Mochila Pride

A jornalista Ludmilla Balduino leva na mochila uma vontade de percorrer o mundo ocupando as ruas, conhecendo o diferente, conversando com as pessoas e trocando boas ideias
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Como a empatia pode revolucionar as suas viagens (e o mundo)

Empatia é um sentimento tão grandioso, tão poderoso, que é necessário senti-lo mais quando viajamos - e quando vamos comprar pãozinho na esquina, também

Por Ludmilla Balduino
Atualizado em 28 nov 2017, 12h11 - Publicado em 24 mar 2017, 16h50

Peço licença a você para usar este espaço em que me torno uma pequena ~influenciadora digital~ para cravar a palavra de 2017: empatia.

Não estou cravando que 2017 é o ano da empatia. Mas uso aqui o meu pequeno poder de influenciadora numa tentativa de cravar essa palavra na sua mente, e pedir que, nesse resto de 2017 – e no resto da sua vida -, você pense mais sobre o sentido dessa palavra. Sobre o que ela realmente significa.

Empatia é, segundo o dicionário Aulete, “experiência pela qual uma pessoa se identifica com outra, tendendo a compreender o que ela pensa e a sentir o que ela sente, ainda que nenhum dos dois o expressem de modo explícito ou objetivo“.

Tenho escutado muito essa palavra, empatia, em grupos de discussão sobre o feminismo. Vou usar um exemplo prático sobre como a empatia pode ser aplicada entre as mulheres:

Eu sou branca. E sei que existem mulheres negras. Eu sou de classe média. E sei que existem mulheres pobres. Também sei que existem mulheres negras e pobres. Até aí tudo bem. Eu só analisei os fatos e coloquei cada mulher no seu quadrado.

Conhecendo os fatos, eu parto para a próxima fase. Que é deixar a empatia aflorar, vir à tona, tomar conta do meu ser, das minhas ideias, dos fatos, do concreto, da razão.

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Pode ser assustador deixar um sentimento tomar conta da razão, mas eu te convido a praticar esse exercício, que – você vai perceber – de irracional, não tem nada.

Esse sentimento de empatia, de se ver na outra mulher, de tentar sentir o que ela sente (eu nunca vou sentir o que ela sente de verdade, porque eu não sou ela), de tentar entender o que ela pensa, de me libertar de mim mesma e me entregar à ela, este sentimento é o que transforma os fatos.

Esse sentimento, de tentar entrar na pele da outra, de buscar compreender a outra, sem que tomemos conclusões vindas de nós mesmas, mas que deixemos as conclusões em aberto, para que sejam preenchidas por todas nós – é isso que nos torna humanas. Nos torna maiores, mais poderosas.

E assim, deixando-me levar pela empatia, é que eu, mulher, branca, de classe média, compreendo as implicações do que é ser mulher, negra, pobre.

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Eu entendi o outro me colocando no lugar do outro. Isso é magnífico. É grandioso.

A empatia, essa coisa magnífica, grandiosa, pode ser estendida para as nossas viagens.

Uma das maneiras mais fáceis de sentir empatia pelo outro é conversando. Uma conversa franca, leve, sem que um dos lados pese sobre o outro.

Todo mundo já teve conversas assim, em que parece que a gente se sente mais energizado, mais emocionado, mais feliz, durante e momentos depois que a conversa termina. Essa energia, essa emoção, nada mais é que a empatia fazendo bem no seu corpo. E ela pode durar até mais do que momentos. Pode durar a vida inteira.

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A empatia não é só verbal. Para o caso de a conversa ser impossível, por questões de idioma, por exemplo, a empatia pode ser praticada de diversas maneiras: através da visão, do tato, da expressão do corpo.

A empatia acontece quando você fixa o olhar em um estranho que passa por você na rua, e recebe o mesmo olhar, aquele olhar carregado de humanidade, de volta. Ou no momento em que você troca sorrisos com uma senhorinha sentada no fundo do vagão do metrô.

É mais fácil sentir empatia quando viajamos, principalmente quando vamos a algum lugar desconhecido e que sempre fez parte do nosso imaginário, até a gente chegar lá e “ver tudo com os nossos olhos”.

Quando viajamos, estamos mais abertos a conhecer este desconhecido tão misterioso, tão instigante. Nos libertamos mais para conversar com locais, ficamos mais encantados com a novidade, com as conversas cheias de pontos de vista diferentes das nossas, e abraçamos essa grande riqueza da novidade como uma experiência que vamos levar para a vida.

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Duas pessoas diferentes dão as mãos
(Kenneth Lu/creative commons/Flickr)

 

Dá para praticar a empatia em qualquer lugar do mundo: numa viagem para a Etiópia, quando nos deparamos com pessoas vivendo em condições de sub-pobreza, ou em uma viagem para um gigantesco parque de diversões em um país muito rico, em que tudo parece (reforço: parece) ser de mentira.

Sentir empatia é desanuviar a mente dos pensamentos nebulosos que nos tornam tão individualistas, tão centrados em nós mesmos. O sopro refrescante da empatia nos liberta dessa nuvem e assim, ao nos colocarmos no lugar do outro, conseguimos enxergar que nós queremos a mesma coisa. Cada ser humano quer a mesma coisa. A humanidade quer a mesma coisa. Seja na Etiópia, na Disney ou na esquina da sua casa, a humanidade é uma só e só quer uma coisa.

Essa coisa não é uma coisa palpável. Não é viver num mundo limpo, divertido e quase mentiroso, como um gigantesco parque de diversões. Não se trata de ter coisas, comprar coisas. É mais que isso. É uma coisa maravilhosa, grandiosa, e por isso mesmo, difícil de ser nomeada. É mais que felicidade. É a plenitude.

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Se é difícil nomear essa coisa única, plena e complexa, por outro lado é fácil sentir empatia. Basta deixar-se levar. Liberte-se do seu eu e esteja no outro. Vai te fazer um bem danado. Eu garanto que isso é revolucionário.

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