Todos os anos, na última sexta-feira de junho, a população de uma pequena ilha de menos de 100 mil habitantes do Amazonas ganha não só os holofotes, mas também guindastes, gruas, brilho e muita pirotecnia. Turistas de todo o Brasil e de fora do país (a cidade tem seu próprio aeroporto) vão até lá acompanhar as toadas dos bois Garantido (vermelho) e Caprichoso (azul) no Festival de Parintins, sediado no município homônimo que fica a 369 quilômetros de Manaus.
São três dias de desfiles (sexta, sábado e domingo) de 2h30min cada que ocorrem no Centro Cultural Parintins, ou simplesmente Bumbódromo. Em 2024, o Carnaval do povo da floresta está marcado para 28, 29 e 30 de junho.
A Galera
Patrimônio cultural do Brasil, a festa popular reúne a “galera”, formada pelos torcedores de cada boi, que ficam na arena do Bumbódromo, única área gratuita e sempre muito disputada. A galera precisa dançar, usar os adereços, cantar e torcer efusivamente pela apresentação do seu bumbá para somar pontos na disputa.
A animação das arquibancadas não só conta para a nota final, como garante ao festival uma energia contagiante. Como no desfile das escolas de samba, os boi-bumbás são avaliados por dez jurados, especializados em antropologia e folclore que ficam com a tarefa de julgar 21 itens do desfile, analisando toadas, alegorias, coreografia, os personagens de cada agremiação e, claro, a galera.
Nos últimos tempos o festival ganhou ainda mais evidência por conta do Big Brother Brasil, quando a cunhã-poranga do Boi Garantido, Isabelle Nogueira, se tornou embaixadora do Festival de Parintins. Cunhã-poranga quer dizer “a indígena mais bonita da tribo” e sua entrada na arena é um dos momentos mais esperados do festival.
Um pouco da história de Parintins
Mas, apesar de ganhar cada vez mais destaque nos últimos anos, a festa é uma das mais antigas do país: sua história remonta ao início do século 20, quando já havia disputas informais envolvendo Garantido, Caprichoso e pelo menos outros cinco bois-bumbás.
A oficialização do festival ocorreu em 1966, quando um grupo de amigos católicos decidiram organizar uma festa para angariar fundos para a construção da Catedral Nossa Senhora do Carmo, a padroeira da cidade. Ali nascia o Festival de Parintins. A praça em frente à catedral vira um ponto de encontro durante a festa, que inclusive é chamada de Turistódromo, e ali são montadas estruturas com barracas de artesanato e um serviço de informação ao turista.
A Praça Cristo Redentor ou Praça Digital, junto à orla do município, é outro ponto de encontro importante por sediar apresentações e também por estar a um pulo do mercado municipal Leopoldo Neves, onde você pode comer o famoso xis-caboquinho, que leva queijo coalho, banana frita, manteiga e tucumã.
Como funcionam os desfiles do Festival de Parintins
Como na Sapucaí, cada boi-bumbá se apresenta com cerca de 3,5 mil integrantes divididos em 30 alas. Algumas das figuras a se destacar são o apresentador, que narra cada passo do enredo, a porta-estandarte, que leva o símbolo de cada boi, a sinhazinha, que é responsável por saudar o boi e a galera, e a cunhã-poranga, a índia guerreira e guardiã que expressa sua força por meio da beleza.
As alegorias do desfile são majestosas, especialmente a do boi, que tem uma média 12 metros de altura por 40 metros de comprimento. A música – ou melhor, as músicas – são um capítulo à parte: cada boi-bumbá canta até 20 toadas, canções curtas sobre a lenda do animal cultuado junto com a galera. O Garantido é o mais antigo (1913) e também o que detém mais títulos. Na hora da apresentação do rival, a torcida adversária precisa ficar quieta e não pode sequer dançar sob o risco de perder pontos – há fiscais na arena de prontidão que passam o pito em quem quebra as regras.
Apenas 5% dos ingressos do Bumbódromo, que também tem a forma de um boi, são vendidos – o restante fica reservado às galeras. Os ensaios começam seis meses antes nos “currais”, o equivalente às quadras da escola de samba.
Ver essa foto no Instagram
A lenda do boi-bumbá
O ritual do boi-bumbá conta a história do casal, Catirina e Francisco. Grávida e cheia de desejos, Catirina diz ao marido que quer comer a língua do boi mais bonito da fazenda, o preferido do patrão. Francisco mata o boi e é descoberto. Para salvar o boi, o casal chama o Pajé e o médico, que ressuscitam o animal. O boi volta à vida, o casal é perdoado e uma grande festa começa.
Saiba mais em festivaldeparintins.com.br