Corria o ano de 1824 quando o empresário português José Ferreira Pinto Basto decidiu se enveredar em novos negócios numa área em que não tinha a menor experiência: a da fina porcelana. Tudo o que sabia era quem eram as maiores referências mundiais e que queria obstinadamente uma coisa: sucesso.
Os primeiros anos foram de tentativas, muitos erros e poucos acertos. Mas de repente a sorte começou a mudar. Vieram artistas do estrangeiro, as técnicas foram sendo aprimoradas e nascia assim uma das maiores joias portuguesas de todos os tempos: a porcelana Vista Alegre.
Desde sempre o complexo da fábrica ocupou o mesmo espaço à beira-rio de Ílhavo, cidadezinha a poucos minutos de Aveiro (leia mais sobre a “Veneza portuguesa” neste post aqui). Ali, desde o início, formou-se o bairro operário, com tudo o que tinha direito: casas para os funcionários, uma capela, um teatro, o palacete dos proprietários.
Continua tudo lá – e hoje esta história é narrada no incrível Museu Vista Alegre, completamente reformado e reinaugurado no final do ano passado (junto com um ótimo hotel da marca que será tema do meu próximo post).
O acervo de peças inclui de experimentos em vidros e técnicas frustradas de vitrificação até coleções assinadas por grandes nomes das artes e da arquitetura…
…de objetos de coleção (ainda hoje a marca tem um clube de colecionadores que tem acesso a peças numeradas e restritas) a serviços oferecidos a reis e rainhas.
Percorrer as 14 salas dedicadas às peças é como viajar no tempo pelas tendências artísticas de cada época. Eu particularmente adoro os exemplares art nouveau.
Também se vê um pouco do dia a dia dos antigos operários e se conhece um pouco do ofício – logo na entrada, por exemplo, fica um incrível forno de meados do século 20 – impressionante ver como era alimentado com carvão e como ficava vitrificado por dentro com o uso.
Mas o highlight é ver como trabalham os minuciosos artistas que, ainda hoje, pintam as peças mais finas à mão. Uma a uma. Durante a semana, quando a fábrica está aberta, é possível conhecer de perto o trabalho ultra delicado deles. Imperdível.
Já do lado de fora do museu, sob a sombra de frondosas árvores, estão as outras pérolas locais: a Capela de Nossa Senhora da Penha de França, mandada construir pelo bispo D. Manuel de Moura Manuel em finais do século 17, recheada com incríveis painéis de azulejos, afrescos, pinturas e um túmulo que é considerado verdadeira obra de arte…
… o teatro que até hoje recebe espetáculos…
… e lojas: um enorme showroom e uma loja de fábrica com peças em promoção (oba!).