Palau de la Música Catalana, em Barcelona: a casa de shows mais bonita do mundo
Um espetáculo no Palau de la Música Catalana é como um jogo do Barça no Camp Nou. Os fãs nem sempre são maioria no público e grande parte das entradas são vendidas a turistas ávidos por sentir a atmosfera do lugar. Ontem à noite, num show da cantora polonesa Kayah com a orquestra de música balcânica BGKO (algo bastante alternativo, digamos), a plateia estava cheia de japoneses, chineses e curiosos em geral, que não se decidiam entre olhar para o palco, para os lados ou para o teto mais bonito que a humanidade já concebeu. Considerada a grande obra-prima do modernismo catalão – o movimento artístico que revolucionou a estética de Barcelona entre os séculos 19 e 20 –, a obra tem brilho e poder de sobra para ofuscar orquestra, divas e deuses da música.
É mais barato do que você pensa
Ao contrário do que acontece no Gran Teatre del Liceu (a “ópera” de Barcelona), na plateia do Palau não rola muito glamour. Dá pra ir vestido informalmente na boa (ufa). As entradas também não são necessariamente caras. Obviamente, quando o artista em cartaz é super famoso, não tem mamata. Mas os show alternativos são bem acessíveis. Ontem, por exemplo, a entrada era preço único: € 26. E vale muito mais a pena ver um espetáculo, e sentir o lugar cheio de vida, do que embarcar num passeio guiado por € 18, vocês não acham? Aliás, dá uma olhada no meu Snap (drisetti) para ver o palco em ação no show de ontem, além de um filminho panorâmico.
Para quem estiver no modo “apressadinho”, vale pelo menos passar pela porta, pirar nas colunas do edifício (cada uma tem um desenho diferente de mosaico) e entrar no belíssimo café do saguão.
Agora, bonita mesmo é a sala de espetáculos, com seu órgão majestoso posicionado sobre o palco e a apoteótica luminária central que representa o sol. Os desenhos das paredes se fundem a esculturas e saltam, literalmente, aos olhos. Valquírias (e seus respectivos cavalos) surgem do teto. Um busto de Beethoven observa o palco. As colunas “jorram” flores, palmeiras, frutas. Montaner deve ter se divertido um bocado imaginando tudo aquilo.
Nem tudo em Barcelona é Gaudí
O “Palácio da Música Catalã” foi construído entre 1905 e 1908 pelo arquiteto Lluís Domènech i Montaner, uma figura tão importante e venerada quanto Antoni Gaudí. Ao contrário do autor da Sagrada Família, cuja personalidade arredia e obsessão religiosa o tornaram solitário e excêntrico, Montaner era engajado na sociedade da época. Ao mesmo tempo em que frequentava as altas rodas, transitava por várias outras ocupações. Era um desenhista talentoso, historiador da arquitetura, trabalhava em uma editora desenhando capas de livros, escrevia críticas de arte e se metia na política.
Seu legado é ainda mais vasto do que o de Gaudí. De suas pranchetas também saíram o Hospital Sant Pau e o projeto do Castell dels Dragons, edifício construído no Parc de La Ciutadella para a Exposição Universal de 1888. A obra revolucionária elevou o tijolo exposto, antes considerado vulgar, à categoria de belo. Também é de sua autoria a Casa Lleó Morera, uma das estrelas do Quarteirão da Discórdia – a quadra do Passeig de Gràcia onde disputa a atenção com a Casa Batlló, de Gaudí, e com a famosa casa Amatller, de Josep Puig i Cadafalch, outro gênio da arquitetura modernista. Mas sua obra-prima é, sem dúvidas, o Palau de la Música Catalana.
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