Passar o verão em Floripa sempre foi jogar com a sorte. Não tem erro: chove sempre. Mas não lembro de ter visto uma situação como a de agora (minha família mora na ilha há 30 anos e desde o início da pandemia tenho intercalado meu home office entre São Paulo e lá).
Cheguei em Floripa em meados de dezembro e, desde então, não teve uma semana de tempo firme. O lado “bom” é que os dias cinzas inibem as aglomerações nas praias. O lado ruim para o turista é ter que mofar no hotel ou se enfurnar em um dos três shoppings, o Iguatemi, o Floripa e o Beira-Mar. Mas para quem mora na ilha, o pior tem sido conviver com os estragos que os temporais têm deixado. Em janeiro, o total de chuvas registrado foi mais do que o dobro da média esperada para o mês, um recorde histórico.
E não foi só em janeiro. Ano passado no dia 30 de junho aconteceu um evento meteorológico inédito e surreal, um ciclone bomba. Pareceu uma cena como a dos furacões que atingiram o Caribe em 2017. A tempestade pegou não só a ilha em cheio, mas várias regiões do estado. Na minha casa tivemos que subir alguns móveis e tirar água da sala com rodo e toalhas. Algumas telhas de barro voaram e uma árvore de mais de 20 anos e 5 metros de altura só não tombou porque tinha raízes profundas, mas acabaram vindo à tona com a força do vento. O estrago nem foi dos piores se comparado a outras regiões da cidade.
Desde junho acendeu um alerta lá em casa. Tanto que eu me inscrevi para receber mensagens da defesa civil no celular. Corta para janeiro. No último dia 24 foram 9 alertas ao longo de um único dia. Começou com “Atenção, risco de alagamento e enxurradas para a sua região”, seguido de “Descargas elétricas pontuais” e terminou com um “Alerta máximo, risco de deslizamentos”. Choveu em um único dia o equivalente ao que era esperado para o mês inteiro.
O pior aconteceu na Lagoa da Conceição, um dos lugares mais lindos da ilha. No dia 25 uma lagoa artificial contendo esgoto tratado da empresa de águas da cidade, a Casan, se rompeu. A água escoou por uma servidão, invadiu 35 casas e formou um córrego em plena avenida das Rendeiras, a via principal do bairro, que ficou interditada. O lugar onde a água estava depositada é uma área de proteção ambiental e faz parte do Parque das Dunas da Joaquina.
Mas por que um post para falar de tragédia? Acho importante saber o que se passa no lugar onde passamos férias. Se não houvesse pandemia, muito provavelmente a ilha estaria transbordando de turistas e esse episódio da Lagoa da Conceição poderia ter tido consequências ainda mais desastrosas. Mas no fundo escrevo para lembrar, mesmo que seja chover no molhado, que a alta temporada nem sempre é a melhor época para visitar um destino turístico.
Floripa sempre foi melhor a partir de março. O tempo fica firme, os preços dos aluguéis e dos hotéis reduzem um pouco e o trânsito fica menos pior (não se iluda, Floripa tranca o ano inteiro, seja na Beira-Mar, na ponte, na SC-401, no sul da ilha). Abril ainda dá praia e, com sorte, maio ainda tem o “veranico”. De maio a julho, costuma acontecer a safra da tainha e a cena de pescadores puxando as redes na praia dos Ingleses com aquela luz de inverno é um momento quase sublime. Não existe fim de tarde mais bonito do que em junho e julho, principalmente em Santo Antônio de Lisboa, bairro do qual falarei nos próximos posts.
Se o que você procura é garantia de tempo seco no verão, aposte no Nordeste ou deixe para organizar a sua viagem para Floripa de última hora, de preferência depois de consultar as previsões do meteorologista Leandro Puchalski; clique djá.
Em Florianópolis existe toda uma sabedoria popular que envolve os ventos (o nordeste é o predominante e muito bem vindo porque refresca), as marés, a chuva e a influência desses fenômenos na pesca e na plantação. Um dos sábios no assunto é o meu vizinho, Fausto Andrade, um manezinho da gema e dono do restaurante Samburá. Ele tem uma explicação para a chuvarada deste início de ano. Tudo começou na primeira lua nova de agosto do ano passado e o que aconteceu, no caso, foi muita chuva. Esse episódio definiu as sete luas novas seguintes, todas “molhadas”. Segundo ele, a partir de março o tempo vai firmar. Melhor, sugiro que você assista o Fausto falando sobre o assunto com muito mais propriedade, clique abaixo. Ah, mas antes, saiba que desde 1 de fevereiro o céu tem amanhecido azul e glorioso. A ilha e o turismo agradecem.
Conte aí: fabricio.brasiliense@abril.com.br