A mochila é uma questão de princípios
Ela foi minha fiel companheira de viagem durante 7 anos. Acompanhou a minha descoberta da Ásia, embrenhou-se comigo na América Central, atravessou o México de Norte a Sul, fez inúmeras expedições ao redor do Brasil e da Europa. Na África, ela passou a dar sinais de fraqueza. Fiz o que pude para salvá-la. Mas foi dela a palavra final: não aguento mais uma viagem. Inconsolável, abandonei a minha mochila no quartinho das tralhas.
Antes de embarcar para a Austrália, no final do ano passado, precisei comprar uma mala nova. Em princípio, uma tarefa banal.
Mala ou mochilão? A verdade é que a minha viagem pela Austrália não pedia uma mochila, já que estaria motorizada o tempo todo. Fazendo uma rápida retrospectiva dos últimos dois anos, também me dei conta de que não precisei muito das minhas costas nas últimas viagens. Não seria mais prático comprar uma bela mala de rodinhas, mais resistente e fácil de organizar? Seria. Só que eu travei. Tive que ir embora da loja. “Não, eu não estou preparada para dar este passo.”
Passei a semana seguinte com isso na cabeça. Mala ou mochila? “Vocês já estão de malas prontas?”. Perguntavam meus amigos. “Não, porque tive um surto na hora de comprar uma mala porque acho que isso é uma traição”. Cresça, Adriana (que fique bem claro que tenho 38 anos).
A verdade é que a mochila é, sim, uma questão de princípios, tenha você 20, 40 ou 60 anos. As alças chegam aonde as rodinhas não podem mais. A mochila é um ícone da liberdade, do improviso, do desapego. Ela só carrega aquilo que VOCÊ pode carregar. O supérfluo cabe na mala. Na mochila, não.
Voltei à loja de cabeça feita. Mochila. É claro que eu poderia manter o meu estilo de vida arrastando uma Samsonite. Mas faço questão de empunhar esta bandeira. Minha nova companheira tem rodinhas auxiliares, devo admitir. Mas tem também as alças que me permitem ir sempre adiante.
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