Certos dias – tipo hoje — eu sento para escrever e as coisas práticas não me inspiram. Dicas de hotéis, novos bares, restaurantes bacanas… Hoje não, vai? Então ligo a função shuffle (sabe aquela que toca músicas aleatórias no seu Ipod?) do meu cérebro e desenterro um assunto que não tem nem remotamente a ver com nada que vinha falando nos últimos posts. Senta que lá vem história.
Em março do ano passado fiz uma das coisas mais legais da minha vida: um safári de mergulho ao redor de Komodo, a ilha remotíssima na Indonésia onde vivem os temidos dragões carnívoros capazes de devorar um búfalo – e um ser humano.
A região é um dos melhores e mais intocados lugares do mundo para mergulhar. E também um dos raríssimos rincões do planeta onde é possível fretar um barco de mergulho com tripulação de 5 pessoas (incluindo Dive máster e cozinheiro), equipamento completo e duas lanchinhas auxiliares por 200 euros por dia para duas pessoas (no caso, meu namorado e eu).
O primeiro dia de mergulho foi perfeito: caímos direto em Cristal Rock, um dos melhores picos, com uma quantidade absurda de peixes e tubarões. Na manhã seguinte, prestes a conhecer um outro lugar lendário, éramos pura euforia. Até que… lá no horizonte pintou uma lanchinha esquisita, que foi se aproximando. À bordo, três sujeitos carrancudos, de óculos escuros. GLUP. Minhas retinas miraram direto a AK47 na mão de um deles. Lembrei da fama dos piratas da Indonésia e gelei. Gelei bonito.
Fomos abordados.
Os caras da tripulação franziram as respectivas sobrancelhas e começaram a discutir. Num mar de galan ulut bagaland katik batu galan, consegui identificar a palavra PATROL. Patrol! Patrol! Deve ser a policia (à paisana?)!
Mas isso não era uma boa notícia. Corta.
Minha empolgação antes de embarcar era tanta, que não dei muita bola quando o dono do centro de mergulho de Labuan Bajo, na ilha de Flores, sugeriu que começássemos a viagem mesmo sem pagar a taxa do parque nacional de Komodo – o sujeito tinha saído para dar uma voltinha quando passamos pelo guichê. “Mas a polícia não pode aparecer?”. “Pode”. “E dá pra comprar a entrada uma vez em alto mar?”. “Não, eles podem apreender o barco”. Entreguei pra deus.
Enquanto já imaginava os meus dias de sonho indo por água abaixo, os rapazes da tripulação tentavam argumentar. Mas os policiais mal encarados, e armados, não diziam uma palavra. Foi então que o capitão do barco fez a sua intervenção genial.
Sob um calor que roçava os 40 graus, abriu uma geladeirinha e tirou de lá três latas de Coca-Cola fumegando de geladas, uma para cada policial. Bastou o barulhinho tsssssshhhh e os três abriam enormes sorrisos. Todos caíram na gargalhada e alguns galan ulut bagaland katik batu depois, ganhamos o aval para seguir viagem. E eles ainda disseram “sorry”.
SEMPRE COCA-COLA!
Mais Komodo aqui no blog:
Cara a cara com o dragão de Komodo
Cara a cara com o dragão de Komodo, parte 2
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