Acabo de ler um texto que gostaria muito ter escrito. A autora, Jessica Lee, é uma travel writer especializada em Oriente Médio e trabalha para o guia Lonely Planet. Lamento ter chegado atrasada (mandou bem, Jessica!), mas acho que ainda está em tempo de escrever a minha própria versão.
Ela acertou na mosca ao abordar a famosa arrogância do viajante que não se considera um turista (como se houvesse diferença entre uma coisa e outra). A autora, assim como eu, lamenta o “ir para dizer que foi” – a típica viagem de riscar itens famosos da lista, devidamente postados no Instagram. Mas se irrita na mesma medida com quem adota como objetivo de vida cultivar uma aversão a qualquer coisa que possa remotamente ser classificada como “atração turística”.
Topei com N supostos viajantes por aí e posso dizer que conheço o tipo. Quer ajuda para saber como reconhecê-los em 5 minutos de conversa? Fique atento a esses comportamentos:
O viajante não faz planos.
Você tenta puxar papo com o sujeito e pergunta. “Para onde você vai depois daqui?”. Ai ele suspira com um ar superior e diz… “eu deixo a vida me levar”.
O viajante não tem guia.
O guia é o inimigo número um do viajante, uma vez que ele atribui a esse vil objeto a sua e a minha presença nos lugares bacanas do mundo (e vocês precisam ver a cara dos viajantes quando eles descobrem que sou uma travel writer e que estou do lado obscuro da força).
O viajante não foi e não gostou.
Pirâmides do Egito? Taj Mahal? Disney? Ele jamais colocará os pés nesses lugares execráveis. Se todo mundo gosta, só pode ser ruim.
O viajante está em busca da verdadeira alma do lugar em questão.
Os lugares ganham fama por serem de interesse histórico-cultural ou por serem bonitos e agradáveis. Mas, segundo o viajante, os turistas aniquilam a alma desses lugares com a sua indesejável presença – coisa que obviamente não acontece quando o forasteiro é um viajante.
O viajante pagou menos que você.
Caso nós, turistas, tenhamos a honra de coincidir com um viajante em determinado local, pode apostar: ele pagou menos para estar ali.
O viajante só tem olhos para os locais.
Ele não quer saber de nós, turistas. O viajante só quer saber de conversar com os locais, jantar onde só os locais jantam, frequentar os bares onde só os locais bebem.
*Adriana Setti admite ser acometida por surtos de viajantice de vez em quando mas garante: é e sempre será uma humilde turista que acredita piamente que isso não implica adotar um comportamento bovino ao colocar o pé na estrada.
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