Os pais
Este fim de semana foi uma enxurrada de manifestações de amor aos pais no Facebook – uns xingaram os seus, mas a-ba-fa. Pensei em colocar uma pro meu, mas ele nem tem Facebook. Desisti. E o que isso tem a ver com viagens? Tudo.
Quando eu era criança, o meu pai trabalhava muito, mas muito mesmo, estudava, era duro e tinha quatro filhos – depois viramos cinco, mas daí ele não era nem tão duro nem tão jovem. Ele sempre teve energia pra fazer coisas com os filhos (passear, fazer lição de casa, desenhar, assistir a Os Waltons, andar na rua, tomar sorvete…), e acho que parte do tesão que tenho por bater pernas por aí veio dele. Segue, pra você que reclama de falta de tempo, uma lista para provar que dá pra fazer muita coisa sem muito tempo nem dinheiro. Estas coisas enfeitam minhas lembranças infantis e, com certeza, me ajudaram a virar a viajante curiosa que hoje sou. Lá vai:
• Acordar cedão pra pegar um trem na Estação Júlio Prestes até Mauá e ainda voltar pra casa para o almoço. Uma lembrança especial: uma vez ele disse pra eu olhar pela janela e ver o tanto de cebolinhas que tinha lá fora. Juro, achei que fossem muitos clones do Cebolinha, o da Mônica! Que decepção. Achei que tinha sido sacanagem dele e só anos depois fui entender que era uma plantação de cebolinhas. Toda vez que vejo plantações pela janela lembro disso e dou um sorriso.
• Dar milhos pros patos no Parque da Luz.
• Comer coxinha ou esfiha, num boteco na Praça da Sé, toda vez que íamos ao pediatra ou dentista (com direito a tirar cada pedacinho de cebola que aparecesse no recheio).
• Zoológico, quando ainda era beeeem baratinho.
• Brincar nas pracinhas da Casa Verde, bairro onde a gente morava.
• Dar rolês nas ruas do mesmo bairro pra “colher” flores dos jardins das casas velhinhas (aquelas com santo na varanda) e sair correndo quando éramos surpreendidos.
• Assistir juntos aos desenhos da Disney e fingir que não percebia que uma lagriminha escorria do meu olho toda vez que tocava When You Wish Upon a Star.
• Comer pastel de feira mordendo um pedacinho em cada ponta pra soprar e fazer a fumaça sair do outro lado como se fosse um navio a vapor.
Termino a minha lista lembrando do meu segundo pai, meu sogro, que teve uma Kombi antiga (pra não falar velha, caindo aos pedaços) e com ela atravessou o país carregando a família, criando memórias que rendem risadas até hoje.
Que estas boas lembranças se mantenham intactas até o fim, amém.