro, a acidez da água dificulta a reprodução dos mosquitos.
Vou ver animais?
Não é tão fácil observar animais na Amazônia quanto no Pantanal. Nos passeios, mais voltados para a contemplação da natureza, há chances de ver pássaros, jacarés e alguns macacos – outros mamíferos, só com sorte.
Como é a comida nos lodges e barcos?
Há sempre pratos típicos da Amazônia, alguma opção de peixe fresco e, para agradar a todos, arroz, feijão e frango ou carne vermelha. As frutas locais aparecem em sucos e sobremesas.
O que levar?
O calor pede protetor solar, chapéu, óculos de sol, roupas leves e de banho (para se refrescar no rio). Para as caminhadas na mata é essencial usar calça comprida, meia e tênis. Também leve repelente, capa de chuva, dinheiro e, para se distrair à noite, livros e revistas.