Na última quarta-feira, o chiar das vassouras contra o assoalho do Fábrica de Pan, no bairro de Chueca, anunciava o inexorável: às 3 da matina, até os bares de Madri entregam os pontos.
Mas eu ainda queria mais.
Então me aproximei de um local cuja porta deixava escapar alguns feixes de néon e música eletrônica vagabunda. “Guapa, que esto es un local gay”. “Ah si, pero muuuuuuy gay?”. “Si, muuuuuuuuy gay”. Em outras palavras: “fofi, aqui menina não entra”.
Resistindo a ceder aos apelos das cervejas mornas vendidas na surdina por uma pequena multidão de chineses (confesso: se o caminhão da limpeza urbana não estivesse jorrando água por todas as ruas obrigando todo mundo a andar na pontinha dos pés eu ainda cogitaria a hipótese), resolvi caminhar um pouco mais. Até que, tcharan, encontrei, já na Gran Via, o tradicionalíssimo bar Museo Chicote A-B-E-R-T-O. Yupy!
“Garçon, duas cervejas”.
O bar man colocou duas Heinekens em cima do balcão. E a vida voltou a ser bela.
“São doze euros”.
“ANNNN? DOOOZE?”.
(Há menos de uma hora, eu havia tomado uma cerveja por 1,5 euro. E depois outra por 3, já achando caro, num bar bacanésimo.)
Sim, senhoras e senhores, só porque Hemingway e outros figurões da imprensa sentaram seus nobres traseiros naquelas cadeiras durante a Guerra Civil – e também Ava Gardner e Grace Kelly, em dias mais felizes –, este bar brega e decadente tem a pachorra de cobrar 6 euros por uma singela cerveja.
Run, Forest, run!