Itacaré sempre foi muito generosa comigo. Há quatro anos cogitei seriamente largar tudo e me mudar para lá. Viveria do arrendamento de um restaurante na principal rua da cidade. Estava tudo certo, mas, na hora da transferência da grana para a conta da proprietária do estabelecimento, o depósito bateu e voltou. Alguma coisa dera errado, e interpretei isso como um sinal negativo.
Fiquei na dúvida. Voltei para São Paulo no intuito de avaliar melhor essa decisão. Tudo mudou. Me apaixonei pela mulher da minha vida. Percebi que ainda tinha muito gás para retomar a vida frenética da metrópole. Itacaré continuou sendo “apenas” meu destino favorito de férias.
Ainda continuo por aqui, de onde batuco essas linhas cheias de saudades de lá. Um dia, quem sabe, eu siga os passos da maioria dos donos dos tantos restaurantes e das tantas pousadinhas de Itacaré. Mas, antes, vou ter que convencer minha mulher. Quem sabe ela se anime depois de ler esse texto?
Olha, é basicamente por isso que eu reputo a Itacaré o simbólico título de melhor destino do litoral brasileiro: Jeribucaçu é o que há. Praia idílica, isolada por uma trilha longa e desgastante. Traduz, em si, a essência de Itacaré. Porque, no fundo no fundo, esse destino do litoral sul da Bahia se resume, para mim, a lindas praias acessíveis por caminhos em meio à Mata Atlântica. Porque as praias mais bonitas do pedaço só se revelam assim, depois de uma boa caminhada.
Caso da Prainha. Da Engenhoca. De Havaizinho.
Itacaré tem também praias centrais, boas para aqueles dias em que a gente está sem essa vontade toda de fazer uma trilha. A da Concha, então, é um convite ao ócio. Além de ser a praia da cidade, nem onda quase tem. E ainda está cercada de cabanas: bebidas e petiscos à beira-mar. Fácil demais.Um pouco mais afastadas do centro, mas só um pouco, vêm Rezende e Tiririca, duas das favoritas dos surfistas. Formações constantes, ondas tubulares, iradas.
Até eu, totalmente “prego”, andei me jogando por ali. Até eu, totalmente sem noção, posso dizer que peguei onda em Itacaré. E foi demais.
Mais adiante vem a Praia da Costa. É bonita, mas me passa uma impressão de perigo. Sei lá, talvez por causa dos paredões de pedra que a cercam. Prefiro curtir a Ribeira, que vem em seguida. Aí, sim: essa praia me cai muito bem, escoltada pela Mata Atlântica como é. Por fazer parte da, digamos, “orla urbana” de Itacaré, a Ribeira tem certa infraestrutura turística, com mesas e cadeiras dos restaurantes do pedaço dispostas em suas areias. Mas nada que comprometa a tranquilidade de uma bela tarde de sol.
Para chegar à Prainha é preciso fazer uma trilha de cerca de 40 minutos – Foto: Ricardo Freire
Dali começa a trilha rumo à Prainha, esse sim um cenário digno de ensaios fotográficos para catálogos de moda. E não digo isso à toa, não. Coincidências acontecem, ok, mas o fato é que todas as vezes em que estive lá presenciei sessões de fotos e ensaios profissionais. Pois é, acho que os produtores de moda sabem o que estão fazendo.
E tem ainda Itacarezinho. Fica afastada da cidade, tal e como minha querida Jeribucaçu, mas é totalmente acessível, inclusive para quem vai de carro. O visual que se abre do alto da encosta antes de chegar à areia é qualquer coisa de encher os olhos.
Acho que é por isso que gosto tanto de Itacaré. Principalmente pelo astral de suas praias. Mas seria injusto não contar pra quem ainda não a conhece que lá tem também muitas cachoeiras, algumas ótimas para mandar embora todo e qualquer stress.
E tem mais: além do surfe, há esportes de ação como o rafting no Rio das Contas, o cascading na Cachoeira do Noré, tirolesa, arvorismo.O que fazer não é problema. Tem um monte de coisa para curtir. Mesmo quando chove. E olha que chove à beça em Itacaré. Quase todo dia. A Mata Atlântica precisa ser regada constantemente.
De chuva, ninguém reclama. Exceto os turistas sem consciência ambiental, que chegam a Itacaré em massa e ameaçam este paraíso. Tem época que a cidade fica saturada. Disso, sim, dá vontade de reclamar. Mas logo passa.