House of Corto Maltese: o bar mais legal de Lisboa
Quer saber o que era ser hipster antes disso ser hipster? Entre e peça um gin ao Felipe
Antes que fosse hipster ser hipster, a House of Corto Maltese ocupou um armazém de 1810 no Cais do Sodré, que ainda não era um bairro hipster. A região, na Baixa lisboeta, apenas ensaiava deixar os dias de boemia e frequência duvidosa para trás, mas ainda estava longe de se tornar o point badalado que é hoje.
E lá estava Felipe e sua barba ruiva hipster, suas garrafas exóticas e sua decoração… hipster (perdão), para “prestar uma homenagem aos marinheiros e piratas que um dia habitaram esta zona”, segundo ele justifica.
Explica-se: todo o ambiente foi inspirado nos quadrinhos do italiano Hugo Pratt, criador do personagem Corto Maltese, um marinheiro aventureiro nascido na ilha de Malta que empresta nome ao bar.
Mapas velhos, garrafas antigas e cordas dividem a cena com aqueles que foram provavelmente os primeiros televisores inventados pela humanidade, que ainda exibem imagens riscadas (mas de videoclipes atuais), mesas com máquinas de costura, ventiladores, malas.
Foi paixão à primeira vista. A primeira vez que passei na porta e vi todo este caos divino uma força inexplicável me atraiu para dentro e desde então eu não consigo parar de voltar – mesmo que o gin custe um preço diferente a cada visita (e que você nunca saiba qual é até pagar a conta) ou que Felipe use o mesmo copo, sem lavar, para repor o drinque “porque assim fica melhor”.
Uma ida à House of Corto Maltese nunca é igual a outra. Ainda que eu me sente sempre na máquina de costura e me surpreenda sempre da mesma maneira com a instalação sonora psicodélica dentro do microscópico banheiro, o que vai no copo é sempre diferente. Às vezes é zimbro, às vezes tem bitter, às vezes tem casca de limão ou de laranja. Às vezes. Porque tudo depende da inspiração de Felipe.
O horário de abertura também depende da inspiração de Felipe. Teoricamente é às 21h de terça a domingo. “Mas não fala para ninguém não, às vezes eu só chego às 22h, mas geralmente eu abro.” Teoricamente fica aberto até as 2h. E se você vai ficando, lá no fim o Felipe pode servir um de seus segredos: um Porto “muito louco”, um shot de rum da Amazônia capaz de levantar defunto.
O bar do Felipe nunca está lotado (mas tem sempre umas 2 ou 3 nacionalidades representadas), e assim é que é bom. Ele sempre te olha com cara de quem está te vendo pela primeira vez, mas lá pela segunda frase de conversa saca de uma história que você contou numa das primeiras visitas, com riqueza de detalhes. Não, não é blasé, é… hipster.
A House of Corto Maltese fica na Rua da Boavista, 118, no Cais do Sodré. Não aceita cartões, nem de débito – só cash.
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