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Rafael Tonon colaborou com Anthony Bourdain no site Explore Parts Unknown e coordena o Mestrado em Comunicação Gastronômica do Basque Culinary Center, no País Basco. Autor do livro 'As Revoluções da Comida', vive hoje entre Portugal e Abu Dhabi – e viaja o mundo para comer
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elBulli: o influente restaurante reabriu, mas não serve mais comida

O mítico restaurante ao norte de Barcelona comandado pelo celebrado chef Ferran Adrià foi convertido em museu

Por Rafael Tonon
Atualizado em 24 set 2023, 11h39 - Publicado em 25 abr 2023, 14h05
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  • Os amantes de gastronomia do mundo todo que um dia peregrinaram pela estrada que liga Barcelona ao interior de Roses para comer no restaurante mais influente do século já podem voltar a encher o tanque do carro para refazer o percurso. O elBulli, comandado pelo celebrado chef catalão Ferran Adrià, reabriu as portas em junho — mas desta vez não servirá nenhum tipo de prato.

    Agora batizado de elBulli1846, o espaço virado para o Mediterrâneo e que abrigou aquele que foi o epicentro da gastronomia molecular se transformou em um museu; as experiências gastronômicas que aconteceram ali ficarão na memória dos que tiveram a sorte de conseguir uma mesa até o restaurante fechar, em 2011.

    O buldogue francês, 'bulli', deu nome ao restaurante, uma homenagem que Adriá prestou aos primeiros donos do imóvel, aficionados pela raça
    O buldogue francês, ‘bulli’, deu nome ao restaurante, uma homenagem que Adrià prestou aos primeiros donos do imóvel, aficionados pela raça (elBulli/Divulgação)

    Quem visitar o novo ambiente, porém, vai poder ter uma dimensão do que era servido e entender por que o elBulli transformou os rumos da alta cozinha como a conhecemos. Foram 1846 receitas criadas nos últimos seis anos em que o restaurante permaneceu aberto (a referência do novo nome vem daí).

    O museu tem dois espaços: uma área externa com vista para o mar com 2.500 metros quadrados e, no interior, a mítica casa caiada que serviu como salão com 1.200 metros quadrados, que abriga outra parte do acervo. 

    São 69 instalações artísticas, conceituais e audiovisuais que contam a história do restaurante. Entre os objetos expostos estão desde cadernos usados por cozinheiros que passaram por ali e hoje se tornaram muito famosos (como o basco Andoni Luis Aduriz, do Mugaritz, em San Sebastian, no País Basco) até 114 desenhos que Adrià pintou a partir de 2012 em sua casa em Barcelona usando tintas e cotonetes.

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    Salão do elBulli: quem comeu, comeu. Quem não comeu, se contenta com o museu
    Salão do elBulli: quem comeu, comeu… (elBulli/Divulgação)

    Logo na entrada, há uma homenagem aos bullinianos, com os nomes de todos os cozinheiros que passaram por ali e ganharam a alcunha por terem feito parte da famosa equipe. Também estão disponíveis os 23 (dos 53 previstos) livros que compõem a “bullipedia”, o mais ambicioso acervo de gastronomia já publicado no mundo, com 17.500 páginas. 

    A um custo de €27,50 a entrada, o museu tem um tempo médio de visita de 2 horas e meia e há audioguias em francês, inglês, espanhol e, claro, catalão. Para chegar ao restaurante, vans (chamadas de elBulli bus) levam os turistas do charmoso e pacato centro de Roses até a Cala Montjoi, onde o edifício — que consumiu um investimento de 11 milhões de euros — está localizado. Quem estiver de carro pode ir direto e estacionar.

    A incrível vista para a Cala Montjoi, em Roses
    A incrível vista para a Cala Montjoi, em Roses (elBulli/Divulgação)
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    Utensílios que foram primeiro usados pelo elBulli em uma cozinha profissional — como sifões, desidratadores, liofilizadores — também estão à mostra, assim como manuais técnicos de como utilizá-los. Adrià e sua equipe mudaram a linguagem da alta cozinha moderna ao unir avanços da indústria alimentar com a gastronomia.

    Onde ficava a cozinha, um telão exibe vídeos de como era o trabalho que acontecia ali quando o restaurante ainda estava aberto: ambicioso e minucioso, Adrià sempre quis registrar tudo o que se fazia ali, como todos os métodos e receitas criadas por sua equipe. Também há uma sala das contribuições do restaurante para os utensílios e o design na gastronomia, de louças a seringas, de colheres vazadas às pinças que se tornaram presentes em todas as grandes cozinhas do mundo. 

    elBulli galeria
    A história da gastronomia molecular contada em documentos, livros e experimentos (elBulli/Divulgação)

    O museu também é uma ode ao pensamento bulliniano, em que inovação sempre foi ingrediente principal e que gerou novos braços, como a própria fundação (elBullifoundation) que gere tudo o que envolve o universo criado por Adrià, incluindo o sistema Sapiens, uma metodologia desenvolvida para “conectar conhecimentos e compreensão”, como explica o site. 

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    “Criar é não copiar”, lê-se em um neon de uma frase destacada em uma das paredes do novo espaço. O elBulli foi uma revolução na gastronomia, um restaurante tão importante para entender os movimentos das cozinhas na última década que virou, quem diria, até museu.

    Aos que quiserem aproveitar o trajeto e matar, de certa forma, alguma saudade dos pratos do elBulli ou ter uma ínfima ideia do que era a comida servida ali (e sobretudo não voltar para Barcelona com o estômago roncando), uma dica é reservar uma mesa no Compartir, em Cadaqués, que fica a meia hora de carro de Roses. O restaurante é gerido por três bullinianos (Oriol Castro, Eduard Xatruch e Mateus Casañas) e é uma herança direta do DNA que ainda se mantém a partir da gastronomia concebida por Adrià (Riera Sant Vicenç s/n, Cadaqués / +34 972 25 84 82). O restaurante também aluga três pequenos apartamentos, uma pedida e tanto para passar a noite em um dos vilarejos à beira-mar mais encantadores da Espanha.

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    elBulli 1846

    Funcionamento: 15 de junho a 16 de setembro de 2023

    De 2ª a sábado das 9h30 às 20h.

    O museu organiza um passeio com duração de 7 horas que inclui também uma visita a bordo do Tren Turístico Cultural Roses Exprés ao Parque Natural del Cap de Creus, uma das paisagens naturais mais bonitas da Catalunha; informações aqui

    Para mais dicas, me siga no @tononrafa

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