Achados

Adriana Setti escolheu uma ilha no Mediterrâneo como porto seguro, simplificou sua vida para ficar mais “portátil” e está sempre pronta para passar vários meses viajando. Aqui, ela relata suas descobertas e roubadas
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Podemos voltar a falar de viagem?

Mais do que nunca, o conteúdo de viagem deve ser produzido com sensibilidade e responsabilidade

Por Adriana Setti
Atualizado em 22 set 2020, 12h52 - Publicado em 21 set 2020, 13h43

“Por que você sumiu do Instagram?”. Perdi a conta de quantos seguidores no IG @drisetti me fizeram essa pergunta nos últimos meses – e fico feliz que tenham sentido a minha falta! Alguns, inclusive, chegaram a ficar preocupados comigo. Afinal de contas, ultimamente quem some das redes sociais ou está cancelado ou está em uma bad. Meu caso foi o oposto disso. Ironicamente, sumi porque estava bem.

Ao fechar as fronteiras internacionais e impor quarentena a bilhões de seres humanos, a pandemia transformou viagem em tabu temporariamente – principalmente as internacionais. Como jornalista especializada justamente nesse conteúdo que se tornou impróprio, precisei me reinventar. No momento mais crítico (de março a maio) que vivemos na Espanha, foquei o meu trabalho em explicar o que estava acontecendo aqui, já que me encontrava em um dos países considerados um dos epicentros da pandemia – para quem estava no Brasil, trazia “notícias do futuro”. Mas, quando a situação começou a melhorar na Europa, lá pelo fim de junho, voltamos a ter uma vida bem próxima ao normal e já não via sentido em compartilhar tantas informações sobre a realidade espanhola com a audiência brasileira.

Ao mesmo tempo que as notícias sobre a Espanha deixaram de ser relevantes, achei que não era oportuno postar fotos e vídeos da dolce vita que estávamos levando à beira do Mediterrâneo pós confinamento (foi bom enquanto durou). Ao meu ver, isso não apenas era inútil (já que brasileiros ainda não podem entrar na Espanha), como ofensivo. Para quem está em quarentena, a imagem de um sujeito tomando sol na praia pode ser um gatilho. Anitta não pensou nisso enquanto ostentava sua viagem e mil rolês pela Europa vetada a brasileiros, mas Anitta é Anitta.

Ao passo que as restrições estão sendo flexibilizadas no mundo todo, acho que já podemos voltar a postar dicas e imagens de viagem. Mas, mais do que nunca, jornalistas, blogueiros e influencers precisam tratar esse conteúdo com sensibilidade e responsabilidade. Atualmente, acho que faz sentido falar de destinos para o “turismo de isolamento” (exemplos aqui, aqui e aqui), ideias para viajar com segurança, rotas para conhecer o Brasil de carro, novos hábitos do universo do turismo, entre outros assuntos. Já as viagens ao exterior, ferveções e afins, continuam quicando na área do cancelamento. Use seu filtro mental e não se deixe influenciar por quem já está rodando o mundo como se nada estivesse acontecendo.

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