O inesquecível mergulho no Blue Hole em Belize
Uma circunferência perfeita de 130 metros de diâmetro desenhada em um azul profundo, contornada por uma delicada linha turquesa, no meio do mar. Esplêndido na famosa imagem aérea que é o cartão postal de Belize, o Blue Hole não é exatamente fotogênico quando se está ali, na cara no gol (a menos que você esteja voando). Com um pouco de imaginação, até é possível avistar parte do arco desenhado pelas bordas do arrecife. Mas não mais que isso. Para os mergulhadores, o buraco é mais embaixo.
A descida a um dos lugares mais cobiçados do mundo para a turma do cilindro começa com uma suave ladeira de areia branca. Mas a mamata dura pouco, e logo avista-se o despenhadeiro que leva a 120 metros de profundidade de uma tacada. A água fica subitamente muito mais fria e, acima de tudo, assustadoramente escura. Olhando para baixo, tive a nítida sensação de estar nadando rumo ao breu.
Segundo o procedimento combinado no barco, deveríamos descer diretamente a 40 metros de profundidade, tarefa na qual estava tão focada que já deveria andar pela metade do caminho quando tive a brilhante ideia de olhar para trás: na direção contrária à imensidão azul-quase-negra, era possível enxergar não só a parede em formações psicodélicas, mas também os meus companheiros. Relaxei, pero no mucho: perto de mim nadavam dois tubarões cinza de arrecifes de mais de três metros de comprimento. Muita gente os confunde com os agressivos tubarões-cabeça-chata, figurinha conhecida em Recife (medo!), mas o guia jurou (depois, obviamente) que a semelhança é mera coincidência.
Os tubarões, no entanto, estavam longe de ser o que mais me preocupava naquele momento. O que eu temia, de verdade, era que tico e o teco, dentro da minha caixa craniana, começavam a se desentender. Ao chegar aos 40 metros de profundidade, passei a sentir a famosa narcose por nitrogênio, que acomete algumas pessoas em mergulhos muito profundos. Para quem não sabe, a sensação é mais ou menos a de ter tomado umas e outras, o que não costuma ser recomendável quando se tem um arranha-céu de água sobre a cabeça (reza a lenda que cada 15 metros equivalem a uma dose de Martini — mas o meu, nesse caso, veio mais carregado do que o do resto da tchurma).
Mas o tempo que estaríamos tão fundo seria curtíssimo, 7 minutos. Então preferi seguir em frente (ao invés de subir um pouquinho, o que reverte a leseira) para não perder o melhor da festa. Um dos guias notou que eu andava meio “dãã” e chegou mais perto de mim, o que me deu mais segurança).
Ali no fundo encontram-se as estalactites gigantescas que são a grande atração da imersão (além dos tubarões, claro). O cenário é surrealista e, até hoje, intriga os pesquisadores, uma vez que esse tipo de formação costuma ser esculpida pela ação da chuva. Como aquilo pode estar no fundo do mar?
Passados 7 minutos, que pareceram segundos, era hora de subir (sim, o mergulho é curtíssimo), desviando de outros tubarões enormes, rumo à luz. No caminho de volta a Caue Caulker, uma dezena de golfinhos saltitou ao lado da lancha, seguindo-nos por alguns minutos. Diz a lenda que quando o sujeito completa 100 imersões, deve comemorar submergindo como veio ao mundo. Aquele havia sido o meu centésimo mergulho. Não dispensei a roupa de neoprene, mas aquela celebração definitivamente estava de bom tamanho.