Imagem Blog Achados Adriana Setti escolheu uma ilha no Mediterrâneo como porto seguro, simplificou sua vida para ficar mais “portátil” e está sempre pronta para passar vários meses viajando. Aqui, ela relata suas descobertas e roubadas
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Buscamos a realidade quando viajamos?

Ou será que vale tudo por uma boa foto ou uma selfie para postar nas redes sociais?

Por Adriana Setti
Atualizado em 16 jan 2020, 19h05 - Publicado em 13 nov 2015, 12h31
Maya Bay, na Tailândia, e seus milhares de turistas em um dia calmo (Siva Dayalan/creative commons/Flickr)
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Uma viagem pode ser realmente autêntica? Este é o tema deste texto publicado no New York Times pelo travel writer britânico Pico Iyer. O autor discute como a indústria do luxo busca cada vez mais proporcionar experiências permeadas por uma suposta “autenticidade”, como identificar o genuíno em tempos de globalização, entre outros assuntos.

Mas algumas frases do texto me levaram, novamente, para um tema que levantei recentemente aqui no blog. Falta realismo nos blogs e publicações de viagem? E mais: buscamos (e queremos) a realidade quando viajamos?

“A intenção de uma viagem é, no fundo, buscar a real confirmação de nossos sonhos irreais”, diz Iyer, exemplificando com uma situação hipotética (mas extremamente corriqueira) em seu país de origem, a Índia.

“Nossa noção dos destinos – o romanticismo e as imagens que projetamos sobre eles – são sempre menos atuais e sutis do que os lugares em si. Eis o motivo pelo qual desviamos as lentes dos shopping centers e da marca do Mc Donald’s em Varanasi e apontamos para os corpos próximos aos templos”. Na mosca.

Acompanhei tempos atrás pelo Snapchat a viagem da ótima Amanda Noventa (do Amanda Viaja) pela Tailândia. Também falei com ela pelo Facebook. A blogueira esteve notavelmente chocada com o que encontrou nas praias mais famosas da Tailândia. Ela mostrou imagens hilariantes (no quesito gargalhar para não soluçar) da absurdamente famosa Maya Bay, o cenário do filme A Praia.***

A não ser pela loira que se contorce no chão no afã de sair bem em suas trocentas selfies, não há ninguém que não esteja em pé. O lugar parece a Avenida Paulista na hora do rush. Esticar a canga ali, entre grupos enormes, implica risco de pisoteamento. Há tantos barcos atracados que mal sobra espaço para um mergulho no mar.

Ela também andou postando imagens da muvuca e depoimentos em que se revela francamente decepcionada com Krabi, Railey, James Bond Island e outros cartões postais tailandeses. “O que eu acho impressionante é que a Tailândia está super na moda no Brasil e ninguém fala sobre isso!”, disse Amanda. Na minha opinião, ela está prestando um BAITA serviço aos seus seguidores. Mas aposto que deve ter gente por aí dizendo que ela é cricri, que só está vendo o lado ruim da coisa… (Isso sempre acontece comigo quando posto opiniões sinceras sobre lugares que as pessoas se obrigam a amar).

“A realidade que almejamos é, em resumo, um fantasia em si mesma”, escreveu Pico Iyer. Eis a grande verdade. Palavra de quem aconselha pessoas em suas viagens há mais de 15 anos. Um exemplo? No final do ano, dois grupos diferentes de amigos irão à Tailândia. Disse a ambos que achava que Phi Phi (o arquipélago onde está a tal Maya Bay) seria uma roubada, principalmente na altíssima temporada.

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Ouvi respostas idências de ambos os grupos: “ah, mas tem que ir, né?”. Tem mesmo? Por quê? Adianta mesmo ir em busca da imagem idílica de um lugar, mesmo sabendo que ela já não existe daquela mesma forma? A julgar pelas fotos maravilhosas de Maya Bay (que enfocam o mar e certamente não a muvuca na areia) que temos visto nos blogs e nas redes sociais, o importante é seguir sonhando… e postando…

*** Maya Bay foi fechada para barcos de passeio depois da publicação deste texto. Saiba mais aqui.

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