Alguns anos atrás, logo que me mudei para Aix-en-Provence, onde vivi por um ano e meio, eu escrevi um texto com muitas razões para fazer de Aix a base ideal em uma escapada na Provence.
Eu era suspeita para falar. Tinha acabado de alugar uma casinha linda no centro histórico, estava aprendendo francês, andando de bicicleta e mergulhando no universo das feiras de rua.
Pois bem. Agora, com a distância de alguns anos e já morando em outro país eu reafirmo: Aix é mesmo a melhor base na Provence. E um dos meus cantinhos preferidos no planeta.
Poderia haver mil motivos para dizer isso. O clima de cidade do interior mesmo com o tamanho (cerca de 200 mil habitantes), a arquitetura, os mercados de rua, as mil fontes, a localização estratégica para explorar das praias da Côte D’Azur aos vilarejos do Luberon, o astral de cidade universitária, os museus, os restaurantes estrelados…
Mas eu vou focar noutro ponto, este menos passível de avaliações sensoriais: Aix é a cidade de Paul Cézanne. Ponto. Junte isso a todas as descrições anteriores e… voilá!
Cézanne nasceu em Aix em 1839. Viveu em vários endereços da cidade. Estudou em Aix. E pintou – muito – por lá. A Montanha de St-Victoire, que emoldura a paisagem da cidade, foi sua grande musa inspiradora.
Apenas nove de seus trabalhos originais estão em sua cidade natal, no Musée Granet. Mas é nas ruas que se vive Cézanne. Sabendo disso, o turismo da cidade organizou a Rota Cézanne – e marcou todos os pontos da cidade que lhe dizem respeito com uma letra C dourada.
Ela está lá em todas as suas casas. No cemitério onde está enterrado, o de Saint-Pierre. No primeiro colégio que frequentou, o Mignet. Em seu restaurante preferido, o Les Deux Garçons, em pleno Cours Mirabeau, em funcionamento desde 1792.
Mas de todas as atrações a mais impressionante é o Atelier Cézanne. Entrar no estúdio onde ele pintou até morrer (em 1906) é como entrar em seus quadros.
Está ali a mesma luz, os mesmos objetos. Vê-se tudo pelos mesmos ângulos retratados pelo mestre.
Um pouco acima do museu fica escondida uma preciosidade pouco conhecida: em um labirinto de casarões residenciais fica o mirante que se abre para a montanha de Sainte-Victoire, onde Cézanne pintou várias de suas obras. Réplicas de algumas delas estão lá, no ponto exato escolhido pelo pintor. E ainda tem as feiras, os restaurantes estrelados, os museus…